A decisão já está tomada e aguarda-se pelo anúncio público por parte do Vaticano sobre o novo patriarca de Lisboa, embora a declaração oficial já seja esperada desde a semana passada. O Nascer do SOL sabe qua alguns dos nomes dados como favoritos para ocupar a cadeira do Patriarcado de Lisboa ficaram pelo caminho, nomeadamente D. Américo Aguiar, bispo auxiliar de Lisboa e responsável pela organização da Jornada Mundial da Juventude, bem como D. Virgílio do Nascimento Antunes, da diocese de Coimbra, e D. Francisco José Villas-Boas Faria Coelho, arcebispo da arquidiocese de Évora.
Estes eram os três nomes mais falados no mundo eclesiástico, e fontes ligadas ao Vaticano dizem que o Papa decidiu seguir uma linha mais consensual. Mas como na Igreja nada é claro até haver fumo branco, outros responsáveis eclesiásticos não dão como certo que seja verdade que esses três nomes tenham sido afastados. Um alto responsável da Igreja fala nos rumores que circulam sobre o futuro patriarca – o nome mais falado é o de D. Nuno Brás da Silva Martins, bispo de Funchal –, mas diz que isso «vale zero. O Papa já nos mostrou que é imprevisível e que o Núncio Apostólico que levou os três nomes até pode ter dado indicações mais favoráveis a este ou aquele, mas Francisco também tem as suas ‘fontes’ e decide pela sua cabeça».
Já outra fonte da Igreja Católica portuguesa acrescenta que o escolhido terá um perfil mais próximo do antigo cardeal José Policarpo, e que será um homem culto e capaz de fazer as pontes entre as duas tendências, conservadores e progressistas. Ao longo dos últimos meses muitos nomes têm sido apontados como futuro patriarca de Lisboa, havendo como que uma espécie de ‘guerra’ entre as diferentes sensibilidades. Se há uns meses se dava como certo que D. Américo Aguiar seria o escolhido, agora é um dos nomes que mais controvérsia provoca na Igreja de Lisboa, sendo essa a razão para muitos dizerem que foi excluído. O seu passado ligado à política, foi autarca eleito pelo PS, e o facto de ser bastante novo, ainda não tem 50 anos, faria com que se transformasse numa espécie de novo cardeal Cerejeira – que ocupou o cargo durante 42 anos durante o Estado Novo –, além de não ser dos mais próximos de Tolentino Mendonça, o cardeal ‘amigo’ de Francisco, até por ter orientado o retiro espiritual do Papa.
Padre Mário Rui inocentado
Entretanto, a notícia que ontem mexeu com a comunidade católica foi o fim da medida cautelar do processo instaurado ao padre Mário Rui, conhecido mediaticamente por ter casado André Ventura e por ser o seu líder espiritual – o presidente do Chega chegou a dizer que se sentia «chocado» com o conhecimento da acusação que recaía no seu padre amigo.
Vamos ao filme. A Comissão Independente tinha recebido uma queixa anónima contra o padre Mário Rui e a Comissão Diocesana recomendou ao Patriarcado de Lisboa a suspensão preventiva do padre em questão, até se apurar a veracidade da queixa ou a inexistência de provas factuais. Três meses depois, e sem que alguma vez se tenha conseguido chegar à fala com o autor da queixa anónima, e depois de tudo investigado, decidiu-se pelo fim da medida cautelar de afastamento do padre Mário Rui.
Assim que tomou conhecimento da medida, o padre não perdeu tempo e escreveu uma «Mensagem aos Paroquianos de São Nicolau e Santa Maria Madalena». Bastante crítico com a Comissão Independente e com a Comissão Diocesana, Mário Rui agradeceu o apoio que recebeu nestes quase três meses, e passou ao ataque. «As situações de abuso sexual causaram demasiadas vítimas que arrastam ainda hoje consigo demasiada dor e amargura. Uma só vítima já era demasiado. A Igreja impôs tolerância zero para este cancro moral. Não juntemos a estas verdadeiras vítimas inocentes, que exigem justiça, outras vítimas também elas inocentes.
Sou uma vítima inocente de uma difamação anónima. A denúncia que, cobardemente, me atingiu, foi a de ter cometido crimes terríveis e eu não os cometi. Ainda assim, fui afastado preventivamente e sofri uma gravíssima injustiça. As provações são aliviadas pela certeza de Deus me amar e por Lhe oferecer as dores, transformando assim o enorme sofrimento em força espiritual. A ofensa deve ser reparada pela atestação da verdade».
Depois, o padre Mário Rui dá conta da sua dor: «No dia 12 de Junho, o instrutor da investigação prévia, deu por finda a averiguação prévia e dada a inverosimilhança da denúncia, propôs ao Bispo que fosse levantado o ‘afastamento preventivo’. Medida justa que ontem, dia 14 de Junho, foi aplicada pelo Patriarca de Lisboa.
A justiça foi reposta, mas o dano manter-se-á. Tudo por obra do um qualquer autor de uma denúncia cobarde, feita de forma anónima e totalmente falsa. O autor dessa calúnia fica entregue ao cuidado e ao juízo misericordioso de Deus».
Seguiu-se o ajuste de contas com as comissões, antes de agradecer à família, aos clérigos que lhe demonstraram solidariedade e a todos os fiéis.
«Enquanto vítima escolhida por esta denúncia anónima não posso deixar de reflectir nos aspectos seguintes:
A Comissão Independente recebeu e transmitiu a denúncia, fazendo de mera caixa de correio e dando ressonância à calúnia. Lavou as mãos como Pilatos, e integrou esta denúncia soez na listagem dos eventos que anunciou, de forma estridente e sensacionalista. O cenário montado e algumas intervenções públicas de membros da comissão, condicionaram os passos seguintes deste processo.
Na verdade:
A Comissão Diocesana cedeu à fortíssima pressão mediática. Não teve a ponderação exigida diante de uma denúncia anónima, difamatória e sem verosimilhança. Recomendou o meu afastamento do exercício público do ministério, insensível às consequências que daí derivariam inevitavelmente para mim.
Não pode deixar de se considerar como chocante, arrepiante mesmo, o potencial de destruição permitido a um acto mentiroso de cobardia. Pergunto-me, amiúde, o que teria ocorrido se o caluniador tivesse visado mais 20, 30, 50 ou 100 sacerdotes, ou um ou mais bispos. Seriam todos afastados do ministério? Como poderia ser logrado este resultado apenas por alguns minutos de escrita anónima? Trata-se de um cenário assustador. Como pode gente decente ficar à mercê destas condutas?».
Certo é que o padre Mário Rui estará de volta às suas igrejas e já dará missa no próximo domingo, dia 18. Segundo a Comissão Diocesana, foi levantada a medida cautelar de afastamento em relação ao padre Mário Rui.
O processo terá ainda de ir ao cardeal, para que este dê a investigação por finda, e depois seguirá para Roma, que tem a palavra final. Só após o Dicastério de Roma entender que nada mais há a fazer, o processo será arquivado.