No primeiro dia deste mês, depois da reunião do Comité Central do PCP, Jerónimo de Sousa atirou para o espaço público uma frase poderosa: «Termina o mito de que é possível fazer a quadratura do círculo, responder aos problemas da Saúde e da Educação e aceitar a submissão aos ditames da União Europeia e do euro». O ambiente entre Governo e partidos que apoiam o Governo na Assembleia da República atingia por esses dias o grau zero da delicadeza. O recentramento do PS e do Governo decidido por António Costa, Augusto Santos Silva e Vieira da Silva contribuía cada vez mais para uma hostilização dos apoiantes do Governo no Parlamento. Do Acordo de Concertação Social – que foi esta semana viabilizado pelo PSD, que se absteve – ao conflito sobre os professores, a ideia de que o desabar da ‘geringonça’ poderia estar iminente atravessou alguns espíritos. O PCP parecia cada vez mais agressivo contra o Governo e o Bloco de Esquerda mostrava idêntica violência. Ainda haveria ‘geringonça’ para aprovar o Orçamento do Estado para 2019?
Ontem, dia 20 de julho, o líder parlamentar do PCP, em entrevista ao Público, admitiu que os comunistas podem fazer novo acordo com o PS depois das eleições de 2019. Só que não será a ‘geringonça’ tal como existe hoje. Isso efetivamente acabou ou está em vias de acabar depois de aprovado o Orçamento do Estado para 2019.
Ao invocar expressamente os Governos de António Guterres, o PCP diz que só estará disponível para os acordos de geometria variável – que é o que está na cabeça de António Costa se não tiver a maioria absoluta. Nem é preciso papel nenhum, garantiu João Oliveira. Guterres também não assinou papel nenhum com Marcelo Rebelo de Sousa, que lhe aprovou vários Orçamentos, e provavelmente também não assinará nenhum com Rui Rio, que desde a primeira hora se manifestou disponível para apoiar um Governo minoritário do PS.
A ‘geringonça’ como até agora existiu está morta e arrefece. António Costa, o mais que provável vencedor das legislativas de 2019, governará à esquerda ou à direita conforme o que estiver em cima da mesa, caso não tenha maioria absoluta. Voltou o velho «PS de sempre», como António Costa prometeu no Congresso de maio.