A morte lenta da cozinha portuguesa

O texto aqui publicado sobre a cozinha portuguesa e a sua morte anunciada provocou muitas reacções, de que destaco três.

A primeira é do médico José Fial, que vive e trabalha em França:

«Constato com tristeza que a gastronomia portuguesa está em vias de extinção. Não por ser desprovida de valor, mas por não ser promovida – num mundo mediatizado onde é mais fácil chegar aos olhos do que às pupilas gustativas das pessoas. A cozinha portuguesa é a cozinha do mundo, pois nela se encontram todas as cores e sabores da gastronomia mundial, fruto do intercâmbio entre a cultura portuguesa e a de mundos distantes, onde fomos os primeiros europeus a chegar. Desde as Américas à Ásia, passando pela África, não só trouxemos novos gostos como deixámos marcas na gastronomia desses países – como, por exemplo, o ‘vindaloo’ indiano, que provém do nosso ‘vinha d’alhos’. Todos sabem o que é um ‘fish and chips’, mas fora de Portugal poucos sabem o que é um ‘bacalhau à lagareiro’; todos sabem o que são os ‘calamares à la romana’, mas poucos sabem o que são as ‘lulas recheadas’; até o ‘croque monsieur’, que pouco mais tem que 2 fatias de pão de forma, é muito mais conhecido que a ‘francesinha’, apesar de serem primos um do outro… e a nossa representante ser bastante mais abastada. Isto prende-se com a deficiente promoção da comida portuguesa. É aqui que nós falhamos. Porque a nossa gastronomia (que a Lurdes Modesto tanto promoveu), é mesmo boa. Com frequência constato que o melhor souvenir que os franceses trazem depois de visitar Portugal é mesmo a qualidade da nossa comida (e os franceses são insuspeitos). E custa-me ouvi-los reclamar da dificuldade em encontrar um restaurante onde estejam seguros de comer algo tradicional português, tendo de enfrentar a ‘praga’ de pizzas, hambúrgueres ou esparguetes bolonheses que inundam os cardápios.»

A ilustrar a ideia de como se promove a comida lá fora o leitor envia um vídeo publicitário de um novo hambúrguer da McDonald’s, onde a novidade é o ‘portuguese sauce’. https://www.facebook.com/My.McDon vidéos alds//320681492205123/

Outro leitor, Cruz Sobral, proprietário com sua mulher de um restaurante em Braga com o seu nome, escreveu o seguinte:

«Foi com preocupação mas sem surpresa que li o seu artigo onde escreve que a cozinha portuguesa está condenada. Na verdade, assistimos diariamente ao funeral, prolongado, da gastronomia tradicional, a qual só os turistas que nos visitam apreciam e valorizam. No meu restaurante, que é o mais antigo de Braga – fundado em 1926 pelo meu avó, único recomendado há mais de 30 anos pelo Guia Michelin – continuamos teimosamente a assar cabrito e vitela no nispo, da mesma forma e no mesmo fogão a lenha mandado construir pelo meu avô no início do restaurante. É de lá que saem também as tripas à portuguesa com mão de vaca, e, na época, as papas de sarrabulho com rojões à moda do Minho. Bem como o bacalhau (cura amarela) à nossa moda de Braga.»

O email termina com um convite para visitar o restaurante. Igual convite me foi feito por José Nobre – que, com a mulher, a chef Justa, é co-proprietário de um conhecido restaurante hoje situado na Avenida Sacadura Cabral. Também eles lamentam o que está a acontecer à cozinha portuguesa.

Por seu lado, o cozinheiro, chef executivo e consultor Vítor de Oliveira escreveu:

«Grande artigo sobre a cozinha portuguesa ou a falta dela muito em breve. Com quem trabalho, defendo os produtos portugueses e, de preferência, de pequenos produtores. Mas não é fácil. Todo o sistema está gerido estrategicamente por 3 ou 4 cadeias de distribuição, que cada vez mais entregam nos restaurantes produtos perecíveis num estado sem qualidade mínima para confecção. Tudo o que diz no seu artigo é a realidade, mas ainda temos outro problema que agudiza as coisas: são os prémios e os guias de restaurantes. Temos somente 1 ou 2 entidades que gerem este negócio, com patrocinadores em exclusivo com interesses na área. Ora, estes prémios têm muito impacto no dia-a-dia dos restaurantes e na carreira dos chefs de cozinha. E para aparecer ou ganhar algo, é determinante a pertença a certos grupos ou… o factor financeiro. Deixo aqui uma ideia: integrar nas cantinas das nossas escolas os pratos tradicionais de cada município, pelo menos 1 vez por mês, e envolver os mercados municipais no seu abastecimento.»

 

ACP: a defesa da imagem

Sobre o relato de uma falha grave de assistência ao veículo de um associado, publicado nesta coluna, recebi do presidente do ACP, Carlos Barbosa, a seguinte carta, que reproduzo na íntegra:

«Caro José António Saraiva,

Vejo que tem estado de férias pois os temas não abundam…

Como refere na sua peça publicada nas páginas 4 e 5 do suplemento Luz do jornal Nascer do Sol de 27 de agosto de 2022, o ACP é, reconhecidamente, uma instituição que funciona bem.

Por isso lamentamos profundamente o ocorrido com o seu cunhado, com quem entretanto procurámos várias vezes conversar telefonicamente desde 2ª feira, embora sem sucesso, tendo já o caso sido analisado em detalhe e retiradas as devidas ilações.

Temos insucesso em assistências em apenas 0,2 % das mais de 80.000 que fazemos anualmente, pelas mais diversas razões.

Partilho este número abertamente porque, não sendo ‘0’, objetivo para o qual trabalham diariamente todos os profissionais do ACP, quer através da prestação direta dos seus serviços quer por intermédio do esforço que desenvolvem na sua monitorização e gestão, ele explica bem porque é que o ACP tem a boa imagem referida.

E, não retirando qualquer relevância a cada uma das situações em que as coisas não correm como esperado, ele traduz também a tremenda injustiça da generalização que, eventualmente em resultado do contacto pessoal com o caso, é feita ao encerrar o relato e ao escolher o seu título.

Para que possa conhecer melhor o Automóvel Club de Portugal e a amplitude e a qualidade dos serviços de assistência prestados, incluindo a avaliação aos mesmos feita pelos Sócios, que em 98% dos casos lhes atribuem a classificação de ‘Muito Bom’ ou ‘Bom’, tenho o maior gosto em convidá- -lo a fazer uma visita ao clube.

Com o objetivo de a combinarmos, procurarei proximamente entrar em contacto.

Um Abraço e até breve,
Carlos Barbosa
President and CEO Automóvel Club de Portugal».