Talibãs afirmam que proibição de mulheres na ONU é questão interna

Os talibãs sublinharam que a proibição de funcionárias afegãs na ONU, uma das poucas instituições que continuava a contar com o trabalho feminino no país, “não significa uma discriminação e nem cria obstáculos ao funcionamento das Nações Unidas” no país.

O Governo talibã afirmou que a proibição do trabalho de mulheres afegãs para as Nações Unidas é uma questão interna do Afeganistão e deveria ser respeitada por todos, noticiou hoje a imprensa internacional.

"O Emirado Islâmico [como se autodenomina o governo talibã no Afeganistão] não quer criar obstáculos para as Nações Unidas, mas também quer deixar claro que esta é uma questão interna do Afeganistão. Não cria problemas a ninguém e deveria ser respeitada por todas as partes", disse o principal porta-voz dos talibãs, Zabihullah Mujahid, num comunicado citado pela agência de notícias EFE.

Os talibãs sublinharam que a proibição de funcionárias afegãs na ONU, uma das poucas instituições que continuava a contar com o trabalho feminino no país, "não significa uma discriminação e nem cria obstáculos ao funcionamento das Nações Unidas" no país.

A Missão das Nações Unidas no Afeganistão (UNAMA) decidiu na terça-feira colocar todos os seus funcionários a trabalhar a partir de casa, em resposta à proibição dos talibãs.

Os talibãs declararam que a culpa pela atual situação do país é "daqueles que impuseram restrições no sistema bancário e financeiro", nomeadamente os Estados Unidos e outros países que bloquearam milhares de milhões de dólares em ativos financeiros afegãos no estrangeiro, depois de os fundamentalistas terem assumido o governo no Afeganistão.

Em dezembro passado, o regime talibã anunciou que as 1.260 organizações não-governamentais (ONG) presentes no país ficavam proibidas de trabalhar com mulheres afegãs, devido a denúncias sobre o descumprimento do código de indumentária, que obriga as mulheres a cobrir totalmente o corpo e o rosto.

Cerca de 3.900 pessoas trabalham para a ONU no Afeganistão, incluindo 3.300 nacionais, segundo a organização, incluindo cerca de 600 mulheres, 400 de origem afegã.

As Nações Unidas consideram essas mulheres essenciais para as suas operações no país, que vive uma das piores crises humanitárias a nível mundial e onde cerca de 23 milhões de homens, mulheres e crianças precisam de assistência.

O Governo talibã impôs, depois de assumir o controlo do país em agosto de 2021, uma série de restrições às mulheres. Estas determinações vão desde cobrir o rosto em público, andar nas ruas acompanhada por um familiar do sexo masculino, até a impossibilidade das mulheres continuarem os estudos ou fazerem certos trabalhos.