Grupo Odebrecht paga cinco milhões para não ir a julgamento na Operação Monte Branco

O pedido da construtora foi aceite pelo MP e está nas mãos de Carlos Alexandre. A Bento Pedroso é uma das várias empresas apanhadas no caso que começou há dez anos e está prestes a ser encerrado pela justiça.

Grupo Odebrecht paga cinco milhões para não ir a julgamento na Operação Monte Branco

A firma de construção civil Bento Pedroso – que integra o grupo internacional de construção civil Odebrecht (de origem brasileira) –, uma das empresas constituídas arguidas após o desmantelamento pelo DCIAP (Departamento Central de Investigação e Ação Penal) e pela Inspeção Tributária de Braga da maior na maior rede suíça de lavagem de dinheiro e fuga ao fisco que operou em Portugal, pediu ao Ministério Público (MP) a suspensão provisória do processo. Em troca, apurou o Nascer do SOL junto de fonte judicial, a construtora está disposta a pagar o imposto que desviou dos cofres do Estado português fugindo ao fisco, ou seja, cinco milhões de euros.

O pedido foi aceite pelo MP, desde que a empresa se comprometa a cumprir determinadas condições, que serão agora apreciadas e, em princípio, ratificadas por Carlos Alexandre, juiz de instrução do processo Monte Branco – um caso que, dez anos e muitos processos depois, está agora à beira de ser encerrado pelo DCIAP.

Recorde-se que a subsidiária da Odebrecht era cliente de Francisco Canas, o intermediário da rede suíça, que aparentemente vivia da exploração de uma loja de medalhas situada em plena Baixa lisboeta mas que na verdade constituía um entreposto para o recebimento e a colocação de fortunas no estrangeiro, iludindo o fisco. Entre os portugueses que utilizavam os serviços da rede encontram-se nomes como os de José Paulo Pinto de Sousa, primo do ex-primeiro-ministro José Sócrates, o antigo ministro socialista Armando Vara e o banqueiro Ricardo Salgado (que aliás foi detido no desenrolar desta operação).

Como a Suíça tem problemas em colocar dinheiro em países da União Europeia sem identificar a origem dos fundos, a rede, liderada por Michel Cannals – ex-diretor executivo do banco helvético UBS, onde geria nomeadamente as contas conjuntas do magnata Lúcio Tomé Feteira e da sua companheira Rosalina Ribeiro, assim como de Domingos Duarte Lima (o ex-deputado do PSD acusado pelas autoridades brasileiras de ter assassinado esta mulher) – descobriu em Portugal uma porta das traseiras. Era aqui que entrava Francisco Canas, um septuagenário (entretanto falecido), que criou contas bancárias por onde circulavam as verbas.

 

Três das offshores  utilizadas também no Lava Jato

Foi pelas contas bancárias de Canas que entraram em Portugal, através de paraísos fiscais, 10 milhões de euros da Odebrecht que foram posteriormente levantados por dois dos seus administradores. Três das offshores utilizadas pela multinacional para encaminhar o dinheiro para Canas, a Arc Engineerin Ac. Services, a Fasttracker Global Trading e a Innovation Research Engineering, estiveram também no centro da Operação Lava Jato, que envolveu esta empresa na investigação brasileira deste gigantesco caso de corrupção de atores políticos não só do Brasil como de outros países.

Aliás, é das duas últimas offshores que, através do mesmo circuito, saíram 1,9 milhões de euros que, segundo Carlos Casimiro e Hugo Neto, os procuradores do processo EDP, estarão relacionadas com o ex-ministro de José Sócrates Manuel Pinho e a empreitada de construção civil da barragem do Baixo Sabor atribuída pela EDP à Odebrect através da Bento Pedroso Construções, em consórcio com o Grupo Lena (o qual, por sua vez, está envolvido no processo da Operação Marquês, no qual o antigo chefe de governo e líder socialista é acusado de corrupção, evasão fiscal e branqueamento de capitais).