O exemplo da Uber e como Neymar sabe fintar

Tenho tanta simpatia por Bolsonaro como por Lula, isto é: nenhuma e seria incapaz de votar num deles. Mas por que carga de água um é de extrema-direita e o outro não é de extrema-esquerda? E, já agora, Bolsonaro foi Presidente do Brasil durante quatro anos. Nesse período mandou prender alguém? Há presos políticos no…

Sempre fui cliente dos táxis, mas com a pandemia fui quase obrigado a instalar a aplicação dos ubers e afins. Durante algum tempo, tudo correu bem. Pessoas educadas, que perguntavam que estação de rádio queria ouvir, os carros tinham um aspeto impecável, e as viagens faziam-se tranquilamente. Só que tudo mudou no princípio do ano, altura em que comecei a apanhar motoristas mal educados, alguns que nem falavam português e ouviam a rádio do seu país, recusando mudar, sendo eu obrigado a ouvir a missa deles – tal qual os nossos táxis de há uns bons anos –, e a cereja em cima do bolo foi o constante cancelamento de viagens.

Quando pedia um Uber pela aplicação, recebia a notificação de que estava a x minutos. Passados esses x minutos, recebia outra a dizer que estava ainda mais longe do que no início, levando-me a cancelar várias ‘corridas’. Cheguei mesmo a assistir a uma situação de ameaça física de um desses motoristas – português, no caso – só porque alguém lhe pediu para não estar parado numa passadeira de peões.

Acontece que também os táxis, principalmente à noite, escasseiam, sendo por isso obrigado a tentar nas duas plataformas – alguns táxis também já funcionam assim. Como nas últimas semanas consegui mais rapidamente encontrar um Uber do que um táxi, perguntei a um motorista qual a razão para agora os ubers aparecerem num instante. A resposta foi pronta: «Sabe, a Uber institui agora prémios a quem faça muitas viagens. Por exemplo, no último fim de semana, quem conseguisse fazer 24 viagens entre as 20 horas e as quatro da manhã recebia um prémio de 95 euros. Também à tarde instituem um prémio de 30 euros para quem faça um determinado número de ‘corridas’».

Calculo que eu não era o único a lamentar ficar apeado porque os Ubers diziam que sim, mas depois não apareciam, aliado à falta de táxis. Não sei quem foi o autor destes incentivos, mas sei que o país precisa de aprender com essas pessoas. ‘Há um problema? Então vamos resolvê-lo. Os motoristas dos ubers só andam à procura de viagens longas, vamos incentivá-los a fazer curtas’. Simples e ficaz.

Resta-lhes agora ir correndo com aqueles que não cumprem as regras de asseio, educação e respeito pelas regras de condução. Calculo que se estivéssemos a falar de uma empresa pública seriam criados não sei quantos grupos de trabalho e nada se resolveria.

Esta semana ficou marcada pela troca de galhardetes políticos, sobre a magna questão de quem é de extrema-direita e quem não é – e já agora de extrema-esquerda. Li alguns textos bem interessantes, alguns com profundidade, mas ontem surgiu um episódio delicioso. O jogador Neymar anunciou o seu apoio a Bolsonaro e logo caiu meio mundo em cima do craque brasileiro, como se estivesse a fazer um pacto com a lepra. A resposta do jogador foi lapidar: «Falam em democracia e um montão de coisa, mas quando alguém tem um opinião diferente é atacado pelas próprias pessoas que falam em democracia». Nem mais.

Tenho tanta simpatia por Bolsonaro como por Lula, isto é: nenhuma e seria incapaz de votar num deles. Mas por que carga de água um é de extrema-direita e o outro não é de extrema-esquerda? E, já agora, Bolsonaro foi Presidente do Brasil durante quatro anos. Nesse período mandou prender alguém? Há presos políticos no Brasil? Não creio. Na Venezuela, em Cuba ou na Rússia sabemos que sim…

 

P. S. Taremi, jogador do FC Porto, arrisca-se a ser excluído do Mundial de futebol por se ter solidarizado com Masha Amini, a iraniana que foi morta pela polícia dos costumes. Isto sim, é uma atitude corajosa e que merece a minha vénia. Chamar nomes e catalogar  todos aqueles que não gostamos, como se faz na política, é fácil. Difícil é sofrer as consequências.

vitor.rainho@sol.pt