Bancos: 4 maiores lucram 5,5 milhões por dia

Bancos apresentaram mais de dois mil milhões de euros juntos. A fórmula de sucesso mantém-se: pressão nas comissões e redução na estrutura, com menos trabalhadores e balcões.

Bancos: 4 maiores lucram 5,5 milhões por dia

As quatro maiores instituições financeiras – Caixa Geral de Depósitos, Santander, BCP e BPI – lucraram quase dois mil milhões  em 2022, o que dá uma média de cerca de 5,5 milhões de euros por dia. E, tal como tem vindo a ser habitual, os resultados continuam assentes na redução dos custos de estrutura – com equipas cada vez mais reduzidas e menos balcões – e no aumento das comissões. 

A Caixa Geral de Depósitos foi o último banco a apresentar números. E não surpreendeu, ao apresentar lucros de 843 milhões de euros.  Um resultado que vai permitir o pagamento de um dividendo de 352 milhões de euros, «o mais elevado de sempre», revelou a instituição financeira liderada por Paulo Macedo.

Além disso, o Estado irá também receber o edifício-sede do banco, na Av. João XXI, em Lisboa, que estará avaliado numa base de 300 milhões (mas ainda está em avaliação), de acordo com o banco. Com estes dois pagamentos, a instituição financeira considera que fica ‘saldada’ metade da recapitalização de 4,9 mil milhões de euros de que foi alvo em 2017.

A instituição financeira revelou que, deste resultado, 193 milhões são provenientes da atividade internacional, enquanto os restantes 650 milhões são resultado da atividade doméstica.

A margem financeira disparou 42,8%, para 1,4 mil milhões de euros, beneficiando do aumento das taxas de juro no ano passado, enquanto os resultados com comissões atingiram os 606 milhões de euros. O produto global da atividade aumentou 32,3%, para 2,3 mil milhões.

Este nível de atividade foi também possível perante o aumento e limpeza do balanço do banco: o crédito a clientes aumentou 2,2%, para 50,8 mil milhões de euros, e os recursos de clientes cresceram 6,3%, para 83,9 mil milhões. 

No final de 2022, a Caixa tinha 5.837 empregados, menos 280 do que os 6.117 de final de 2021. Quanto à rede comercial, em final de 2022 era de 515 o número de agências, espaços Caixa e gabinetes de empresas, menos 27 do que no fim do ano anterior.

Lucro dispara 

O Santander Totta registou lucros de 568,5 milhões de euros no ano passado. Um valor que compara com os 298,6 milhões de euros registados no período homólogo e que «incorpora um encargo extraordinário, no valor de 164,5 milhões de euros (líquido de impostos), registado no 1.º trimestre de 2021, para fazer face ao plano de transformação em curso, com a otimização da rede de agências e investimentos em processos e tecnologia». Números que levaram a instituição financeira liderada por Pedro Castro Almeida a referir que «são muitos».

O total de crédito a clientes atingiu os 43,3 mil milhões de euros, um decréscimo de 0,3% face ao valor no final de 2021. Já no segmento de crédito hipotecário, verificou-se um crescimento homólogo de 5,5%. Por seu lado, os custos operacionais fixaram-se em 486 milhões de euros, uma queda de 8,1% face ao final de 2021, pelo que o resultado de exploração aumentou 2%, neste mesmo período, para 805,6 milhões de euros, «fruto do decréscimo em 6,6% dos custos com pessoal e em 10,2% dos gastos gerais e administrativos».

No ano passado, O Santander Totta não escapou à tendência de redução do número de trabalhadores, passando de 4.805 trabalhadores em 2021 para 4.644 pessoas em 2022. A mesma fórmula foi aplicada ao número de balcões, que passa de 348 para 339. Já as comissões líquidas, no montante de 470,3 milhões de euros, registaram um crescimento homólogo de 10,2%.

Em relação à subida das taxas de juros e ao impacto para quem tem créditos, o CEO do Santander Totta não teme o impacto, referindo que «são muito poucos» os clientes com crédito à habitação em risco de incumprimento, mas admitiu que haverá mais clientes a reestruturar créditos caso os juros continuem a subir. E, no âmbito do novo Plano de Ação para o Risco de Incumprimento (PARI), já está a analisar dois mil casos que se enquadram no regime criado pelo Governo para forçar a renegociação dos créditos num contexto de altas taxas de juro, mas não significa que todos serão reestruturados.

Tendência de subida

Já o BPI registou um lucro de 365 milhões, em 2022, uma subida de 19% em comparação com o ano anterior, altura em que tinha apresentado um resultado de 307 milhões de euros. De acordo com a instituição financeira liderada por João Pedro Oliveira e Costa, a atividade em Portugal contribuiu com 235 milhões de euros, o que corresponde a um aumento de 31% relativamente ao exercício de 2021 (179 milhões de euros). As participações no BFA e BCI tiveram um contributo de 96 milhões de euros e 34 milhões para o resultado consolidado, respetivamente. 

A instituição financeira registou crescimentos homólogos de 6% no crédito e 5% nos depósitos de clientes. Já os proveitos da atividade comercial cresceram 14%, a par de um aumento de 4% dos custos. Por seu lado, as comissões subiram 3%, para 296 milhões, enquanto o produto bancário atingiu os 873 milhões, subindo 14% em termos anuais.

O BPI diz ter conquistado quota no mercado de crédito (11,5%), apesar da inversão de tendência de subida registada na segunda metade do ano. Oliveira e Costa admitiu que «estamos a assistir a um abrandamento da procura e concretização do crédito». Ainda assim, a carteira de empréstimos aumentou 6%, para 29,2 milhões de euros, com o segmento da habitação a subir 8%, para 14,2 mil milhões.

Nos depósitos, os clientes têm no banco 30,3 mil milhões de euros, um aumento de 5%, enquanto os recursos totais atingiram os 40 mil milhões. No final do ano, o BPI contava com 4.404 colaboradores e com 325 unidades comerciais.

O banco registava ainda cerca de dois mil créditos à habitação de clientes elegíveis para reestruturação ao abrigo do regime legal que facilita a revisão dos empréstimos penalizados pelo aumento das taxas de juro e já chegou a acordo com 25% destes.

Millennium duplica resultados 

Também o Millennium BCP registou lucros de 207,5 milhões de euros em 2022, mais 50% do que os 138,1 milhões de euros alcançados em 2021, apesar dos efeitos extraordinários relacionados com o Bank Millennium, entre os quais, encargos de 525,64 milhões de euros associados à carteira de créditos hipotecários em francos suíços, custo associado às moratórias de créditos hipotecários em zlótis de 282,8 milhões de euros, contribuição de 59 milhões de euros para o Fundo de Proteção Institucional (IPS) e registo da imparidade do goodwill do Bank Millennium de 102,3 milhões de euros.

 O BCP registou um produto bancário de 2.867,5 milhões de euros, uma subida de quase 23%. Em relação às comissões líquidas, houve um crescimento de 6,1%, para 771,9 milhões, relacionado sobretudo com a «progressiva normalização da atividade económica, decorrente da evolução favorável da pandemia associada à covid-19».

A carteira de crédito praticamente estabilizou nos 56,2 mil milhões de euros e os depósitos subiram 9%, para 75,9 mil milhões de euros. 

A instituição financeira não ficou alheia à queda em termos de estrutura, passando de 6.289 colaboradores para 6.252. «Os custos decorrentes do ajustamento do quadro de pessoal foram reconhecidos em 2021, sendo considerados como itens específicos, destacando-se, por assumir maior expressão, a já referida provisão, no montante de 84,2 milhões de euros».

O banco liderado por Miguel Maya disse ainda que está a renegociar ou já renegociou créditos à habitação de quatro mil pessoas ao abrigo da nova legislação. «Há clientes em dificuldades, há portugueses que estão a passar dificuldades e têm necessidade de reestruturar», disse o CEO do Millennium BCP.