EMEL. A informática falha mas as multas não

Manuel Monteiro pagou indevidamente pela estadia no parque de reboques da EMEL. Ana Martins foi multada quando a aplicação estava em baixo. A tolerância é zero, mesmo quando é a informática a falhar

Como tem por hábito pôr o carro na garagem, Manuel Monteiro nunca sentiu necessidade de ter o dístico de residente que dá direito a estacionar na Calçada da Palma de Baixo, onde mora. Isto até ao dia em que é avisado de que o acesso às garagens dos prédios estaria inacessível devido a obras camarárias. “Cheguei a casa e, mea culpa, estacionei cá fora sem me lembrar de pôr o ticket do parquímetro”, conta ao i.

No dia seguinte saiu de casa já durante a tarde e o carro não estava estacionado no lugar onde o tinha deixado. Primeiro passo, e tal como a EMEL anuncia no seu site, o ex-presidente do CDS enviou um sms para o número 3838 com a palavra “reboque” seguida da matrícula do carro. Resposta: “A viatura não se encontra em nenhum parque. Dirija-se à esquadra da PSP mais próxima.”

Ainda antes de fazer o que era indicado na mensagem, Manuel Monteiro, “por descargo de consciência”, ligou para a Polícia Municipal, de onde garantiram que o carro não teria sido rebocado. Mas nem seria preciso. Segundo a informação no site da EMEL, o sistema “é transversal a todas as forças de segurança” e, por isso, deve indicar se o carro foi removido pela EMEL, Polícia Municipal de Lisboa ou PSP.

Já na esquadra, faz a participação do roubo do carro e, aconselhado pelo agente, volta a ligar para a EMEL, já no dia seguinte, de onde, para seu espanto, lhe dizem que o carro estava no parque de reboques. “Claro que fiquei contente com a notícia mas, ao mesmo tempo, indignado pela falta de coerência em todo este processo”, refere. É que fazendo as contas, e depois de ter já toda a informação em mãos, percebeu que o carro foi rebocado no dia 7 de fevereiro às 16h56 e o último sms que enviou para o número dos reboques foi às 23h de dia 8, sempre com resposta negativa.

Na hora de levantar finalmente o carro, já no dia 9, pagou um total de 154 euros: 30 pela contraordenação, 84 pela remoção do veículo e 40 euros pelo tempo que ficou no parque da EMEL. “O que me indigna não são os 40 euros”, garante, “mas sim a incompetência de um serviço que, no final, é responsabilidade da Câmara de Lisboa.”

Falhas no sistema A PSP garante ao i que este caso não é isolado e que já receberam mais lisboetas à procura de um carro supostamente roubado mas que, ao contrário do que o sms da EMEL dizia, teria sido apenas rebocado.

Contactada pelo i, a EMEL não esclareceu, até ao fecho da edição, quantos casos do género já foram registados e qual a justificação para que isto aconteça. Mas a origem destas falhas poderá estar num erro humano, uma vez que basta que o funcionário encarregado do reboque não insira a matrícula do carro no sistema informático para que, na prática, a viatura não esteja registada na lista de rebocados.

Erros informáticos Se no caso de Manuel Monteiro, o sistema pecou por défice; no caso de João Branco, esse mesmo sistema volta a falhar, mas agora, podemos dizer, por excesso, uma vez que, apesar de ter o carro estacionado à porta de casa, a EMEL insiste que a viatura está no parque de reboques.

No início deste ano, João confundiu o local onde tinha estacionado o carro e, ao não o encontrar no local esperado, contactou a EMEL através de sms, tendo obtido resposta positiva: o carro tinha sido rebocado. Já no parque, percebe que afinal o seu carro não está nos registos de entrada e, mesmo fazendo uma ronda com a ajuda de um funcionário, não encontra lá a viatura.

No próprio dia, lembra-se que afinal tinha parado o carro na rua ao lado, onde de facto se encontrava ainda estacionado. No entanto, ainda hoje, e já por brincadeira, volta e meia envia o mesmo sms para o 3838 e continua a ter a mesma resposta: Parque de Entrecampos, com a respetiva morada e horário de funcionamento para que possa ir lá levantá-lo.

ePark também falha Se abrirmos o leque das soluções informáticas da empresa, não há como não falar da aplicação ePark, através da qual o utente pode carregar os parquímetros através do telemóvel.

No entanto, também neste processo já foram registadas falhas e Ana Martins já foi vítima delas mais do que uma vez. A mais recente aconteceu quando percebeu que já estava a ultrapassar o tempo estipulado pelo dinheiro que tinha posto no parquímetro e recorreu à ePark para a atualização. “A aplicação estava em baixo, demorou uns cinco minutos a atualizar, o suficiente para ter uma fiscal a multar-me”, conta ao i. Ainda tentou persuadi-la, mas a funcionária aconselhou-a a apresentar queixa. Foi o que fez, ainda que, admita, “apenas por descargo de consciência”. Como resposta recebeu a explicação esperada: “O veículo em causa foi autuado em virtude de ter sido excedido o tempo para o qual tinha sido efetuado o pagamento da tarifa de estacionamento de duração limitada”. Quanto à “impossibilidade de aceder ao ePark”, a EMEL explica que, nesses casos, “deverá dirigir-se ao parquímetro mais próximo”. Tendo em conta o relato de Ana, talvez se tenha esquecido de acrescentar a palavra “rapidamente” à frase.