Discursos estranhos

É sempre bom estar atento ao que se diz ou se escreve na comunicação social. Há dois assuntos que me fazem particular impressão.

O primeiro é o debate sobre a taxa de desemprego. Em Portugal, o desemprego desce no verão, devido aos empregos criados na hotelaria e na restauração, e sobe no inverno, quando esses empregos desparecem. Para evitar essa oscilação, o INE corrige agora estes números. São, na gíria, corrigidos de sazonalidade-

Por isso, oiço com espanto dirigentes do PSD continuarem a usar o argumento da sazonalidade para justificar o recente aumento do desemprego. No mínimo, é desautorizar o INE. No máximo, é tentar confundir os portugueses.

O segundo assunto que me faz impressão na comunicação social é a atenção dada às eleições presidenciais, como se não tivéssemos antes as eleições legislativas, na qual decidimos o governo do país, em princípio por quatro anos. Possivelmente os portugueses estão cansados dos partidos, que são quem disputam as legislativas e formam os governos, e ligam mais às presidenciais, talvez esperando um homem providencial.

Se ao menos existissem homens providenciais… Pessoalmente, não acredito que surjam.

A atenção vai-se continuar a dividir entre as duas eleições. Mas, como as legislativas são primeiro, é natural que ganhem um pouco mais de atenção à medida que o sufrágio se aproxima. Escolher o governo é uma decisão de responsabilidade. O presidente da república tem um papel central no nosso sistema político, mas não governa.