O Museu da Língua Portuguesa não era apenas mais um museu, nem era apenas um Museu de São Paulo, ou do Brasil.
A hipocrisia, despudorada filha da cobardia e do chico-espertismo, tem efeitos mais devastadores do que o buraco do ozono. É uma terrorista disfarçada de virgem vestal.
Pus-me a pensar na frase que mais vezes terei ouvido ao longo da vida. O resultado deixou-me muito feliz. Depois pensei na segunda frase que os meus ouvidos mais escutaram, e é esta: “Foste muito ingénua”.
Do mesmo modo que, como escreveu André Breton, a pornografia é o erotismo dos outros, a cobardia é a coragem dos outros, e ao ideal dos outros chamamos ganância.
Tem de haver outra maneira de viver. Foi isso que a Assembleia da República disse na passada terça-feira. Aconteça o que acontecer, espero que a mensagem não se dissolva na espuma da resignação, como tantas e tantas vezes acontece em Portugal: a grandes emoções sucedem-se maiores apatias.
Uma excelente autarca contou-me há anos que as mulheres do seu partido ficavam chocadas quando ela dizia que gostava do exercício do poder; é suposto que, mais ainda do que os homens, as mulheres exibam ares de vítima martirizada quando assumem algum cargo, pelo menos no setor público.
Os grandes espíritos raramente são compreendidos no seu tempo – tragédia cronológica sem solução aparente, que apenas tem feito lucrar os pseudo-exegetas posteriores, arvorados em donos das verdades difíceis que o tempo entretanto fez o favor de tornar correntes.
Paris continua a ser uma festa. Calhou-me ainda por cima estar lá no primeiro sábado de outubro, o da Noite Branca, celebração anual da música e das artes – por sinal com direção artística de José Manuel Gonçalves, um programador português que há dois anos, em entrevista ao Le Monde, definia arte como “uma utopia…
No chamativo sítio da internet da nova Prémio Nobel da Literatura, escrito nesse esperanto dos tempos modernos que é o inglês, encontrei uma frase da própria que, por contraste, me fez pensar imediatamente em si.
Milan Kundera descreveu o mundo como «o planeta da inexperiência» em que a vida humana é um permanente esboço sem hipótese de retificação.
Uma pessoa lê uma notícia sobre a caravana Aylan Kurdi, louvável e eficiente iniciativa que mobilizou a sociedade civil portuguesa e levou três camiões TIR de ajuda aos refugiados encurralados nas fronteiras do leste europeu, e a seguir cai na caixa de comentários da respectiva notícia: a sensação é a de ter caído num esgoto.
Três temas têm estado escandalosamente ausentes dos debates eleitorais: a Justiça, a Educação e a Cultura. Não por acaso, as três áreas políticas que se ocupam dos valores que orientam uma sociedade e do pensamento e da criação que a transformam.
Uma vez tentei votar e não me deixaram: foi nas eleições autárquicas em 2005. Na data das eleições, 9 de Outubro, participaria num evento literário no Brasil, a convite do Instituto Português do Livro e das Bibliotecas, ao qual pedi uma carta explicando a situação, para solicitar à Comissão Nacional de Eleições o voto antecipado.…
A preocupação com a baixa natalidade na Europa contrasta violentamente com o medo da invasão dos refugiados vindos de países devastados pela guerra e/ou fome. Milhares de crianças chegam diariamente à Europa, em condições miseráveis – muitas vezes sozinhas, porque viram os pais morrer pelo caminho, ou porque fugiram depois de verem a família dizimada…
Nenhum sentimento tem as costas tão aladas como o ciúme: as asas fuliginosas deste anjo negro justificam qualquer ignomínia. Há dias, o Correio da Manhã trazia o seguinte título: Polícia ciumento esfaqueia ex-namorada. Como quem diz: o polícia, coitado, até era muito boa pessoa; o malandro do ciúme, esse demónio dos apaixonados, é que o…
A pergunta é fundamental e velha como a filosofia. Fiquei a pensar nela depois de ler a crónica de José António Saraiva, na passada semana, onde diz que, ao contrário de mim, não tem a certeza de que não se mate por amor: “O amor exacerbado conduz muitas vezes ao ciúme doentio, e daqui ao…
A ser verdade, a história contada ao jornal Observador por uma das protagonistas involuntárias dos cartazes do PS é grave: configura abuso de poder sobre uma trabalhadora em situação precária.