A pressão imobiliária é um dos impactos mais visíveis do turismo. Os preços das casas tanto para compra como para arrendamento não param de aumentar e a tendência é para se manter. Segundo os resultados de um inquérito da Universidade de Munique, que reúne as previsões de mais de mil economistas, o preço das casas em Portugal irá voltar a aumentar mais de 8% por ano na próxima década.
Números que vão ao encontro do que tem sido revelado pelo Instituto Nacional de Estatística (INE), em que a avaliação das casas voltou a subir em julho. O metro quadrado vale em média 1552 euros, um aumento de sete euros face ao mês anterior.
Também no mercado de arrendamento as notícias não são mais animadoras. E a pressão é maior nas grandes cidades, como é o caso de Lisboa e que também por isso recebe maior número de turistas.
De acordo com o índice internacional Housing Anywhere, que analisou 64 mil imóveis em 23 cidades europeias, a capital é a cidade europeia mais cara para arrendar um apartamento. E dá como exemplo, o preço de um T1 que pode custar em média 2500 euros por mês. Ou seja, mais 200 euros do que Amesterdão, que até aqui era considerada a cidade mais cara.
O mesmo cenário repete-se no preço dos quartos depois de ter registado um aumento na ordem dos 30%, passando de 425 euros para uma média de 525 euros por mês.
Lisboa é também a cidade europeia com maior subida anual no valor dos estúdios, que são agora cerca de 70%.
Os dados divulgados pelo INE já tinham indicado este caminho, em que o preço por metro quadrado subiu 9,4% no primeiro trimestre do ano quando comparado com igual período do ano passado a fixar-se nos 6,74 euros por metro quadrado. Este foi o segundo maior valor da renda da casa registado desde 2020, muito embora tenha descido 2,5% face ao trimestre anterior.
Estas subidas respondem à lei da oferta e da procura, com esta última a ganhar cada vez mais terreno e no caso do arrendamento ainda ganhou maiores contornos com os proprietários a deslocarem as suas casas para o alojamento local.
A pensar neste e em ouros problemas o Governo aprovou o pacote Mais Habitação que entretanto foi vetada pelo Presidente da República. Mas tendo sido um veto político – em que manifestou o seu descontentamento mas sem efeitos práticos – o Executivo promete manter as mesmas linhas: limitações ao alojamento local e arrendamento coercivo.
Responsáveis afastam culpa Mas apesar destes aumentos, tanto proprietários como empresários do alojamento local negam ser responsáveis por esta pressão no mercado imobiliário e defendem que deve o Governo resolver o problema da falta de habitação. Em entrevista ao Nascer do SOL, Ana Jacinto, secretária-geral da AHRESP, afirmou que “o alojamento local não pode ser associado à falta de habitação, não tem nada a ver com a falta de habitação. O alojamento local sempre existiu e também sempre existiu a falta de habitação. Obviamente que estamos muito preocupados com a falta de habitação”.
Também ao nosso jornal, o presidente do Turismo Porto e Norte, Luís Pedro Martins confessou: “Não sou nem naïf, nem ingénuo, e muito menos pouco transparente. Se me perguntarem se o turismo só traz coisas boas? Não, não é verdade. O turismo tem impactos muito positivos, mas também tem alguns impactos negativos”.
No entanto lembra que, na balança contam mais os impactos positivos e é por isso que vale a pena apostar no turismo. “Claro que há questões que importa regulamentar e julgo que é isso que alguns municípios já estavam a fazer, nomeadamente o Porto e Lisboa. O único apelo que faço, e acho que há esse cuidado, é que o território não seja visto como um todo, porque se há pressão no alojamento local nas freguesias dos centros históricos das grandes cidades, essa pressão não existe, mesmo em cidades como Porto e Lisboa se nos afastarmos um pouco do centro, e muito menos existe quando nos afastamos das grandes cidades e vamos para o interior”.
Excesso de turistas Atualmente, há cada vez mais destinos mundiais a registar recordes de visitas e hóspedes, em que Portugal não é exceção, e esse movimento surge agora associado a overtourism [turismo em excesso] e, muitas vezes, a vários protestos por parte dos residentes.
E com este excesso de turismo surgem outros problemas, principalmente nas grandes cidades, problemas ambientais (poluição sonora e atmosférica) nas ruas ou junto aos aeroportos ou terminais de cruzeiros, sobrelotação dos transportes públicos, acumulação de lixos e resíduos urbanos que a rede de recolha não consegue escoar e o encerramento do comércio local tradicional de bens de primeira necessidade (mercearia, talho, peixaria, minimercado, etc.), substituído pelo comércio moderno exclusivamente dirigido a turistas (hamburguerias gourmet, lojas de souvenirs, etc.).