Igualdade e Retroativos. Enfermeiros cumprem mais dois dias de greve

Esta paralisação serve para exigir uma reunião com a tutela para que sejam negociados os aumentos salariais e o pagamento de retroativos. 

Por Filipa Aguiar

Os enfermeiros cumprem até esta quarta-feira mais um período de greve com objetivo de reivindicarem o pagamento de retroativos a janeiro de 2018 e a igualdade da carreira com os licenciados da administração pública. A greve foi convocada pelo Sindicato dos Enfermeiros Portugueses (SEP) e a adesão esteve ontem acima dos 65%, com alguns hospitais a atingirem os 100%. O presidente da estrutura sindical, José Carlos Martins, afirmou em declarações à Lusa que os primeiros dados recebidos indicavam que a adesão no Hospital Dona Estefânia, em Lisboa, rondava os 77,5%, no Hospital das Caldas da Rainha e Peniche chegava aos 94% e em Alcobaça aos 100%. Segundo o dirigente sindical, a urgência no Hospital de São José estava com uma adesão de 100% e 95% no bloco operatório. 

Os serviços mínimos abrangiam “situações impreteríveis”, como urgências, cuidados intensivos, bloco operatório (com exceção de hemodiálise e tratamentos oncológicos), os serviços mais afetados estão a ser as atividades programadas como as cirurgias e consultas de enfermagem. 

Esta paralisação de dois dias, que termina quarta-feira, segue-se a uma primeira ação de protesto realizada na quinta e sexta-feira, que, segundo a dirigente Guadalupe Simões do SEP, teve uma adesão global a rondar os 60%. “A expectativa é no mínimo o mesmo nível de adesão”, adiantou também à Lusa.

O i sabe que o plano de vacinação contra a covid também foi afetada por esta paralisação. Uma utente contou ao nosso jornal que tinha um agendamento para às 9h do dia de ontem, no Templo Hindu, em Telheiras, mas acabou por desistir depois de ter sido indicado que corria o risco de não ser vacinada devido à possível falta de enfermeiros. 

O SEP espera com esta greve que o ministro da Saúde, Manuel Pizarro, agende uma reunião para iniciar negociações destinadas a repor a igualdade entre a carreira de enfermagem e a do técnico superior da administração publica, alegando que se verifica uma discriminação em todos os níveis remuneratórios. 

Além disso, o sindicato reivindica o pagamento da reposição dos pontos da carreira com retroativos a janeiro de 2018 e não a janeiro deste ano como foi decidido, recentemente, pelo Governo. No início deste mês, o Ministério da Saúde, anunciou que, na sequência de negociações com os diversos sindicatos, cerca de 20 mil enfermeiros seriam abrangidos pelo descongelamento da progressão salarial, com o pagamento dos retroativos apenas a partir de janeiro de 2022. “Um impacto orçamental significativo” de 72 milhões de euros, segundo o ministro da Saúde. 

Vários enfermeiros assumiram à CNN Portugal que se sentem defraudados. “O que nos estão a fazer é roubar-nos (…) existe uma discriminação face a todos os outros trabalhadores da administração pública, porque houve um descongelamento das carreiras em 2018 e agora o Governo vem dizer que aos enfermeiros só paga a janeiro deste ano”. Os mesmos, afirmam ter “condições para mostrar ao Governo que tem obrigação de o resolver. Se ele não o resolver, não podemos de parte uma tentativa de resolver pelos tribunais”. 

Apesar das implicações da perda de salário dos três dias de greve, os enfermeiros continuam a mostrar ao Ministério da Saúde que é preciso soluções para os problemas. Para quarta-feira, está marcada uma manifestação à porta do ministério de Manuel Pizarro. 

*Texto editado por Sónia Peres Pinto