O ‘martírio’ de um país sem autoestradas

Marcelo condecorou a empresa cuja ‘concessão da construção, conservação e exploração’ de quatro autoestradas foi outorgada a 22 de novembro de 1972. No livro dos 50 anos da Brisa, Balsemão lembra bons e maus momentos.

Corria o dia 22 de novembro de 1972 quando o Governo outorgou à Brisa Auto-Estradas de Portugal «a concessão da construção, conservação e exploração» de quatro autoestradas com uma extensão de aproximadamente 350 km. Volvidos 50 anos, a concessionária de infraestruturas rodoviárias é homenageada em livro – assinado por Miguel Figueira de Faria e com prefácio de Francisco Pinto Balsemão – e também pelo Presidente da República.

Marcelo Rebelo de Sousa distinguiu a Brisa como Membro Honorário da Ordem do Mérito Empresarial – Classe do Mérito Industrial, entregando as insígnias a Vasco de Melo, acionista de referência, numa cerimónia no Palácio de Belém em que esteve também o representante dos acionistas holandeses maioritários e ainda Pires de Lima e restantes administradores da empresa.

«Há, pelo menos, duas gerações que ainda não esqueceram o martírio das deslocações mais longas pelas estradas deste país, antes das autoestradas da Brisa. Uma viagem de Lisboa ao Alto Minho ou à Guarda, por alturas do Natal ou da Páscoa, podia demorar 12 horas em filas intermináveis. Uma ida de férias para o Algarve, em pleno mês de Agosto, era uma torreira de horas de famílias enlatadas em carros sem ar condicionado», escreveu  Balsemão no prefácio do livro com a história da Brisa.

«No Parlamento surge a Ala Liberal liderada por gente nova com ideias frescas; na Sedes discutiam-se projetos de desenvolvimento com propostas mais ousadas; na comunicação social floresce a esperança de uma nova Lei de Imprensa (apresentada por Francisco Sá Carneiro e por mim e impiedosamente ‘chumbada’), a consagrar a liberdade de expressão, é lançado o Expresso, e alguns meios de comunicação (poucos) já se  atreviam a furar as malhas da censura. É neste ambiente que nasce a Brisa, em 1972», recordou Balsemão, mencionando tanto os períodos áureos como aqueles de maiores dificuldades da empresa que criou o plano estratégico Vision 25 e também apostou na Via Verde Portugal, na Brisa Áreas de Serviço e na A-to-Be.

«Por mim, só me resta realçar e agradecer os altos serviços prestados ao meu país pela Brisa e seus dirigentes e desejar-lhes um futuro igualmente brilhante. Um grande obrigado», concluiu, sendo que a Brisa tem vivido alguns períodos mais negros ao longo destas últimas cinco décadas.

Por exemplo, no final de junho do ano passado,  contrariou a versão apresentada pelo Ministério da Administração Interna (MAI) acerca do acidente que envolveu o carro que transportava o então ministro Eduardo Cabrita e que resultou na morte de um trabalhador, de 43 anos, que fazia trabalhos de manutenção na A6, no passado dia 18 de junho. Depois do acidente mortal, o MAI emitiu um comunicado no qual sublinhou que não houve qualquer despiste e que «não havia qualquer sinalização que alertasse os condutores para a existência de trabalhos de limpeza em curso». No entanto, a Brisa, responsável pela manutenção da estrada e que subcontratou a empresa Arquijardim, onde trabalhava a vítima, garantiu à SIC que os trabalhos na A6 estavam devidamente sinalizados.