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Filipa Melo


  • Paraíso do medo

    Da verdadeira Hanna, branca, sueca, dona de um dos bordéis de Lourenço Marques no início do séc. XX, conhece-se apenas um registo de pagamento de impostos. A partir desses dados parcos, Henning Mankell criou Hanna Lundmark/Ana Branca/Ana Negra, protagonista de Um Anjo Impuro, o seu vigésimo e mais recente romance, lançado em 2011.

    Paraíso do medo

  • Conta justa

    No prefácio de De Profundis, Valsa Lenta (1997), o neurologista João Lobo Antunes salienta como José Cardoso Pires “prende sempre a memória à imaginação”, qualidade rara que tinge toda a sua produção literária e que o escudou de forma inédita dos efeitos devastadores de um acidente vascular cerebral. 

    Conta justa

  • Livro. Estranho estrangeiro

    Sem rede, sem rumo, sem mapa, constrangidas por todos eles. Nas ficções do gaúcho João Gilberto Noll (n. 1946), as personagens principais estão em trânsito, numa «travessia geográfica e existencial» (David Treece). Mudam para se libertarem, mas acabam por se ver presas de novo, porque a ameaça se revela toda interna e difusa. É o…

    Livro. Estranho estrangeiro

  • O fascínio do Mal

    Como pensar e contar por palavras o impensável e o indizível? Albert Camus foi um dos primeiros a tratar na ficção o tema do nazismo, em 1947, na metáfora filosófica A Peste. Entretanto, entre o testemunho em bruto dos sobreviventes surgiam obras-primas de realismo (por Primo Levi, Robert Antelme, Elie Wiesel, Imre Kertész ou Jorge…


  • Máquina de lama

    Imagine-se sedento e de boca aberta sob uma torneira. Imagine que a gota pela qual tanto suspira nunca chegará a cair porque ficou entalada a meio do percurso. Blop, blop, e nada. Para Umberto Eco esta é a metáfora para retratar a actual relação do público (esclarecido) com os média. A imprensa divide-se em títulos…

    Máquina de lama

  • Nós, pelo avesso

    Sabia que D. Afonso Henriques bateu na mãe, mas sem ser com a mão? Que a nossa época de ouro não foi a dos Descobrimentos, mas, sim, a de D. Afonso III e do seu filho, D. Dinis, quando o Estado se mostrou mais organizado, harmonioso e próspero? Sabia que a nossa História, tão olimpicamente…

    Nós, pelo avesso

  • Salter, o bissexto

    A dado passo do mais recente romance de James Salter, uma personagem justifica por que prefere Tolstói. Em Infância, o primeiro texto publicado pelo autor russo, há um pequeno capítulo em que descreve as duas únicas paixões do seu pai: “Nós pensamos que ele vai dizer a família e as terras, mas afinal são o…



  • Os amigos das nuvens

    Alexei Feodossievitch Vangengheim, cientista, burguês comunista, membro do partido, era o “amigo das nuvens”, criador e director do serviço meteorológico (unificado) da URSS. Nada faria prever que cairia em desgraça, mas, no regime de Estaline, “não havia ninguém que escapasse a uma morte anunciada”.

    Os amigos das nuvens

  • A morte sai à rua

    Repudiada, descarnada, exorcizada, liofilizada. Na civilização ocidental, a morte passou de tabu a facto social «normal», expurgado de escândalo (a não ser mediático) ou valor metafísico. A morte da morte acompanhou a descaracterização e desvalorização do corpo humano «natural». Então, o que resta no século XXI do combate entre a vida e a morte? A…

    A morte sai à rua

  • Pessoa conta

           


  • Sangue ou fé?

    Um rapaz precisa com urgência de uma transfusão de sangue, mas ele e os pais, testemunhas de Jeová, recusam-se a autorizá-la. O hospital decide solicitar uma intervenção imediata do tribunal. Fiona Maye, juíza da Divisão de Família do Supremo Tribunal a quem é atribuída a decisão, protagoniza A Balada de Adam Henry. Os colegas elogiam-na…

    Sangue ou fé?

  • O mistério poético de Herberto

    Religiosos têm sido os maiores poetas portugueses”. António Quadros defendeu esta ideia em 1979, num texto de evocação de José Régio, a quem atribuía o pódio do génio poético português no século XX, a par de Teixeira de Pascoaes e Fernando Pessoa. É impossível saber se, porventura vivo, o filósofo estenderia hoje a graça a…

    O mistério poético de Herberto

  • Livro: Matar a fingir

    «É um livro doente, escrito por uma mente doente e está a ser promovido por uma estação de radiodifusão doente». Em Novembro último, lord Tebbit, ex-membro do primeiro Governo de Thatcher, insurgiu-se contra a difusão pela BBC-Radio 4 de O Assassinato de Margaret Tatcher: 6 de Agosto de 1983. A narrativa ficciona o assassínio da…

    Livro: Matar a fingir

  • Apanhar ar

    Na fotografia a preto e branco, Adília está sentada sobre uma miniatura de um banco tradicional alentejano, mãos postas, no regaço. É uma fotografia já antiga, de finais dos 90. Ao mesmo tempo, Adília parece pequena (uma criança) e gigante (a transbordar da mobília). Familiar e única. Também na poesia, Adília compõe um mundo à…

    Apanhar ar


  • Não te esqueças

    Quando, em 1988, Dora Bruder entrou na vida de Patrick Modiano, ela já estava morta há 45 anos. Ao folhear um velho exemplar de 1941 do jornal Paris-Soir, o escritor francês (Prémio Nobel 2014) fixou um anúncio colocado pelos pais de Dora, solicitando o envio de quaisquer informações sobre a filha desaparecida para a morada…


  • Eu, eu e ainda eu

    Após uma longa prelecção sobre si mesmo, X incita o interlocutor: “Mas, não falemos de mim, falemos de ti. O que achas de mim?”. Podia ser só uma piada, se não traduzisse uma das gangrenas do nosso tempo: o abuso do amor-próprio, suporte para o autismo ético, a ganância e o solipsismo. Eu sou, logo…

    Eu, eu e ainda eu

  • Os degraus da história

    Início da tarde de 22 de Setembro de 1963. Um carro funerário transformado em autocarro escolar  percorre as ruas da zona de Lisbon Falls, na cidade de Lisbon, estado do Maine. Lá dentro, o motorista, Mike, sujeito circunspecto, sobe o volume do rádio e pede aos adolescentes para se calarem. Um locutor anuncia a morte…

    Os degraus da história