Multas. Funcionários da EMEL sem caça ao bónus

Câmara de Lisboa acabou com política de incentivos à produtividade relacionado com o número de multas passadas. Funcionários da EMEL vão, no entanto, ter outros objetivos para cumprir, não perdendo o ‘bónus’.  

Nas redes sociais há muito que ‘circulavam’ vídeos e fotos de funcionários da EMEL – Empresa de Estacionamento e Mobilidade de Lisboa – a autuarem carros nas horas mais impróprias, depois das 23 horas, em bairros habitacionais, em situações muito duvidosas, como o proprietário do veículo ir pagar o estacionamento a um parquímetro e quando regressava já tinha uma multa no para-brisas. As histórias sucediam-se umas atrás das outras, havendo mesmo um grupo de Alvalade que se destacava pelas críticas ao comportamento dos homens da EMEL. Num grupo de Facebook, com o nome de Lesados da EMEL, somam-se as queixas, chegando mesmo a haver acusações de «burlas» e de «aldrabices». O grupo possui 1100 membros havendo publicações quase todas as semanas de situações onde se contestam multas ou colocam dúvidas relativamente a zonas de estacionamento. Na maior parte dos casos, as publicações denunciam multas ou, muitas vezes, as abordagens por parte de agentes da EMEL.

Com uma população envelhecida, Alvalade assiste todas as manhãs a um corrupio de carros da EMEL a multarem os automobilistas, muitos deles idosos que foram tomar café, deixando o carro em segunda fila, mesmo à porta do estabelecimento. O melhor exemplo é o da Avenida da Igreja, onde muitas pastelarias e cafés vão perdendo clientes por causa da perseguição dos funcionários da EMEL, conforme relataram ao nosso jornal vários alvaladenses.  O coro de protestos aumentou com a publicação de textos nas redes sociais de alguma figuras conhecidas da televisão. O caldo estava quase entornado e uma reportagem da CMTV deitou ainda mais gasolina na fogueira ao revelar que os inspetores da empresa municipal ganhavam à comissão, havendo por isso uma verdadeira caça à multa. E foi aqui que entrou em campo o autarca responsável pelo pelouro da Mobilidade da Câmara de Lisboa, Filipe Anacoreta Correia, que descobriu que o SIPO – Sistema de Incentivo à Produtividade Operacional – tinha sido aprovado em 2009 e entrado em vigor em 2011. Desde aí que muitos dos cerca de 400 funcionários levavam para casa uma ajuda à volta de 300 euros, valor apurado pelo elevado número de contraordenações que efetuavam, embora o sistema para apurar as percentagens devidas de cada multa não fosse muito linear, obedecendo a contas feito em Excel, segundo confessou ao Nascer do SOL fonte da autarquia. Na posse desses dados, o novo Executivo camarário decidiu acabar com esse sistema de incentivos, tendo o anúncio sido feito numa reunião camarária desta semana. «Estou chocado e acho esta política de incentivos completamente inaceitável», disse na ocasião Filipe Anacoreta Correia.

Como seria de esperar, a decisão não foi pacífica, pois os funcionários da EMEL não querem ver o seu ordenado reduzido, mesmo que para isso ‘vão’ à carteira dos habitantes da cidade que procuram por todos os meios um lugar para estacionar o seu carro durante a noite.

Já Carlos Moedas, presidente da autarquia, lembrou que, «há um ano, muitas pessoas falavam da falta de fiscalização do estacionamento para residentes no período da noite, pelo que essa fiscalização tem de ser feita, mas tem de ser feita de uma forma positiva» e não contra os residentes.

O sindicato que representa os trabalhadores da EMEL achou estranho que  a CML alegue desconhecimento dos prémios pagos aos trabalhadores desde 2011. Orlando Gonçalves, do Sindicato dos Trabalhadores do Comércio, Escritórios e Serviços de Portugal, não poupa nas palavras, em entrevista à TSF. «Estranha-me muito que ontem a Câmara Municipal de Lisboa tenha vindo dizer que não sabia do que é que se passava relativamente a estas questões. É inadmissível quando nós próprios, o próprio sindicato, já tinha feito essa denúncia à própria Câmara Municipal de Lisboa e virem agora dizer que não têm um conhecimento relativamente a esse assunto é que é inacreditável. Quando surge um problema começam todos a dizer que não sabiam de nada e sobra sempre para o mesmo, que normalmente são sempre os trabalhadores mais baixos».

 

Incentivos sem multas

A Câmara de Lisboa quer substituir a cultura vigente na EMEL, a da caça à multa, por uma mais próxima dos habitantes da capital. O Nascer do SOL sabe que o fim do ‘suplemento’ das multas poderá ser ‘trocado’ por outros objetivos colocados aos trabalhadores. «Queremos que possam ganhar o equivalente ao que ganhavam até aqui com as multas, se cumprirem objetivos que estão a ser pensados, à semelhança do que se faz noutras capitais europeias. Muito provavelmente, haverá incentivos por carros ‘fiscalizados’ pela aplicação que os funcionários têm, além de outros desafios que serão colocados à EMEL. Certo é que não queremos esta cultura de caça à multa», disse ao nosso jornal fonte da autarquia da capital.

«Não se muda uma cultura de um dia para o outro, mas os trabalhadores vão perceber que não podemos estar contra os habitantes, e que temos de encontrar formas corretas de fiscalizar o que tem de ser fiscalizado, mas sem essa ânsia de multar», acrescentou.

Recorde-se que a semana que agora termina foi marcada, no que à EMEL diz respeito, pela suposta agressão de três funcionários a um automobilista, como dava conta a edição de terça-feira do CM.  Quer o presidente como  o vice-presidente da autarquia repudiaram, como é óbvio, tais comportamentos e um processo foi aberto para apurar o que verdadeiramente se passou. O estranho desta notícia foi o facto dos funcionários da EMEL terem sido os agressores, pois, por norma, são os empregados da empresa os agredidos, havendo muitos relatos de pessoas que ficaram traumatizadas por causa das agressões que sofrem com alguma regularidade. 

*com Fábio Sousa