‘A Igreja vive de esmolas, se o povo não tem esmolas para dar…’

É o bispo que está à frente da JMJ e acredita no sucesso do encontro, bem como do futuro da Igreja. Américo Aguiar é o nome de quem se fala.

Recebeu-nos na sede da Fundação Jornada Mundial da Juventude (JMS), que outrora albergou a Manutenção Militar de Lisboa. No seu gabinete não há luxos, estando em sintonia com o espaço. Tem uma fotografia sua no Corcovado, no Rio de Janeiro, ladeada pelos retratos de D. Manuel Clemente e do Papa Francisco. Com o seu estilo dinâmico, rapidamente nos trata por tu, e demonstra saber muito bem o que quer dizer. Sente-se que está feliz com a missão de organizar a JMJ e responde a tudo, nomeadamente sobre a sua passagem pela política, as clivagens na instituição, os boatos quanto à maçonaria, ou a sucessão do cardeal patriarca de Lisboa – embora houvesse a premissa de não se aprofundar o tema dos abusos sexuais na Igreja, mas já lá vamos. Com 310 mil inscrições de jovens que passaram a fase 1 e a previsão de 20 a 30 mil voluntários, D. Américo Aguiar mostra-se otimista. A segunda parte da extensa entrevista será publicada na próxima edição. 

Diz que há 310 mil que passaram a fase 1… 
A fase 1 significa que pôs o nome, manifestou interesse em participar, colocou mais alguns dados, mas não avançou mais do que isso. Não disse quantos eram, não pagou, não escolheu qual era o pacote que queria utilizar.

Vejo que tem algumas reticências em dizer quanto é que pagam. Porquê? 
Não há reticências nenhumas. Às vezes, a narrativa pode não ser a acertada. Nenhum jovem que queira participar na jornada e não se queira inscrever é impedido de participar. Ninguém paga para participar. Isto tem que ficar claro. Aliás, o histórico diz que por cada um que paga e que participa, vão dois ou três mais sem pagar. E não é o tuga de modo especial, é o histórico das jornadas. O que é que os jovens confiam à organização e pagam? Vamos imaginar um jovem que quer o pacote completo. Estamos a falar do alojamento durante essa semana, da alimentação, dos transportes, do seguro e do kit, o famoso kit destas jornadas. 

Kit?
É a mochila e aquelas coisas todas que lá estão.

Para isso quanto é que se paga? 
O máximo são 250 euros, mas quem quiser isto tudo e a semana toda. 

E nesses casos onde é que arranjam o alojamento? 
É identitário da Jornada Mundial da Juventude que o alojamento aconteça em contexto familiar, esgotadas as disponibilidades do contexto familiar passamos para espaços coletivos, sejam pavilhões, associações culturais, recreativas, desportivas ou militares. 

Está previsto um milhão. Acha que há pavilhões e casas de particulares que cheguem? 
Quanto aos números também temos um tabu. Não queremos criar falsas expectativas, nem queremos ser vítimas de correções de números. Temos trabalhado em três cenários: em baixa, média e em alta, que depende, infelizmente, do contexto da guerra em que a Europa está envolvida e depende da questão económica, acima de tudo. E temos ido ao continente americano, fomos a África e vemos uma grande disponibilidade, vontade e desejo de os jovens participarem. Mas há um grande obstáculo que se chama bilhete aéreo. Não tanto a inscrição da jornada, porque isso é até ultrapassável pelo fundo de solidariedade que a própria jornada tem e permite que jovens de países com dificuldades possam participar. O problema é a viagem aérea para muitíssimos destes jovens e quando trabalhamos estes cenários vemos que se, infelizmente, a guerra não for solucionada e se a economia estiver complicada, a jornada de Lisboa será vivida em baixa.

Quantas pessoas já se ofereceram para receber esses jovens? 
Mais ou menos daqui a um mês já temos o levantamento dos equipamentos coletivos: pavilhões, escolas, militares. Esse levantamento já está quase terminado e depois temos que ir trabalhando de maneira a ver qual é a disponibilidade do terreno e cruzar com aquilo que sejam as efetivas necessidades.

Quais são as preocupações em permitir que jovens fiquem em casa de pessoas que não conhecem? 
Isso é a marca identitária das jornadas. Inicialmente há um problema que é abrir as portas a desconhecidos. E nos tempos que vivemos, as pessoas têm muito medo e muito receio disso.

Mas depois há também o outro lado.
Este convite significa conhecer o que é diferente, o que é desconhecido e a entendermos o que é diferente, não como um obstáculo, mas como uma oportunidade, uma riqueza. E quando os jovens fazem a avaliação das jornadas em que participaram, o que é mais avaliado por eles, normalmente, é a vivência daquela semana com uma família do país onde estão e às vezes temos coisas muito engraçadas. Por exemplo, na Polónia, em que a língua não é propriamente fácil, em que os jovens chegaram e aquelas primeiras horas foram complicadas, no fim não falavam polaco nem português, mas uma coisa qualquer que dava para se entenderem. E ainda hoje há jovens que participam nas jornadas que mantêm uma ligação com essas famílias que os receberam. Por isso, aproveito esta oportunidade do SOL para convidar, desafiar e provocar os leitores a terem este gesto de abrirem as suas portas para acolherem os jovens. Precisam de dois metros quadrados de chão, não é preciso um SPA. São dois metros quadrados de chão, porque os jovens trazem sacos-cama, casa de banho para higiene pessoal e pequeno almoço. A partir daí, a responsabilidade é nossa, da organização. 
Conheço pessoas idóneas que já se inscreveram. Mas não há o perigo de pessoas sem escrúpulos se candidatarem?

Como se filtra isso? 
As famílias inscrevem-se nas paróquias. Há um questionário que é respondido para também fazer aí a triagem de qualquer situação que possa ser menos aconselhável para o encontro e enquadramento dos jovens. E este enquadramento, esta triagem, é feita em primeira instância pela comunidade, porque conhece as pessoas. Quando não há um conhecimento direto para avaliar a bondade daquela disponibilidade estamos a preparar metodologias, protocolos, de maneira a podermos aferir aquilo que é a idoneidade.

Não tem a colaboração da PSP e da GNR nessa matéria? Não vão ver o registo criminal da pessoa? 
Tudo o que signifique segurança de quem participa, de quem se disponibiliza, é feito no trabalho que temos de cruzamento com os serviços de segurança interna, do grupo de segurança com quem as jornadas trabalham. 

Disse que os jovens vão ter uma aplicação de telemóvel onde podem ir a restaurantes e chegam lá e não pagam. Podem pedir champanhe? 
[Risos] Quero agradecer à AHRESP o protocolo que assinámos de colaboração, porque a logística alimentar é o maior desafio que a organização tem, ao lado do alojamento. Será também uma oportunidade muito boa para a restauração, depois das dificuldades vividas na covid e no confinamento. Estamos a desenvolver a aplicação e cada jovem tem o seu QR Code no telemóvel e dirige-se a um restaurante, a um café, a um snack bar ou uma rulote, etc. que esteja protocolizada com a organização. Ao jovem é lhe oferecido o menu jornada. O McDonald’s da vida vai ter um menu jornada. O Burguer King vai ter um menu jornada, não sei se o Solar dos Presuntos vai ter o menu jornada e se a Tia Alice vai ter o menu jornada. O jovem vai a esse restaurante, a esse café e a solicita o menu jornada e essas refeições são debitadas à organização. 

Pode-se saber qual vai ser o preço que acordaram com a AHRESP?
Não acordámos preço nenhum com a AHRESP. Os preços são tratados diretamente, depois com cada uma das superfícies. 

São vocês que tratam?
Sim, somos nós que tratamos. Mas sabemos que estamos a falar de dezenas de milhões de euros. 

Sabe-se quanto é que o Estado vai disponibilizar para a JMJ e quanto é que vocês vão gastar? 
O Governo e as autarquias, aliás as assembleias municipais já divulgaram, nós terminando o nosso orçamento vamos torná-lo público. E podem-me acusar de tudo o que quiserem depois da jornada, só não quero que me acusem de uma… é de não de não ter sido transparente quanto aos benefícios. 

Em relação ao dinheiro, é público e notório que as caixas de esmolas ‘emagreceram’, onde é que vão buscar o dinheiro? As contribuições baixaram drasticamente.
Desde a primeira hora que sabemos que o desafio que temos em mãos ultrapassa aquilo que são as nossas capacidades humanas, principalmente humanas e também materiais. E temos trabalhado nestes últimos dois, três anos pedindo ajuda às empresas, aos particulares. E isto tenha acontecido, não numa dimensão daquilo que porventura tivéssemos imaginado ou desenhado no início desta caminhada, em 2019, mas muito mais diminuto daquilo que é a capacidade das famílias e dos particulares em poderem ajudar a organização da jornada. Mas também somos especialistas a trabalhar com um pouquinho de cada um para conseguir aquilo que é necessário.

Tem feito um grande trabalho com empresas privadas para ver se contribuem? 
Sim, de maneira a poder corresponder àquilo que são os encargos que estão à nossa responsabilidade. 
Porque as receitas da Igreja são menores do que eram. Não posso responder pelas igrejas, pelas paróquias, pelas dioceses. Não tenho funções que me permitam avaliar.

Mas tem uma ideia? 
Como cidadão, como católico e como praticante sei e constato que o que está a dizer corresponde à verdade e corresponde à verdade porquê? Porque isso é a verdade económico-financeira de qualquer português. Qualquer um sabe que a disponibilidade orçamental no dia-a-dia das famílias desceu drasticamente. E agora, quando temos os custos da energia, a inflação e a perda do poder de compra, é óbvio que isso significa muito, porque a Igreja vive de esmolas. Se o povo não tem esmolas para dar, significa que as receitas são diminutas. E também somos chamados à solidariedade e à caridade. Em relação às comunidades, infelizmente, devemos estar em alerta laranja para aquilo que significa, mais uma vez, sermos a almofada de choque de conforto para aquelas pessoas que vão ter dificuldades acrescidas no tempo que aí vem.

Se vão disponibilizar dinheiro que não têm ou que estão a tentar arranjar para este evento vão puxar a manta para algum lado. Dou um exemplo concreto: segurança. Se nessa altura, em agosto, temos concertos, espetáculos, se a polícia vai estar na JMJ não vai poder estar ali… Não há esse receio de que não consigam acudir a tudo com o dinheiro que vão gastar na JMJ? 
O que peço aos leitores é que não se esqueçam que a época do Natal é o nascimento, é uma criança, é a esperança, é a confiança e é o acreditar. Peço que deem o benefício da dúvida de aceitarem a Jornada Mundial da Juventude como uma coisa positiva e boa para os jovens portugueses e para a juventude do mundo inteiro e para Portugal em geral. Não façamos raciocínios de pensar e antecipar todas as maldades, todas as dificuldades e os problemas que vêm e que deixam de vir. E ai Jesus e ai meu Deus. Temos consciência do desafio que temos pela frente. É um desígnio nacional. Vamos acolher a juventude do mundo inteiro, independentemente de serem ou não católicos. O convite do Papa Francisco é para a juventude do mundo inteiro e as Jornadas Mundiais da Juventude têm sido um encontro de jovens do mundo inteiro, de religiões diversas, maioritariamente cristãos católicos, obviamente. E sabemos e estamos no terreno e tudo aquilo que possam ser ofertas diferenciadas nesse calendário – ainda há tempos ouvi que a Volta a Portugal em bicicleta alterou a data para não coincidir e não criar problemas logísticos – sabemos aquilo que são os promotores de festivais de verão, seja o Montez, seja o Covões, seja o Rock in Rio, que estão a fazer um esforço suplementar de não fazer coincidir os concertos para não criar dificuldades logísticas. Ou seja, acho que há um posicionamento pró-ativo positivo dos vários acontecimentos do calendário de maneira a que possamos ir. 

Mas isso partiu de si?
Sou um homem de fé e o Espírito Santo sopra, sopra quando há homens e mulheres de boa vontade. E o que posso dizer e significar é que encontrámos homens e mulheres de boa vontade em todos os interlocutores que temos procurado. Isso é uma coisa importante e gostava de conseguir que os portugueses se sentissem mobilizados, porque isto é uma experiência única, é muito bonita e é inesquecível para a vida destes rapazes e raparigas e para a vida das populações que os recebe. 

Temos assistido a estes escândalos de pedofilia e tem havido um certo afastamento de algumas pessoas da Igreja. As Jornadas da Juventude são uma espécie de balão de oxigénio? Há uma certa esperança que possa trazer os jovens para o seio da igreja? 
Acho que não faz sentido fazer causa-efeito de uma coisa com a outra. O que me conforta é o facto de a Igreja em Portugal ter tomado uma decisão certa, que foi avançar com a comissão independente que está a terminar o seu trabalho. Tenho um acordo tácito com Pedro Strecht. Aliás, sou membro da Comissão de Menores de Lisboa, que coordeno, um acordo tácito de não me pronunciar sobre o trabalho da Comissão, fazendo jus ao lema da comissão, que era dar voz ao silêncio. Está a terminar o seu trabalho e bem. A decisão da Igreja portuguesa avançar com a Comissão é acertada, o modo como decorreram os trabalhos, em que vão ser entregues os relatórios, tudo isso é positivo. Agora, um caso é motivo de grande sofrimento e de ensombrar aquilo que é o dia-a-dia da vida da Igreja. Um, 400, 500 ou 1000 é fazer a conta de multiplicar e cada um piora e agrava aquilo que é o sofrimento que temos de ter consciência que esses homens e mulheres, rapazes e raparigas tiveram. E termos a certeza, e falo daquilo que é Lisboa – que sou responsável da Comissão de Lisboa desde abril de 2019 –, que as pessoas podem ter a certeza que tudo o que fazemos é by the book, ou seja, tudo o que fazemos desde abril de 2019 corresponde às melhores práticas e aquilo que o Papa Francisco nos pede: tolerância zero, transparência total quanto aos casos que nos possam aparecer. Agora, há aqui os homens e mulheres que viveram esta circunstância. E por muito que possamos pensar que a Igreja sofre – e sofre quando há um problema na nossa família, a família sofre toda; se há um problema, se há um crime, se há um pecado desta monstruosidade é óbvio que todos sofremos –, nada se compara com o sofrimento daquela pessoa. Isto tem de ser algo certo e definitivo. Nada do que possa ser danos colaterais, sofrimentos, quebras de notoriedade, seja lá o que for da Igreja, nada, absolutamente nada se compara com o sofrimento que alguém possa ter vivido da parte de uma pessoa que para si inspirava total confiança, que para si era rosto e palavra de Deus, de Cristo e que foi exatamente o contrário. Não há comparação total e não há hipótese nenhuma de qualquer narrativa que vire as coisas ao contrário. Chegado o relatório, entregue o relatório, a conferência episcopal, os bispos diocesanos das dioceses portuguesas debruçar-se-ão sobre o mesmo. Estou convencido e acredito que tomarão as melhores decisões e as melhores medidas sobre o assunto. Quanto à Jornada, acho que não podia ser mais positivo esta transparência, este processo e esta averiguação. Estaria preocupado se não tivesse sido feita. 

Acha que a Jornada Mundial da Juventude pode trazer sangue novo para a Igreja? 
Sim, é uma oportunidade para o rejuvenescimento da Igreja Católica em Portugal. Tenho constatado, testemunhado com muita alegria e com muita esperança, aquilo que é encontrar jovens no interior, no interior desertificado, em tudo quanto é lugar, jovens que não estão nas paróquias, nem nos escuteiros, nem nos acólitos, nem em movimento nenhum, mas que se sentem atraídos e cativados, primeiro pelo Papa Francisco e, segundo, pela Jornada Mundial da Juventude. Ora, é uma oportunidade única de correspondermos a esta curiosidade e a essa expectativa destes jovens que abrem o coração e se disponibilizam a este encontro mundial de Juventude. Agora temos que nos converter, temos que ter a capacidade de corresponder a esta expectativa e a esta oportunidade que estes jovens nos estão a dar. Esta Jornada Mundial da Juventude é a primeira em que os peregrinos são todos nascidos a partir de 1990. 

Tem que ser a partir de 1990? 
Há um autor de Ciências da Comunicação que diz que quem nasceu a partir de 90 é nativo digital e quem nasceu antes – nós dois, no máximo, somos imigrantes digitais. É um desafio para nós comunicar, relacionarmos com os jovens que têm já um chip diferenciado daquilo que é a maneira de viver, de comunicar e de nos relacionarmos. O Papa Bento XVI, numa mensagem nas comunicações sociais, dizia uma coisa muito interessante: A Revolução Industrial provocou uma nova cultura e uma nova comunicação. Uma máquina a vapor. Ele dizia que a revolução digital vai produzir o mesmo. Vai produzir uma nova cultura, uma nova comunicação, uma nova organização da sociedade. E estamos a testemunhar isto. Aliás, a covid veio acelerar muitíssimo isto. Passámos a viver durante aquele ano e meio de uma maneira que acho que nunca nenhum de nós imaginou que em tão pouco tempo seria possível alterarmos tantos hábitos e tantos ritos da nossa vida. E temos um desafio que é comunicar e interagir com estes jovens e, às vezes, tenho a sensação que não os entendemos. E também tenho a certeza que, às vezes, eles não nos entendem. E a Jornada Mundial da Juventude é uma oportunidade única da Igreja Portuguesa e da Igreja do mundo inteiro de interagir, de comunicar e de nos entendermos cada vez melhor com estas novas gerações. 

Dentro da Igreja há duas correntes fortíssimas. Há uma corrente que fala do Papa Francisco com todo o entusiasmo e com todo carinho. E há outra que fala e até diz palavrões sobre o Papa Francisco. Acha que estas jornadas também irão sofrer esses confrontos de ideias na Igreja? 
Não. Duas correntes é pouco. Acho que há mais de duas. Há três, há quatro, há cinco. O meu muito querido Papa Francisco colocou-nos num processo de sinodalidade que é uma exigência, que é uma preocupação e que é uma urgência e que é uma necessidade de fazermos o caminho juntos, de termos a graça de nos entendermos com o que é diferente como uma riqueza e não como um problema. E isto implica mudanças muito significativas e temos que ter a coragem de acolher no nosso coração essa riqueza, porque isso é evangelho puro e o olhar para o outro, que é preto ou que é branco, que é gorda ou que é magra, que é cabeludo ou é careca, que tem nariz grande ou não tem, que tem orelhas ou não tem ou é isto ou aquilo, entendê-lo como uma ameaça ou entendê-lo como uma riqueza faz toda a diferença naquilo que significa que o Papa nos pede de uma fraternidade universal. E a Jornada também tem que ser escola de pedagogia para a riqueza de entender o outro, a riqueza de entender o diferente, como alguém que me provoca, de me aproximar e de permitir que ele se aproxime. Alguns de nós somos de um tempo em que o que é diferente é para ficar com o pé atrás, o que é diferente é obstáculo, o que é diferente é para recusar. O que tenho medo eu recuso. O que eu desconheço eu recuso e o Papa pede-nos esta fraternidade universal e pede-nos este caminho sinodal, que é falarmos uns com os outros, cada um expor a sua posição e depois sermos capazes de, mesmo com aquilo que nos diferencia, fazermos um caminho naquilo que é o essencial. Agora o que diz surpreende-me?

Continuando nesta matéria…
O que me diz, não me surpreende. Ando neste mundo, leio a imprensa e as redes sociais. Portanto, tenho plena consciência que este convite e este abrir da sinodalidade, aliás, é o objetivo dela que identifica e torna visíveis aqueles que são mais exímios, que são mais ousados, os que são mais para um lado, os que são mais para o outro. Mas nós, se chegarmos ao fim e nos entendermos como riqueza nessa diversidade de entendimento e sensibilidades… 
Então pergunto como viu as críticas, por exemplo, ao Relatório de Portugal da Conferência Episcopal Portuguesa, que dizem aqueles que não se identificam com o mesmo, que a síntese não corresponde à verdade, que há uma deslealdade de quem fez a síntese. Não sei se tenho possibilidade de dizer o que alguns dizem. Não comento comentadores.

Estou a falar de padres que deram a cara, fizeram um documento público. 
Primeiro temos que agradecer muito. Em cada paróquia, em cada diocese, o trabalho que foi feito de grupos, grupos pequenos, grupos grandes, de maneira a que cada diocese pudesse ter o seu relatório. E estamos a falar de centenas de milhares de pessoas que no nosso país foram ouvidas, partilharam, disseram, acharam e cada uma se manifestou da maneira que entendeu e cada diocese fez o seu relatório. Portanto, estamos a ver que centenas de milhares de pessoas se pronunciaram e depois resultaram 21 relatórios. 

Que depois foram analisados por quem? 
Esses 21 relatórios… a Conferência Episcopal Portuguesa convidou um grupo de trabalho para fazer um relatório.

Quem foi essa comissão?
Não sei dizer de cor. Mas isso é público. Na altura, o padre Manuel Barbosa divulgou os nomes dos membros da comissão que era o doutor Pedro Gil, da Opus Dei. Era a doutora Isabel Figueiredo da Renascença. Era o Dr. Paulo Rocha da Eclésia. Mas esses nomes são públicos. 

Não há mais nomes?
Eram quatro ou cinco. O que é certo é que, de facto, o relatório que eles fizeram funde os 21 relatórios das dioceses que traduz o sentir daquilo que possa ser a realidade da Igreja portuguesa quanto à consulta para o Sínodo, que não identifica aquilo que foi a leitura que outros sacerdotes, alguns de Lisboa, fizeram em relação aos mesmos relatórios. Eu não vi os relatórios das 21 dioceses. 

Eles dizem que a leitura foi desviada porque a maioria não quer que os padres possam casar, não querem que os casais divorciados tenham os mesmos direitos…. que a comunidade gay… São dois padres que dão a cara e penso que representam imensas pessoas. O que acha?
Não acho nada. Não vi os 21 relatórios das dioceses portuguesas. A Conferência Episcopal Portuguesa pediu a um grupo de trabalho que fizesse o resumo dos 21 relatórios e esse resumo foi apresentado. Também recebi aquilo que foi a leitura dos sacerdotes que fizeram esse relatório e aquilo que o meu sentir quer em relação a um quer em relação ao outro, é que há nuances do relatório que me identificam, há outras que não me identificam, mas nunca é fácil a quem é chamado a fazer um resumo de resumos de resumos que coincida naquilo…

Por que razão a Conferência Episcopal não publicou os 21 relatórios para calar, de certa forma….
Tem que se perguntar ao secretário da Conferência Episcopal. Algumas dioceses publicaram-nos. Não sei se todas, mas algumas publicaram-nos.

Está com problemas em falar do assunto. 
Não estou, eu explico. Sou bispo auxiliar de Lisboa. E estar-me a pronunciar sobre coisas da Igreja portuguesa, coloco-me graduado numa situação. Abertamente, não invejo o trabalho que aquelas pessoas tiveram de resumir 21 relatórios de dioceses num. Não invejo. Aliás, já é um milagre reduzir num relatório por diocese milhares de pronunciamentos. Agora, vi aquilo que foi o relatório, não sei dizer porque não conheço os relatórios das dioceses, se vai ou não vai ao encontro daquilo que é o essencial de cada relatório. E também vi aquilo que foi o pronunciamento dos sacerdotes, aliás, que tiveram a amabilidade de me enviar. Também vi e também é assim, se eles se debruçaram sobre os mesmos 21 relatórios e têm uma leitura diferente, olhe, o que podia aconselhar é que quer uns quer outros se pudessem encontrar para refletirem sobre as coisas.

Não acha que essas duas visões podem influenciar definitivamente o rumo da Igreja? Isto é, há mais abertura ou menos abertura…
O que quero, no fim da minha vida, é ajudar uma pessoa que seja a salvar-se. Com mais abertura, com menos abertura. O Senhor mandou-nos para não sermos juízes de ninguém, mas para ajudarmos, sermos intermediários, para salvar. Há dias perguntaram-me se o facto de ser amigo de uma pessoa que, publicamente, é muito pecador, se me preocupava. Respondi que os pecados dos outros não me preocupam. Preocupam-me os meus pecados, aquilo que é a fragilidade da minha vida. Isso é que me preocupa, e que deve preocupar cada um. Aquilo que são as fragilidades e os pecados dos outros, não deve ser motivo nem de juízos da minha parte, nem de preocupações em relação à vida dos outros ou do mundo. E eu sou chamado a ser misericórdia. Sou chamado a ser braços abertos que acolhem e é essa a minha identidade e é essa a presença de Cristo vivo que eu quero testemunhar. Agora se me disseres assim: ‘Pois é, mas os seus irmãos, na sua família, tem irmãos muito apertados, irmãos alargados, isso influencia’. É óbvio que influencia. Cada um na sua realidade, nas suas circunstâncias, no fim disto tudo, o que desejo é que cada um, cada sacerdote, cada bispo, possa ser intermediário para que os irmãos e as irmãs encontrem o caminho de salvação.

O que se passa é que a Igreja tem perdido fiéis ao longo dos anos. E a grande questão que está aqui é a história que até o Papa quer, a abertura…
O que quer que se abra são os corações. Como dizia o Papa João Paulo II quando iniciou o seu pontificado: abrir, escancarar as portas do coração a Cristo. A única coisa que quero é que cada coração e o meu se abram. Quanto a essas circunstâncias do caminho mais conservador, mais progressista, mais isto ou mais aquilo, o que quero, no fim da minha vida, é que digam ‘este senhor bispo ajudou a salvar uma pessoa’. Já estou todo contente.

Disse que os jovens não vos entendem e que vocês não entendem os jovens. Somos confrontados hoje em dia com novas linguagens. Como vê a Igreja a linguagem do não binário e do binário. Como encaram esses casos?
Tenho que confessar alguma ignorância em relação a algumas matérias. E o que o Papa João Paulo II, num documento sobre a nova evangelização, dizia era que a nova evangelização tinha que ser nova no ardor, nos métodos e nas expressões. Quanto ao ardor, é do coração que vem, está resolvido. Os métodos e as expressões em cada tempo, nós temos de ser capazes de nos atualizar, sincronizar, sermos capazes de interagir. Porque se nós estamos em pleno século XXI, a revolução digital deu um salto inimaginável há pouco tempo. E nós temos de ser capazes. Digo muitas vezes isto: tenho que ser capaz de acolher todos. Não quer dizer que aceite tudo de todos da mesma maneira, com o mesmo encaixe. Mas tenho que ser capaz de acolher o outro na sua identidade, nos seus problemas, na sua periferia existencial ou geográfica. De braços abertos e com um abraço muito, muito apertado, sem fazer considerações. E tenho que fazer um esforço naquilo que é uma exigência dos tempos que vivemos, de não digo aprovar, não digo comprovar, não digo promover seja lá o que for, mas ser conhecedor. E tenho a obrigação de conhecer. De conhecer para respeitar, para amar e para poder acompanhar. Isso é uma obrigação que devo sentir.

Concorda com o relatório final da Conferência Episcopal?
Acho que a questão não é concorda ou deixa de concordar. Não é essa questão que se coloca. A questão que se coloca em cima da mesa é se este resumo dos relatórios de todas as dioceses portuguesas é um contributo positivo para aquilo que é a reflexão que o Papa Francisco deseja para o sínodo que vai decorrer em outubro de 2023, e que agora o Papa prolongou para uma nova sessão em 2024. Aliás, já recebemos o novo documento que até desatualiza a sua questão. Há um documento que foi enviado agora às conferências episcopais, documento de trabalho do Sínodo, que já engloba os contributos que foram dados. Há um documento novo que já engloba os contributos que foram enviados e que reenvia agora para uma, digamos, uma nova, não de nível outra vez para o paroquial, vicarial, diocesana, mas está disponível. Acho que agora é o grupo Europa Continental que é convidado a refletir já sobre um resumo dos resumos de todos os países. E essas questões continuam lá presentes. 

Porque decidiram fazer a JMJ em Lisboa e não em Fátima?
Não é assim. Não existo no tempo antes.

Li que foi para o Panamá para perceber como eram os bastidores e para ver como funcionava uma JMJ. 
O que está a perguntar é antes, no tempo da candidatura. Eu no tempo da candidatura estava no Porto. A candidatura foi feita pela conferência…

Fiquei com a ideia de que tinha dito que ninguém se candidata à JMJ.
Não, percebeu mal. Nesta altura do campeonato quase de certeza que vários países se candidataram à organização da próxima JMJ. Não estava cá na altura da candidatura, não sei o que é que os bispos portugueses, o que conversaram e o que os levou a que a candidatura fosse Lisboa. Porque quem se candidata é uma sede de diocese, não é um país. Se for às jornadas todas, as jornadas têm o nome da cidade que acolhe. Não é o país. Quem acolhe é uma cidade. Um bocado como os Jogos Olímpicos e a candidatura foi Lisboa. E eu coloco várias questões. Logísticas, por exemplo. Fátima, aquilo que nós estamos habituados a ver em Fátima, o santuário e a envolvência do Santuário, logisticamente não encaixava a Jornada Mundial da Juventude. Ou seja, vamos ao número mágico do milhão. Um milhão de jovens em Fátima durante uma semana, com toda a dinâmica que é necessário desenvolver, não era de todo exequível. Mas não sei quais foram os critérios que levaram ou não a que fosse assim. Foi feita a candidatura de Lisboa, são feitas candidaturas. Ou seja, quando o Papa escolheu Portugal, Lisboa, poderia ter escolhido B, C ou D. Na altura falaram-se de países, nunca sabemos quais são, não sei se era a República Checa, falavam de vários países. E a candidatura foi feita, as autoridades foram consultadas e o senhor cardeal patriarca de Lisboa apresentou Lisboa como possível sede da candidatura da Jornada. Em novembro, dezembro de 2018 e este teu amigo, com um bigode, uma peruca e os óculos escuros, esteve no Panamá, nos bastidores [risos]. Tínhamos 90 e tal% de informação que seria Portugal. 

Curiosamente, penso que se reúne com alguma frequência com o comandante da PSP, Magina da Silva, e também com Paulo Vizeu Pinheiro, secretário-geral do Sistema de Segurança Interna. Nunca lhes chamou a atenção de que há um perigo de evacuação no espaço onde estão os terrenos onde vão acontecer as jornadas?
As questões de segurança não devem ser tratadas assim desta maneira. O que digo aos leitores do SOL e aos nossos interlocutores é que nós temos forças de segurança competentíssimas. O grupo de trabalho de segurança é de excelente qualidade. A nível internacional, as nossas forças de segurança são reconhecidas pelo trabalho de excelência que fazem. E o grupo de segurança que já trabalha há muitos meses, que tem PSP e GNR, tem forças armadas, tem serviços especiais, tem serviços do INEM entre outros. Todos estes serviços trabalham. A nossa obrigação é definir aquilo que é a essência do evento e depois, tecnicamente, as autoridades cada uma faz o seu trabalho e quer essa temática, quer muitas outras estão presentes em cima da mesa. 

Mas não tem receio de algum conflito aqui? Já não estou a falar da questão da evacuação. Manifestações contra o clima, por exemplo. 
Tudo o que vier por bem faz sentido e tem acolhimento. As jornadas são o contexto da família humana, dos jovens do mundo inteiro. Portanto, não entendo como negativo, agressivo ou problemático que as pessoas se manifestem e aproveitem a mediatização do encontro para testemunharem aquilo que o Papa diz fazendo ouvir os seus gritos. Não enquadro isso como problema maior. Agora trabalhamos com as autoridades para que tudo seja feito de maneira a que ninguém seja incomodado, que ninguém seja prejudicado e, acima de tudo, que ninguém seja magoado naquilo que é a vivência da jornada. A Jornada tem um historial de sinistros muito reduzido. Pés torcidos, sol na cabeça e desarranjos intestinais por causa dos jovens comerem tudo e mais alguma. 

E de beberem um bocado. Também é um momento de festa.
Normalmente há um consumo muito elevado de água por causa da desidratação.

Haverá álcool à venda?
Álcool, água oxigenada, todos os produtos farmacêuticos.

Não há nenhuma cervejeira a patrocinar o evento?
Estes jovens, a esmagadora maioria são maiores de idade, e não há registo naquilo que é histórico da Jornada Mundial da Juventude, qualquer tipo de…

Mas há álcool à venda nos recintos ou não?
Não há proibição nenhuma. Eu pessoalmente defendo que os jovens devem ser educados para o consumo de álcool moderado. Acho que devem aprender a beber, gerir aquilo que são as suas resistências, para que possam, em qualquer momento, também reagir em conformidade.

A Sagres não patrocina? 
Sou de Leça do Balio que é a sede da Super Bock. Se vai dar um exemplo, prefiro que diga Super Bock.

Vai patrocinar?
Com as águas Vitalis, certamente.

Fala muito com Deus. Qual foi a sensação de falar a primeira vez com o Papa Francisco?
É uma sensação única. Nós, desde meninos que vamos criando no nosso imaginativo, nas nossas narrativas, nas nossas ilusões, sempre num contexto cristão, católico, que a figura do Papa é sempre alguém que nos cativa. Aliás, a maior parte da minha vida, da nossa vida, foi vivida com o Papa João Paulo II. Tive a graça de estar com ele pessoalmente. Quando ele veio a Fátima, no ano 2000, já muito debilitado, mas tive a graça de o poder encontrar. Depois tive a graça de estar na querida varanda da Câmara Municipal do Porto, quando o Papa Bento XVI esteve no Porto e estive com ele. E também de muita gratidão de memória. E confesso que não imaginava que podia ter uma proximidade e uma repetida presença junto do Papa Francisco, que para mim é um elixir da juventude. É alguém que, para além de ter sido o culpado de eu estar nestas circunstâncias, é o sucessor de Pedro que me chamou a ser também sucessor dos apóstolos e por isso tenho com ele uma ligação umbilical profunda. 

Foi ele que o nomeou bispo.
Exatamente. É por isso que tenho uma profunda ligação umbilical.

O que o surpreendeu mais? 
A primeira conversa. Foi em março de 2019. Fui a Roma, quando fui nomeado, fui tirar as medidas das roupas episcopais, aquelas coisas todas. E lá fui eu e depois fui buscá-las e fui participar na audiência pública, na Praça de São Pedro. E não sabia que os bispos podiam estar lá pertinho, têm essa possibilidade. E eu fui. Não tinha sido ordenado. Mandaram-me vestir a batina e fui. E no fim disseram ‘Agora podem ir cumprimentar o Santo Padre’. E eu estava todo sem chão, as mãos a transpirar e as pernas a tremer e a preparar um discurso que não disse, preparar uma conversa que não disse porque a gente fica sem palavra e cheguei à beira dele e disse: ‘Santo Padre, eu sou o padre Américo, Sua Santidade nomeou-me recentemente bispo auxiliar de Lisboa’. E ele fez assim uma careta e pôs o dedo dele quase no meu nariz. ‘Tu não és de Lisboa, eu fui-te buscar ao Porto. Tens que ajudar muito o cardeal-patriarca. As Jornadas são um desafio muito importante’. Ele não sabia que eu estava lá. Mas disseram-me que ele tem uma memória de elefante. 

Mas isso era porque o cardeal Tolentino já estava no Vaticano?
Acho que não.

Diz-se que vocês formam um bom triângulo. Cardeal Tolentino Mendonça, o bispo Américo Aguiar e o Papa. Tudo se passa neste trio, é o que dizem.
Recomendo a leitura do último livro do cardeal Tolentino – Metamorfose Necessária, releitura de São Paulo –, sobre São Paulo, em que ele diz que o escreveu para crentes e não crentes e recomendo muito neste Natal, no Ano Novo e nos Reis, uma boa oportunidade de reler e seguir os caminhos de São Paulo.

Mas dão-se muito bem os três.
Não há razão nenhuma para nos darmos mal. 

Mas é público e notório que o cardeal patriarca foi apresentar a sua demissão ao Papa e que, depois das Jornadas Mundiais da Juventude, vai dar lugar a outro. Em cima da mesa há vários nomes, um dos quais o seu. Como faz esta leitura?
Aproveito para o SOL ser pedagógico e explicar às pessoas o que se passa numa situação dessas. Pelo que diz, até parece que quando uma sede de uma diocese fica vaga, sai o edital de concurso público em que cada um vai a correr, a manifestar-se e disponibilizar-se, um abaixo assinado, um currículo. Isso não é nada assim. Essas coisas não acontecem. O que acontece é que, em novembro passado, fez anos o bispo da Guarda. Vai ser substituído. Em março próximo, o bispo auxiliar de Lisboa, Dom Joaquim Mendes, faz 75 anos, vai ser substituído. O senhor cardeal patriarca em 16 de julho, faz 75, vai ser substituído. D. Antonino, bispo de Portalegre e Castelo Branco, faz 75, vai ser substituído. Entretanto, estão à espera Setúbal, Bragança…

E Açores…
Açores já foi nomeado. O auxiliar do Porto foi nomeado bispo dos Açores.

Mas foi agora.
Sim, há 15 dias. E, entretanto, está a faltar um auxiliar para o Porto. O que acontece? O Papa vai dizer assim: ‘Comecem o processo de nomeação do senhor cardeal patriarca de Lisboa’. Quando entender, o Papa vai dizer isso.

O Papa e Tolentino Mendonça. 
Quem diz é o Papa. A Nunciatura Apostólica começa o processo. E começa o processo como? Auscultando os bispos, os padres, os cidadãos, quem eles entenderem. A dizer assim ‘olhe lá, dentro de algum tempo, o senhor fulano tal vai sair. O que é que o senhor acha de Lisboa? De Setúbal? O que é que o senhor acha?’. E as pessoas acham, cada pessoa acha. E no fim disso tudo, o senhor Núncio apostólico manda para Roma…

Três nomes…
A famosa terna, em que está o Manuel, o António e o José. Depois haverá um dia em que essa terna será trabalhada pela Congregação dos Bispos, onde tem lugar o senhor cardeal Tolentino também. Depois haverá um dia em que esta terna vai ao Papa e vão dizer assim ‘Santo Padre, tenho aqui os dossiês deste dia’ e vão-lhe dizendo. Exemplo, Lisboa, temos que nomear o novo bispo de Lisboa. Diz-se os nomes ao Papa e ele escolhe um dos três.

Com alguém a sugerir ao ouvido…
O Espírito Santo faz o que pode e o Papa escolhe. A partir do momento em que o Papa escolhe, diz isso a quem de direito, a pessoa em causa é contactada diz sim ou não e a partir daí as coisas correm.

O próximo bispo de Lisboa pode não ser nomeado cardeal patriarca, não pode?
Quando o Ppatriarcado de Lisboa foi criado, em 1716, a bula de criação do Patriarcado diz que o arcebispo de Lisboa, quando é nomeado patriarca, é nomeado no primeiro consistório que existir a seguir, é nomeado cardeal. Pode haver um hiato mais pequeno ou mais largo em relação ao que significa o próximo consistório que existir. O consistório é quando o Papa cria cardeais e, portanto, pode haver um imediatamente a seguir, como pode demorar um ano, dois anos ou três anos a acontecer isso. O senhor Manuel Clemente, quando foi nomeado para cá, quando veio do Porto, não foi nomeado cardeal instantaneamente. Foi nomeado cardeal passado algum tempo. Ultimamente o Papa Francisco tem criado, tem tido uma leitura um bocadinho diferente das situações e tem evitado que existam cardeais eleitores ao mesmo tempo da mesma sede, ou seja, que ao mesmo tempo existam, vamos imaginar que o senhor patriarca tem 75 anos e é nomeado outro e o Papa nomeava cardeal. Significava que se houvesse um conclave, tinha lá dois de Lisboa a votar. Há uma leitura que diz que o Papa, quando assim é, espera ou prefere esperar, porventura, que o novo responsável da diocese só seja nomeado cardeal quando o outro completar os 80 anos [e já não tem direito de voto]. 

Só daqui a cinco anos é que vai ser nomeado cardeal patriarca, é isso?
Queres vinho, mas eu não te dou vinho.

Tem que reconhecer que o cardeal Tolentino Mendonça tem um poder grande no Vaticano. 
O livro dele é muito interessante. Tem que comprar o livro. O cardeal Tolentino é a nossa figura, é a figura da Igreja. E a figura da Igreja Universal. Na História de Portugal recente, nós nunca tivemos ninguém com tanta visibilidade.

E que subiu rapidamente, nunca foi bispo.
Foi, foi nomeado. Uns meses. É alguém – que não é o meu caso – que Deus premiou com tantas capacidades, com tantos dons, com tantas vitórias. E só devemos dar graças.

Diz-se que o Cardeal Tolentino Mendonça obviamente, como fez o retiro espiritual do Papa, depois teve essa ascensão. Mas também se diz que quem organiza a Jornada Mundial da Juventude…
Lá vem outra vez…

Continua na próxima edição