O que pode a gente séria e honrada fazer?????

Apenas um sistema mais exigente e meritocrático no acesso a cargos políticos possibilitará a elevação da mais nobre das atividades ao serviço da comunidade: o cargo público político.

Por Eduardo Baptista Correia

É evidente que se tornou normal em Portugal os governos passarem pelas legislaturas sem a capacidade de resolverem os vários problemas que afetam os eixos centrais do Estado e da democracia sem que as sucessivas legislaturas tragam uma estratégia ou desígnio para o futuro de Portugal. O país tem perdido demasiado tempo com a fraqueza da gestão dos pequenos interesses que o status quo dos principais partidos instalou no sistema.

A ausência de pessoas e soluções credíveis está à vista de todos e fica bem expressa pela crescente abstenção e pelo crescimento eleitoral das forças políticas de protesto.

Os últimos meses são particularmente reveladores do retrocesso da qualidade da política e da democracia. Retardámos por culpa da forma como aceitamos que o absolutamente acessório constitua o centro da vida política, relevando para plano inexistente o que efetivamente interessa ao crescimento da economia portuguesa e consequente aumento da qualidade de vida dos portugueses.

Os eventos decorrentes do caso TAP são bem demonstrativos do faz de conta generalizado que invadiu de forma pandémica os principais atores e partidos políticos. A importância exacerbada que nesse faz de conta é dada a situações cujo impacto efetivo na qualidade da economia portuguesa é praticamente nulo, corresponde em igual medida à falta de apresentação, debate e diálogo de temas estratégicos ao desenvolvimento do país e consequente melhoria das condições de vida dos portugueses. A falta de elevação da forma e do conteúdo demonstram bem que a participação nas direções políticas da governação e nas das diferentes oposições há muito desistiu de critérios de meritocracia e competência.

Quando o país está meses seguidos a debater uma indemnização e na sequência desse mega caso assiste a uma das maiores crises institucionais provocada por um arruaceiro que leva um computado do estado para casa, e que todos estes casos menores, acabam por revelar a enorme facilidade e destreza com que uns mentem e manipulam, e outros vitimizam e acusam de forma desinformada e gratuita, o que pode a gente séria e honrada fazer? Esta é hoje, porventura, a mais importante pergunta, sem resposta aparente, que paira nas mentes da maioria não participativa nesta bagunçada que tem por primeira e nefasta consequência a banalização do cargo político.

Estamos efetivamente sem líderes em quem possamos confiar, e por protesto e desespero a adesão às propostas reclamantes e contestatárias, constitui paliativo evidente. A revolução inteligente que ficou por fazer, está hoje, de forma evidente, a mostrar o quão falta faz. Apenas um sistema mais exigente e meritocrático no acesso a cargos políticos possibilitará a elevação, sucessivamente adiada, da mais nobre das atividades ao serviço da comunidade: o cargo público político.

O sistema vigente permitiu a ascensão e domínio por parte de uma classe de impreparados que tem vindo a denegrir essa tão importante atividade, causando à comunidade um estrago dificilmente reparável no que respeita ao atraso socioeconómico consequente.

O que pode a gente séria e honrada fazer?

Não faço ideia… Contudo vejo um povo saturado desta ‘lata’ que diariamente o invade e que, sem exceção, emana das diferentes forças políticas.

Mau demais.