Ficção científica made in Portugal

Na semana passada chegou às salas de cinema Collider, uma das raras produções portuguesas de ficção científica. O filme, que reuniu actores irlandeses, ingleses e portugueses, conta já há vários meses com uma legião de fãs. O universo Collider tem também disponível uma webseries, um jogo para plataformas móveis e um livro de banda desenhada, que obrigou…

nuno bernardo, mentor da beactive, define assim a produtora nacional: “somos, acima de tudo contadores de histórias. não nos restringimos a um único meio. criamos histórias e personagens que ganham vida própria e se expandem para o maior número de plataformas possível. chegamos a mais gente, até geograficamente. no caso do collider, por ser ficção científica, queríamos chegar a um público dos 18 aos 35. o público é que define onde estará disponível a história… neste caso fazia sentido a bd, os videojogos, a web e agora o filme”.

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a longa-metragem conta a história de seis pessoas misteriosamente transportadas para um futuro pós-apocalíptico. numa luta pela sobrevivência, terão de descobrir uma forma de regressar ao presente. corre o ano de 2018 e o cenário é o do campus do cern, onde se encontra o maior acelerador de partículas do mundo, o large hadron collider. apesar do enredo ter alguns pontos em comum com outros filmes do mesmo género, “mais importante do que a história em si é a forma como a contamos”, explica nuno bernardo. “neste caso usamos as novas tecnologias para o podermos fazer da forma mais imersiva possível”. e recorda o impacto que lhe provocou o remake, nos anos 80, da guerra dos mundos, na rádio comercial. “tinha cerca de oito anos e julguei que ia morrer. mais tarde fui investigar e percebi de onde vinha a história. na época do orson welles, apesar de cerca de 30% da população americana conhecer o livro de h.g. wells, não associou as duas coisas. somente porque a adaptação foi feita de forma pouco convencional. isso marcou-me”.

apesar de collider contar com 70 efeitos digitais, algo pouco comum em produções independentes de baixo orçamento, não é fácil fazer frente a filmes do mesmo género que contam com milhões de dólares de investimento. uma forma de ajudar a contrariar essa questão pode ser o recurso ao crowdfunding: “o nosso filme teve um orçamento de 600 mil euros. nunca poderá competir com os efeitos especiais de produções que vêm dos eua, por exemplo. por isso tentamos passar a noção que este projecto não é só nosso. e isso é o crowdfunding. damos a possibilidade aos fãs de partilharem o projecto. ao ajudarem a divulgá-lo, sentem que o filme é deles”. como resultado, em cada país onde será exibido, os créditos finais incluirão os 100 nomes dos maiores fãs, seleccionados através da campanha de crowd marketing. outro aspecto que ajudou à divulgação foi a produtora ter ganho uma batalha judicial contra a gigante norte-americana das bandas desenhadas dc comics. “ganhar essa batalha também foi uma boa publicidade, principalmente a nível internacional”.

“a ambição é o mercado internacional”, avança o criador. a estreia no reino unido, irlanda e estados unidos está apontada para janeiro de 2014. outro objectivo importante é que a longa-metragem promova as vendas de jogos e bd. “o filme é apenas um passo do que fazemos. complicado é criar audiências. depois já não podemos parar”.

ainda que em portugal cada vez haja um maior número de canais de televisão, nuno bernardo desabafa: “as portas fecham-se mais agora e há menos oportunidades”. assim, depois do sucesso a nível internacional, alteraram a estratégia. “as histórias são criadas cá, mas depois fazemos os projectos fora com parceiros estrangeiros. hoje em dia nem faz sentido não pensar em formato global. estamos a assinar um contrato que nos permitirá ter os nossos filmes disponíveis em 150 países”. não é por acaso que, apesar de ter sido concebido em portugal, collider foi gravado na irlanda e usa quase exclusivamente o inglês.

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