Pedro Stretch diz ter “as maiores dúvidas” de que a Igreja se pôs do lado das vítimas

Coordenador da Comissão Independente para o Estudo dos Abusos Sexuais Contra as Crianças na Igreja Católica Portuguesa foi esta terça-feira ouvido na Comissão de Assuntos Constitucionais, Direitos, Liberdades e Garantias da Assembleia da República

Pedro Stretch, coordenador da Comissão Independente para o Estudo dos Abusos Sexuais Contra as Crianças na Igreja Católica Portuguesa, disse esta terça-feira que a reação da instituição ao relatório foi "muito ambivalente" e defendeu o levantamento do segredo da confissão "quando há questões que se sobrepõem".

O pedopsiquiatra considerou que a "reação foi evolutiva, mas muito ambivalente".

"A partir de determinada altura, eu acho que beneficiou do efeito do próprio grupo em geral, porque eu também acho que depois houve senhores bispos que perceberam que se não participassem, como outros estavam a participar, seria difícil para eles próprios assumir isso perante o público em geral", declarou.

Pedro Strecht falava numa audição na Comissão de Assuntos Constitucionais, Direitos, Liberdades e Garantias da Assembleia da República, a requerimentos do Chega, PS e PSD, sobre o relatório final da comissão, intitulado "Dar voz ao silêncio".

O coordenador da comissão realçou que "de facto, a postura foi muitas vezes evolutiva e ambivalente, como se o próprio estudo não tivesse, para alguns, resultado de um pedido da própria CEP [Conferência Episcopal Portuguesa]" e, quando questionado sobre se a Igreja se colocou do lado das vítimas, afirmou ter "as maiores dúvidas sobre isso".

"Este estudo pode ser, de facto, o princípio de um virar de página em que, apesar de imensas resistências dentro da Igreja, nada será como dantes (…) e, do ponto de vista social, temos também instrumentos para olhar de uma forma diferente a infância em geral e o problema dos abusos sexuais em particular", referiu também.

Recorde-se que os 512 testemunhos validados, que apontam para um número de vítimas na ordem das 4.815, deram origem à abertura de apenas 15 inquéritos, tendo nove desses já sido arquivados.