O horror do tempo perdido – A razão de Cavaco Silva

Este modelo de democracia eleitoral, baseado numa partidocracia instalada e pouco escrutinada no que às competências diz respeito tem-nos feito perder qualidade na nossa existência coletiva. Constitui uma grave violação do respeito pelo contribuinte.

por Eduardo Baptista Correia

A forma como o tempo é aproveitado constitui a base da qualidade desse recurso, tão importante e valioso, quando se trata do tempo que cada pessoa, cada geração e cada fase da história tem disponível. Em Portugal andamos a perder tempo com a forma crescentemente interesseira e infantil como a gestão política conduz os destinos e o quotidiano do país. O último ano exibiu de forma muito clara a ponta de um iceberg gigantesco carregado de trapalhadas, casos, muitos casos, nomeações, demissões, e mais casos que, em muitas das vezes, roçam a coscuvilhice mórbida na forma e no modo como são tratados; por uns e por outros. As gerações que vivem esta fase da história, são gerações que por falta de qualidade na gestão da política, perdem qualidade no seu tempo e na sua existência. Uma sociedade cívica, honrada e meritocraticamente avançada deveria qualificar esta perca como crime publico.

É absolutamente evidente que o sistema de gestão política está excessivamente orientado para a distribuição de cargos, tarefas e contratos para a clientela humana e empresarial que à volta dele gravita. Se a fraca presença de critérios meritocráticos nessa distribuição é, por si só, muito grave, a ausência de um desígnio estratégico para o desenvolvimento da economia e da sociedade portuguesa, torna todas estas práticas, para alem de altamente condenáveis, economicamente desastrosas e perigosas. Este modelo de democracia eleitoral, baseado numa partidocracia instalada e pouco escrutinada no que às competências diz respeito tem-nos feito perder qualidade na nossa existência coletiva. Constitui uma grave violação do respeito pelo contribuinte.

Sem direção definida o país perde-se no entretenimento de demissões, nomeações, comissões, e inquéritos, a um sistema que teimosamente se recusa a aceitar que ele próprio está excessivamente contaminado por um estilo acusatório e persecutório sem que na essência de vislumbre qualquer interesse ou tentativa de reforma. Há razões de sobra para estarmos muito preocupados. O antigo Presidente e antigo primeiro-ministro, Cavaco Silva, tem razão quando manifesta grande preocupação com o estado do país e da política. Nunca a política esteve tão vazia de atores e causas. E ao contrário do que afirma António Costa, em mais uma das suas ações de propaganda e maquilhagem da realidade, Cavaco Silva não está a fazer política partidária. Está apenas lúcida, genuína e legitimamente a verbalizar a preocupação que a maioria dos portugueses vive e sente.

Identifico apenas uma pequena diferença, mas de grande impacto, na forma como Cavaco Silva e o povo português reconhecem a preparação do PSD. Todos os estudos de opinião revelam um ainda frágil reconhecimento, por parte dos eleitores, quanto a essa preparação. Os portugueses não estão ainda convencidos das capacidades de Luís Montenegro e da atual direção do PSD para governar. Se quanto às atitudes, fragilidades e intrujices do Partido Socialista nada podemos fazer, no que ao PSD diz respeito é absolutamente fundamental que se trabalhe rapidamente numa estruturação de reformas inovadoras para que os portugueses se unam à volta de um desígnio novo e contemporâneo. Aproveitar este tempo para construir e criar uma sociedade mais cívica, honrada e meritocrática e consequentemente uma economia mais robusta é a condição que assegura uma alternativa convincente. Esse caminho existe; só tem de ser traçado para ser percorrido.

Até quando iremos continuar a perder tempo nas derivas? Provavelmente uma comissão de inquérito resolverá o tema em três tempos…