João Galamba: um animal feroz que virou gatinho

O homem teve um bom professor e calculo que hoje já deva andar aos gritos no seu gabinete. Quanto à história em si, parece óbvio que haverá demissões no SIS ou nos serviços que fiscalizam as secretas. O resto é espuma dos dias e Costa deverá manter o seu ministro enfant terrible.

1. Ao ver João Galamba na Comissão de Inquérito da AR lembrei-me de uma anedota sobre aquele que se diz leão, mas quando abre a boca parece um gatinho. É extraordinário como o aprendiz de animal feroz apareceu tão mansinho e meloso. O homem teve um bom professor e calculo que hoje já deva andar aos gritos no seu gabinete. Quanto à história em si, parece óbvio que haverá demissões no SIS ou nos serviços que fiscalizam as secretas. O resto é espuma dos dias e Costa deverá manter o seu ministro enfant terrible que, pelos vistos, também sabe ser cordeirinho quando lhe dá jeito. Ah! A chefe de gabinete de Galamba também teve bons professores…

2.A polémica do selo feito pela equipa do Vaticano, que supostamente era para ser vendido em Roma, ofendeu muito boa gente em Portugal, dizendo-se chocada com a aproximação ao Estado Novo e à propaganda da ditadura. A mim, o que me chocou, foi o plágio das ilustrações dos livros da terceira classe do tempo da outra senhora. Quanto ao resto, o Padrão dos Descobrimentos, feito é certo durante o Estado Novo, é uma evocação a um período nobre da história de Portugal, precisamente as Descobertas. A cultura do cancelamento pode fazer e dizer o que quiser, mas os Descobrimentos são estudados no mundo inteiro como um dos grandes feitos da humanidade. E terá sido por isso que o ilustrador decidiu escolher o Padrão dos Descobrimentos para simbolizar as novas descobertas que o Papa Francisco deseja, nomeadamente a interculturalidade mundial. Lamentavelmente, o Vaticano cedeu à política do cancelamento.

3.A  propósito dos novos censores, a abertura do festival de Cannes ficou ‘assombrada’ pela estreia de um filme interpretado por Johnny Depp e Maiween, que também é a realizadora. Não foi a qualidade ou falta dela do filme Jeane du Barry que mereceu a atenção dos novos ditadores._O que foi discutido foi o caso das supostas agressões de Johnny Depp à sua ex-mulher, que o ator ganhou em tribunal, e de uma cuspidela da realizadora a um jornalista. Por causa destes factos, os responsáveis do festival foram ‘achincalhados’ por terem aberto o certame – detesto esta palavra – com um filme onde estão envolvidos Depp e  Maiween. Seus palermas, censores há muitos, filmes e atores bons há poucos. Já nem o facto de se ser ilibado em tribunal conta – e não foi com prescrições de processos…

4. Outra história hilariante chegou-nos dos EUA, uma terra onde qualquer um está sujeito a ser acusado de agressão sexual e a ter de pagar multas de milhões que, supostamente, ‘limpam’ o crime. Rudolph Giuliani, antigo mayor de Nova Iorque e advogado de Donald Trump, é acusado de se armar em Bill Clinton e de pedir a uma colaboradora que lhe fizesse sexo oral enquanto falava com os poderosos do mundo. Giuliani terá dito que dessa forma se sentia um Bill Clinton! A queixosa diz ainda que era obrigada a andar nua no escritório de advogados e até a comprar lingerie com a bandeira americana. Mas fez isso tudo e só depois é que apresentou queixa? Por acaso alguma vez apresentou queixa às autoridades ou despediu-se?   

5.Por falar em sexo, a socióloga e escritora Maria Filomena Mónica revelou que nos idos 90 chegou a ser convidada por alguns amigos para uma orgia, mas que deu meia volta e se pirou, pois achou o convite nojento. Os familiares dos ‘convidadores’ dizem-se indignados com a revelação e que é falsa. Que raios, o que temos nós a ver com a vida dos nossos familiares? Se gostavam de sexo ao molho era lá com eles. Mas, cá para nós, se Filomena Mónica fosse homem e tivesse sido diretor de jornais caía-lhe tudo em cima. As suas confissões garantiam-lhe o ostracismo de muito boa gente. Eu, fã declarado de Filomena Mónica, fico contente que os novos ditadores não a tenham querido queimar na praça pública.

vitor.rainho@nascerdosol.pt