COP 27 – Podemos ter esperança?

Os objetivos estão traçados desde a COP 21 (Paris, 2015) para se limitar o aquecimento global a 2ºC (graus celsius), e se possível a 1,5ºC, acima dos valores médios da época pré-industrial, mas a realidade contraria as intenções, conforme resulta do facto de apenas 29 países terem apresentado planos de redução, desde a COP 26…

1. Mais uma cimeira anual sobre o clima – desta vez a COP 27, a decorrer no Egito entre 7 e 18 de novembro, com a presença estimada de 110 presidentes e chefes de Estado. Guterres, como Secretário-Geral da ONU, fez o discurso de abertura e dramatizou a urgência da temática climática ao referir que «o planeta está a dar sinais de sofrimento», dado o aquecimento global. Segundo dados corroborativos da Organização Meteorológica Mundial (OMM), os últimos oito anos entre 2015 e 2022 serão os mais quentes de sempre.

Indiscutivelmente, para ultrapassar este problema, há que reduzir as emissões de dióxido de carbono. Os objetivos estão traçados desde a COP 21 (Paris, 2015) para se limitar o aquecimento global a 2ºC (graus celsius), e se possível a 1,5ºC, acima dos valores médios da época pré-industrial, mas a realidade contraria as intenções, conforme resulta do facto de apenas 29 países terem apresentado planos de redução, desde a COP 26 (Glasgow, 2021). 

Óbvio que todos olham para os Estados Unidos e China nesta problemática das emissões. Notícias veiculadas referem que se reuniram por estes dias durante esta Cimeira, mas as declarações vagas sobre a matéria e acusações trocadas, não deixam grandes esperanças. Entretanto, os Estados Unidos já anunciaram um projeto alegadamente inovador, a ser lançado em conjunto com a Rockefeller Foundation e o Bezos Earth Fund, que prevê gerar financiamento através de créditos de carbono. O tempo nos dará resposta sobre a efetividade das intenções.

António Costa também lá esteve e discursou, relembrando que apesar de na COP 21 se terem aprovado incrementos anuais nos financiamentos a conceder até se atingirem USD 100 MM em 2020, a realidade é que se prevê que apenas lá se chegue em 2023. Já na COP 26 (Glasgow), o tema tinha sido relembrado por idênticas razões, sendo então invocada a pandemia covid-19 como uma das causas. Hoje, temos a guerra da Ucrânia, mas as prioridades não poderão mudar, como muito bem relembrou.

Dos discursos iniciais, sobressaem notícias sobre a proposta feita pela ONU para a criação de um novo Plano de Ação de Alerta Precoce, concebido pela OMM com o objetivo de salvar vidas e reduzir perdas económicas devido a fenómenos climáticos extremos, que seria dotado de um investimento de 3,1 mil milhões de dólares entre 2023 e 2027. 

Outro tema em discussão, suscitado pelos países africanos, tem a ver com a urgência em se investir em África. Neste aspeto, a Nigéria tomou há muito a liderança (sobretudo no African Investment Forum 2022) ao propor-se desenvolver a exploração das suas imensas reservas de gás, indústria considerada como energia verde e importantíssima para a descarbonização. Embora conscientes que a pegada ecológica em África é menor que noutros continentes, relembram simultaneamente a vulnerabilidade que as consequências das alterações climáticas lhes podem causar. 

Em suma, aguardemos as conclusões desta Cimeira, relembrando a sensação de desilusão com que se fica das anteriores, porque muito pouco resulta das mesmas e do que realmente se pode considerar um sucesso, pouco se perceciona. Sejamos positivos, sobretudo pela preocupação que suscita a obrigação de todos em deixar um melhor planeta para as futuras gerações que serão as que irão sofrer com os indesculpáveis atrasos na execução das decisões que há muito foram tomadas.

2. E pronto, o PCP voltou a surpreender, no timing e na escolha de Paulo Raimundo, o seu novo Secretário-Geral. Literalmente novo, porque com 46 anos, é mesmo o mais jovem ultrapassando Cunhal, Carvalhas ou Jerónimo. Mas, como sempre sucede no PCP em que nada acontece por acaso, entroniza tudo o que o PCP mais acredita que precisa nas atuais circunstâncias em que as sondagens lhe são profundamente desfavoráveis, não atingindo sequer os 3% do eleitorado: as ligações aos sindicatos e às bases do partido.

Sendo funcionário da JCP desde os 18 anos e do PCP desde 2004, Raimundo é claramente um político que vem desde as bases e que teve o seu grande momento quando discursou na cerimónia dos 100 anos do PCP, mesmo assim passando despercebido para todos os que estão de fora. Seguramente ortodoxo, na linha estalinista que desde sempre o PCP perfilha, acérrimo defensor da luta de classes, é garante da oposição à União Europeia e à NATO.

Na hora da saída, depois de 18 anos de indiscutível liderança, Jerónimo de Sousa, um operário que passou agruras na juventude, foi uma figura que fez parte da nossa vida nestes anos de Secretário-Geral, em que curiosamente granjeou simpatias pessoais a (quase) todos, fosse qual fosse a cor política, conforme se nota pelos largos elogios agora recolhidos. Tivesse o PCP o poder que almejou em 1975 e que os líderes que idolatra tiveram nos seus países, esta simpatia pessoal perder-se-ia em minutos pelas razões que sabemos. Mas, como não teve e vivemos numa democracia, (quase) todos consideramos Jerónimo e lhe desejamos, sinceramente, uma velhice com saúde.

P.S. 1 – Sejamos objetivos: a realização do PRR está atrasadíssima! Não basta a ministra Ana Abrunhosa dizer que «tudo vai correr bem» e que é um lento processo administrativo. Como todos sabemos, há que ser bem mais célere nas tomadas de decisões, nas aprovações do Banco de Fomento aos projetos submetidos, provavelmente substituir os ‘empecilhos nas engrenagens’, porque o problema não é Marcelo ou Costa ficarem ‘chateados’, é mesmo não chegarem verbas, apenas por manifesta incompetência e o país não pode ficar parado.

P.S. 2 – O poder inebria! Não pode haver outra explicação quando se constata o tempo que demorou para Miguel Alves (Secretário de Estado Adjunto de António Costa) pedir a demissão, após dias e dias a ser ‘frito em lume brando’, sujeitando-se mesmo ser zurzido por Isabel Moreira, Alexandra Leitão e Ana Gomes, figuras gradas deste PS. Pelo menos, agora fica livre para demonstrar a sua tão reclamada inocência. Se a este desconchavo somarmos o recrutamento de um ‘jovem militante’ de 21 anos, sem qualquer experiência profissional para o gabinete de Mariana Vieira da Silva, a ganhar de início 3.732 euros mensais, perguntamos: não há decoro nem qualquer noção de quão ofensivo tudo isto é para tantos?