Maçonaria entra na guerra entre conservadores e progresistas da Igreja

Depois dos casos de abusos sexuais, a Igreja vive agora a ‘guerra’ da sucessão de D. Manuel Clemente, com a Maçonaria e o PS ao barulho. Pelo meio, deu-se um ‘verdadeiro assalto’ às caixas de esmolas e já há paróquias em dificuldades financeiras. Os fiéis são cada vez menos e o que dão não chega.

Maçonaria entra na guerra entre conservadores e progresistas da Igreja

Sem dinheiro – as receitas nunca mais foram as mesmas do período pré-covid –, com escândalos sexuais a sucederem-se a um ritmo alucinante, com guerras entre as lojas maçónicas – com o PS a ter um papel muito importante nesta matéria – e a Opus Dei pelo meio, a Igreja Católica portuguesa está num caminho muito nebuloso, que alguns comparam a uma Idade das Trevas, já que há mais escuridão do que luz. «A velha geração está a partir para o cemitério e a nova não está a encher as igrejas», exemplifica um teólogo ao Nascer do SOL.

Outros há que, ironizando, dizem que Dan Brown bem podia vir a Portugal fazer uma sequela do Código Da Vinci, tal é a matéria disponível para um novo enredo. Não é novidade para ninguém que acompanhe a vida cristã, que a Igreja está dividida entre aqueles que estão do lado do Papa e os outros que entendem que Francisco é «psicótico» e que a esquerda tomou conta das hostes.

Com a anunciada reforma do Cardeal Patriarca de Lisboa, para depois da Jornada Mundial da Juventude – que termina a 6 de agosto –, os conservadores e os progressistas têm-se posicionado na luta pela sucessão de D._Manuel Clemente. E é aqui que entra a história da Maçonaria e da Opus Dei. Quanto aos maçons, a ‘guerra’ é entre o Grande Oriente Lusitano (GOL) e a Grande Loja Regular, que procuram influenciar a nomeação do bispo que irá ficar com o lugar mais alto da hierarquia portuguesa.

Américo Aguiar, de 48 anos e nomeado pelo Papa Francisco bispo auxiliar de Lisboa em 2019, é o mais bem posicionado, pois já detém um enorme poder na Igreja. É o homem da Rádio Renascença e tem a seu cargo a organização da Jornada Mundial da Juventude, além de inúmeros cargos.

«É a pessoa que melhor se dá com o poder político, já que fala diretamente com o primeiro-ministro e com o Presidente da_República, além de ter grandes simpatias na Maçonaria. Não deve pertencer à Loja Regular mas tem grandes amigos por lá», explica fonte do Patriarcado. «Ele é o que faz melhor a ponte entre os conservadores e os progressistas, e tem uma ficha limpa», acrescenta a mesma fonte.

Apesar de poucos darem por ele, o bispo de Coimbra, Virgílio do Nascimento Antunes, aparece como outro dos nomes que estão na primeira linha para a sucessão de D. Manuel Clemente. Devido à inerência do cargo, é também conde de Arganil por direito de herdade. «Há quem diga que tem excelentes relações com o GOL de Coimbra e também se mexe bem nos bastidores», apesar de não ter sido nomeado arcebispo de Braga.

Outro nome falado é o de Rui Valério, bispo das Forças Armadas, supostamente ligado ao movimento conservador Missionários Monfortinos. A mesma fonte do Patriarcado diz que, eventualmente, irá acabar num futuro próximo na diocese de Setúbal, que está sem bispo há já algum tempo. Depois de 6 de agosto, quando a Jornada Mundial da Juventude terminar, será altura de as peças de xadrez serem mexidas, para ver onde acabam os bispos.

Tolentino em toda a parte

Há um nome que emerge em toda a parte e que é amado e odiado com a mesma força por progressistas e conservadores: Tolentino de Mendonça, apontado como o líder dos progressistas e que terá influenciado indiretamente as conclusões do inquérito mais polémico da Igreja, o célebre Relatório de Portugal. A Conferência Episcopal Portuguesa decidiu ouvir padres e leigos sobre o estado da nação católica e chegou à conclusão que muitos defendem o casamento de padres, a igualdade de género e a aceitação da comunidade LGTBi+.

Uma das conclusões a que chegaram os autores do documento final é de que é preciso que se alterem comportamentos para contrariar «uma Igreja pouco disponível para discutir de forma aberta e descomplexada a possibilidade de tornar opcional o celibato dos sacerdotes e a ordenação de homens casados e das mulheres, e ainda muito presa a um modelo teórica e doutrinariamente assente numa conceção tradicional e assimétrica que concebe o humano a partir do masculino».

Neste campo, a melhor imagem que ocorre é a das eleições angolanas! Porquê? Porque em Angola, na noite eleitoral, a UNITA foi divulgando os resultados que iam sendo afixados nas diferentes mesas de voto espalhadas pelo país, mas o resultado final deu uma vitória clara ao MPLA. E o que tem uma coisa a ver com a outra? É simples: os conservadores dizem que os resultados preliminares conhecidos apontavam noutra direção. Isto é, muitos dos católicos ouvidos não são adeptos da abertura da Igreja ao casamento de padres, à ordenação de mulheres e à aceitação da comunidade gay. 

«É óbvio que quem fez o resumo dos vários inquéritos optou por puxar pelo que uma minoria defendeu. Nota-se claramente uma necessidade de agradar ao lóbi gay, e de falarem em coisas em que nem eles acreditam», diz um padre de Lisboa, muito revoltado e acérrimo adversário do Papa Francisco.

Na altura, os padres Ricardo Figueiredo e Duarte da Cunha responderam às conclusões do Relatório de Portugal com um documento com o nome ‘Uma outra perspetiva sobre a Igreja em Portugal. Dizendo o que lhes ia na alma, dispararam:

«Pareceu-nos que, por razões que não sabemos, esse relatório não corresponde ao que estava nas sínteses diocesanas». Era difícil ser mais direto. Quanto ao casamento dos sacerdotes também foram claros. «É preciso reforçar a necessidade da santificação dos sacerdotes para mostrar o sacerdócio como caminho feliz de santificação e o celibato como identificação com Cristo».

Regressemos a Tolentino Mendonça e a outro dos lóbis por que os conservadores não morrem de amores: Capela do Rato, a mais próxima que há da sede do Partido Socialista e onde Tolentino foi padre. «É uma vergonha a influência que essa gente tem. Além de padres há muitos jornalistas – que durante anos disseram mal da Igreja e agora são empregados da mesma – ligados ao poder. E a Maçonaria também anda por lá», diz outro teólogo ao Nascer do SOL. 

«Tolentino de Mendonça teve uma das ascensões mais rápidas que há memória na Igreja, e, portanto, é natural que consiga influenciar o rumo da Igreja portuguesa. Ou será ele o futuro Cardeal Patriarca ou decidirá quem o será, até pela sua proximidade ao Papa Francisco». Não é preciso muito para se perceber que Dan Brown tem matéria para explorar…

O assalto à caixa de esmolas 

Com os escândalos de abusos sexuais a serem investigados e denunciados quase diariamente, algumas missas têm-se ressentido das ofertas dos fiéis. «Muitas paróquias estão com dificuldades financeiras, pois nunca se recuperou totalmente do período do confinamento. E agora com estes casos de abusos sexuais e com a crise financeira é natural que as esmolas sejam muito menores», adiante fonte do Patriarcado. «As receitas caíram a pique», acrescenta. 

O grande acontecimento da Igreja portuguesa será a Jornada Mundial da Juventude, altura em que muito se discutirá e se perceberá se os jovens estão ou não com a Igreja. Os organizadores temem que o evento sirva para a realização de manifestações contra a Igreja e contra a economia mundial, mas, sobretudo, em relação ao ambiente, pois é esperado que algumas organizações internacionais aproveitem a Jornada Mundial da Juventude para protestarem, apelando a mais medidas restritivas quanto ao consumo de energias fósseis. Está é para se saber como é que vão chegar a Portugal: se de avião, de carro, de bicicleta ou a pé, para não poluírem muito o planeta.

Certo é que quando se apagarem as luzes, D. Manuel Clemente deverá entregar a sua renúncia ao cargo, para poder dedicar-se à leitura e à escrita, como explica fonte próxima do cardeal patriarca de Lisboa. «Tudo isto num clima de grande expectativa, não vá rebentar em plena Jornada Mundial mais um escândalo com alguém conhecido na Igreja», como acrescenta a mesma fonte do Patriarcado.