Falou de Sá Carneiro, falou da AD, falou do PPD.
Falou de um tempo em que o partido era grande e liderava a direita.
E, vamos mais longe, quando se apresentava como um partido popular (PPD) e não como um partido social-democrata, nome que foi adoptado num período específico, por razões puramente tácticas.
Na Europa, socialismo e social-democrata são uma e a mesma coisa, confundem-se e fazem parte do mesmo grupo.
Para o PSD ser uma verdadeira alternativa ao socialismo, não pode ser isso – tem de assumir uma atitude liberal, aberta, apostada no desenvolvimento da economia e não em políticas assistencialistas e redistributivas, inimigas do crescimento.
Não é por acaso que Portugal está ser constantemente ultrapassado por países que partiram de situações piores do que a nossa.
Mas se o primeiro discurso de Luís Montenegro apontava neste sentido, o segundo pareceu ser feito por outro homem.
Não sei o que lhe disseram durante a noite, mas Montenegro esqueceu o PPD, fez um voto de fé na social-democracia, falou da integração dos imigrantes, disparou sobre «o ultraliberalismo» e «a xenofobia e o racismo», usando os clichés da esquerda.
Implicitamente, atacou a IL e afirmou que nunca fará alianças com o Chega.
Esta afirmação foi tanto mais surpreendente quanto é certo que, durante a campanha para as diretas, Montenegro nunca a quisera fazer.
Mais: fora essa a grande diferença entre ele e Moreira da Silva.
Agora, não.
Em vez de traçar uma única linha vermelha entre direita e esquerda, Montenegro pôs-se a traçar linhas vermelhas dentro da direita.
Soou estranho.
Até porque, atacando os partidos à sua direita, o PSD corre o risco de afugentar os eleitores desses partidos – quando teria de os aliciar.
Repare-se: se o Chega e a Iniciativa Liberal tiveram os resultados que tiveram, foi porque o PSD não soube dar resposta a determinados problemas que muitos portugueses sentiam.
Assim, o que Luís Montenegro teria de fazer era tentar identificar esses problemas e procurar dar-lhes resposta.
Mas, em vez disso, pôs-se a atacar os que fugiram para a IL e o Chega, disse que não os quer no PSD, chamou-lhes nomes.
Ora, sem os eleitores desses partidos, o PSD jamais chegará ao Governo.
A questão dos imigrantes, que Montenegro também referiu, é outro tema sensível.
E grave.
Não é razoável que a África, o Médio Oriente, mesmo parte do Extremo-Oriente se mudem para a Europa.
A imigração é uma bomba relógio, como já se está a ver em certas zonas do nosso continente.
Percebe-se que Portugal precise de imigrantes para resolver problemas de mão-de-obra.
Mas a solução estrutural deste problema tem de estar no aumento da natalidade e não na imigração.
Esta tem de ser vista como um ‘recurso’ e não como uma ‘solução’.
Além disso, para integrar os imigrantes é preciso regular a imigração.
Com uma imigração descontrolada será impossível uma boa integração.
Nessa medida, antes de falar em «integrar os imigrantes», Luís Montenegro deveria ter falado em «regular a imigração», não dando a ideia de que defende uma política de portas escancaradas.
Foi mais um tema em que deu trunfos ao Chega.
Estranhei ainda as promessas a eito de apoios sociais, não havendo qualquer referência aos tempos difíceis que aí vêm e que exigirão sacrifícios (que já começámos, de resto, a ter de fazer).
Também aí Montenegro parecia um político de esquerda a falar.
Mas a grande falha foi não ter havido uma única palavra sobre o ‘politicamente correto’, que se apresenta hoje como a maior ameaça à liberdade.
Já existe uma nova inquisição, que tende a amordaçar quem não respeite as novas ‘conveniências’.
Veja-se o caso dos alunos de Famalicão ou a suspensão do professor de Aveiro por alegados ataques homofóbicos.
Será que o homem matou alguém, agrediu alguém?
Ou limitou-se a manifestar a sua opinião?
Desde quando é proibido falar sobre temas de atualidade?
A verdade, porém, é que já há muita gente com medo de o fazer.
Como líder de um partido que sempre afirmou amar a liberdade, Montenegro devia ter dito uma palavra sobre isto.
As pessoas têm de sentir que há alguém com peso que defende sem reservas a liberdade de expressão.
O segundo discurso de Luís Montenegro no Congresso do PSD foi uma intervenção que muitos socialistas não desdenhariam subscrever.
Para a metade direita do eleitorado – que Montenegro tem de mobilizar, se quer sonhar ser Governo – foi um discurso perplexizante.
Julgo que alguém o condicionou.
Mas um líder que se deixa condicionar tanto de um dia para o outro não merece grande confiança.