Chipre

São fáceis as tiradas inflamadas a propósito da situação cipriota. Economia de casino, lavandaria, paraíso de oligarcas e mafiosos ou, noutro extremo, democracia em xeque, germanização ou loucura. Não consigo ter uma opinião de ‘preto ou branco’ e não invejo aqueles que foram chamados a decidir sobre este caso.

impressionaram-me as palavras de christopher pissarides – cipriota e prémio nobel da economia – ao público da passada terça-feira: a solução encontrada destrói o modelo económico que garantiu 30 anos de grande prosperidade e, mais pungentemente, «o que vamos fazer? regressar à agricultura?»

chipre defronta, de facto, um ‘dia seguinte’ repleto de incertezas, pois não existe ponto de retorno para o seu sector financeiro. a confiança, uma vez perdida, dificilmente regressará. mas, ainda assim, temo que pissarides estivesse a falar mais como cipriota do que como nobel. aparentemente, os números dão-nos uma visão menos apocalíptica: os serviços financeiros representam 5% do emprego e 8% do produto. dificilmente, pois, uma situação de ‘monocultura’.

também não me parece colher o argumento de que o sector financeiro operava dentro das leis e regulamentos europeus e que nunca foram provados casos de ‘lavagem’. ao aplicar recursos num sector tão insuflado, todos os agentes económicos – depositantes, investidores e autoridades reguladoras nacionais – sabiam, ou deviam saber, os riscos que corriam. a necessidade de aplicar os gigantescos recursos captados levou a aplicações cada vez mais arriscadas, como por exemplo a exposição à dívida grega. o risco foi, pois, a contrapartida das rentabilidades acima do mercado que, durante anos, foram proporcionadas.

a decisão das autoridades europeias, de fazer incidir os custos do resgate dos bancos cipriotas sobre os seus principais credores parece-me, pois, conforme os mais elementares princípios da economia de mercado. muito melhor do que a situação encontrada para a irlanda, em que foi o contribuinte anónimo a bancar esses resgates.

mas, como notou pissarides, uma coisa é certa. quem, em qualquer país do euro, tenha depósitos superiores a cem mil euros num banco que apresente prejuízos deve precaver-se.