Assim, não saímos da ‘cepa torta’…

Já é tempo de se perceber que é a imagem nacional que está em jogo dado que esta perceção da corrupção em nada abona a nossa imagem internacional e só prejudica quaisquer intenções de investimento no nosso país. Fica o desafio à Ministra da Justiça Catarina Sarmento e Castro: que tal seguir o exemplo da…

1. A entrevista de António Costa à RTP1 foi cuidadosamente planeada para tentar ultrapassar a perceção de arrogância e altivez que resultou da anterior entrevista à Visão. Enquanto exercício de marketing, vimos uma postura completamente diferente, uma humildade no reconhecimento de erros no Governo, explicações minimalistas sobre as diversas saídas até para transmitir a ideia de que são ‘águas passadas’ (embora defendendo acerrimamente a continuidade de governantes até ‘serem acusados’ em casos de justiça). Soube, com habilidade, contornar perguntas difíceis desviando as respostas para outros temas perante a complacência de um entrevistador, todo um desfiar de perguntas que deu a sensação de que seguiam um guião pré-combinado, tal a forma pressurosa como eram respondidas sem sequer titubear um pouco. 

Das ideias transmitidas que deveriam ter sido a principal razão desta entrevista, talvez a principal que foi abordada terá sido sobre a Habitação, embora remetendo para a nova Ministra as políticas a implementar, mas anunciando a disponibilização de terrenos e a construção de habitações a preços sociais. No mais, culpou a guerra da Ucrânia pelo escalar da inflação (quando a mesma já era uma dura realidade antes de se iniciar). Salientou a importância da estabilidade. Sobre os professores pouco disse, talvez porque, perante a irredutibilidade da luta em curso, não quis acirrar ânimos. Em suma, a prestação correspondeu ao planeado, todos os que laboriosamente a prepararam saíram satisfeitos, dado que o objetivo principal tinha sido atingido!

A escalpelização da entrevista que se seguiu é que não correu lá muito bem porque foram referidos alguns aspetos óbvios como ter sido desperdiçada uma excelente oportunidade para se transmitir uma ideia estratégica para o País ou constatar que diversos tópicos obrigatórios deveriam ter sido abordados como, por exemplo, a Saúde e o estado lastimoso do SNS, a TAP (em que o entrevistador colaborou ao não insistir no tema), o novo aeroporto de Lisboa, a Justiça, o impasse na Agricultura, com uma Ministra altamente contestada no setor ou mesmo uma maior desenvoltura no assunto dos professores. Mas acho que a principal crítica veio de Marcelo ao referir que «a maioria absoluta não é só de nome, mas tem de deixar obra». Tudo dito!

 

2. Há dias, a nova Bastonária da Ordem dos Advogados (Fernanda de Almeida Pinheiro) verbalizou o que tantos portugueses pensam desde há muito, ou seja, que «Portugal tem um grave problema de corrupção». Há demasiados exemplos escarrapachados na comunicação social, o Ministério Público levanta casos atrás de casos, mas as condenações em tribunal são escassas. Os julgamentos arrastam-se, sobretudo quando envolvem figuras com maior poder económico ou visibilidade pública, com sucessivos ‘grãos na engrenagem’ estrategicamente colocados por advogados (inscritos na Ordem que a bastonária dirige) a atrasar a resolução dos processos, quantas vezes até à prescrição.

Como que a corroborar as afirmações da bastonária, foi esta semana conhecido o ranking, por países, do ‘Índice da Perceção da Corrupção’. Portugal não sai novamente bem na fotografia, este ano com 62 pontos, os mesmos que em 2021. Na classificação de todos os países, estávamos em 32º lugar, estamos agora em 33º (entre 180 países). Alguma surpresa? Nenhuma, porque realmente isto já nem é notícia, como também não é a ‘Entidade para a Transparência’ estar há 3 anos sem funcionar e só agora ir ter uma Presidente e instalações. 

No entanto, este Governo de quase 8 anos até já produziu uma ‘Estratégia Nacional Anticorrupção 2020/2024’ ao tempo com Francisca Van Dunen (aprovada em Conselho de Ministros de 18 março 2021). Trabalho meritório, mas a verdade é que, perante os escassos resultados, fica a sensação de que foi ‘para inglês ver’, como se nota pela evidência da imutabilidade da classificação no citado ranking. 

Já é tempo de se perceber que é a imagem nacional que está em jogo dado que esta perceção da corrupção em nada abona a nossa imagem internacional e só prejudica quaisquer intenções de investimento no nosso país. Fica o desafio à Ministra da Justiça Catarina Sarmento e Castro: que tal seguir o exemplo da Saúde/SNS e nomear um responsável a liderar uma equipe para tratar deste dossier, com objetivos e métricas a atingir?

 

3. Depois de mais uma intervenção revolucionária a propósito da suprarreferida entrevista do Primeiro-Ministro, com chavões e tiradas ideológicas sobre inflação e salários, grandes fortunas e desigualdades, ouvi Catarina Martins referir que levou à Procuradoria-Geral da República documentação detalhada que possibilite ao Ministério Público abrir um dossier sobre os imigrantes explorados em condições alegadamente sub-humanas, sobretudo em diversas explorações agrícolas.

Embora estejamos politicamente em campos diferentes, considero esta iniciativa do Bloco (e de Catarina Martins) absolutamente louvável. Há demasiado tempo que ouvimos queixas sobre a situação deprimente em que se encontrarão alguns (ou muitos) imigrantes e acho intolerável que o assunto não seja cabalmente esclarecido. 

 

P.S. 1 – Alguém me explica porque bulas António Costa continua a considerar que a ministra da Agricultura tem condições para continuar quando esta Senhora, para além de já ter hostilizado a CAP por razões políticas, nem aparenta perceber as razões tão básicas que conduziram às saídas da secretária de Estado da Agricultura ou da subdiretora Geral de Veterinária, dado ter estado a insistir, escassas horas antes, nas respetivas continuidades?