BE: duas moções, dois caminhos

Sem surpresas, Mariana Mortágua formalizou a candidatura à liderança dos bloquistas, assestando baterias ao Governo. Com o objetivo de descontinuar a perda de influência do partido, críticos da direção também vão a jogo.

BE: duas moções, dois caminhos

Quase duas semanas depois de Catarina Martins ter anunciado que não se recandidatará à liderança do Bloco de Esquerda (BE), Mariana Mortágua confirmou as suspeitas e anunciou, na segunda-feira, que será candidata a coordenadora do partido, encabeçando a lista com mais hipóteses de sair vencedora da convenção do partido, marcada para maio. 

Em conferência de imprensa na sede do BE, em Lisboa, Mortágua  apresentou as linhas gerais da moção «Uma força, muitas lutas», subscrita pela maioria dos dirigentes do partido. Num discurso marcado por críticas ao Governo, que acusa de ter «desistido de governar», manifestou a vontade de «fazer todas as lutas que enchem e dão significado à democracia», nomeadamente «pelo trabalho digno, a habitação, a igualdade, o clima, a saúde, a educação e o direito de todas as pessoas a viverem com respeito».

Recordando a perda eleitoral que o BE sofreu quando o PS conquistou a sua segunda maioria absoluta, Mortágua decidiu avançar com duas certezas. A primeira, é que «as políticas de empobrecimento e de desigualdades agravam-se a cada dia que passa». A segunda é que apesar das «perdas brutais», as «razões» do seu caminho, ou seja, votar contra o Orçamento do Estado para 2022, que levou à queda do Governo, se confirmam: «É por elas que crescemos ao lado da força das mobilizações que se levantam». Isto é, dos protestos na rua.

Tendo na mira os alvos habituais, o Governo e a direita, a bloquista acusou os socialistas de, perante um «PSD perdido e sem programa», alimentarem o «medo da extrema-direita»,  para garantirem uma «maioria absoluta perpétua». 

«Mostraremos ao país que a política do medo não pode vencer e que não basta pôr um espantalho à porta para poder governar contra as pessoas», defendeu, reforçando que só uma alternativa à esquerda pode «criar respostas para as pessoas que estão exasperadas com a inflação, com a decadência das coisas importantes da democracia, como a educação, a saúde e a justiça».

Também na segunda-feira, data limite para as moções de orientação serem entregues à comissão organizadora da convenção, a ala de críticos da atual direção do partido uniu esforços e apresentou uma moção alternativa intitulada «Um Bloco plural para uma alternativa de Esquerda – um desafio que podemos vencer».

O porta-voz da candidatura, Pedro Soares, deu a conhecer as linhas gerais da moção que  tem em vista uma «descontinuidade» do caminho que levou o BE a perder influência política, social e eleitoral e que, acredita, perpetuar-se-á com Mortágua. «Achamos essencial que haja uma mudança de rumo», defendeu o antigo deputado e membro da plataforma Convergência.

Sem falar em nomes de hipotéticos coordenadores, Pedro Soares sublinhou que a ideia de que a convenção tem como objetivo eleger um coordenador não está prevista nos estatutos, adiantando que esta plataforma que reúne várias sensibilidades no partido vai apresentar uma lista à mesa nacional «que possa contribuir para a futura direção», defendendo um regresso ao sistema porta-vozes que  já existiu no passado.

 Apontando a necessidade de ser feito um balanço das últimas derrotas eleitorais, acusou a direção de  preferir centrar-se nos nomes e não na política, conduzindo a um «Bloco fechado».

A XIII Convenção Nacional do BE, que decorre nos dias 27 e 28 de maio, em Lisboa, terá como lema «Levar o país a sério».