Gasoduto de Portugal? ‘Faz todo o sentido’

Chanceler alemão voltou a defender a construção de um gasoduto com origem em Portugal. A ideia já está a ser estudada.

Com o principal objetivo de reduzir a dependência do gás russo, o chanceler alemão, Olaf Scholz, voltou a defender a construção de um gasoduto que, a partir de Portugal e através de Espanha e França, possa abastecer a  Europa. Na opinião de Scholz, esta é uma infraestrutura que até já deveria ter sido construída, uma vez que a situação atual mostra «de forma dramática» a necessidade desta alternativa.

«Um gasoduto deste tipo seria um alívio gigante para a situação atual», disse. E acrescentou: «É por isso que tenho defendido fortemente a abordagem de um projeto como este em conversações com colegas espanhóis e portugueses e em conversações com o presidente francês e a presidente da Comissão», declarou.

Por cá, António Costa ouviu o apelo e prometeu todo o empenho nacional. «A Alemanha pode contar 100% com o empenho de Portugal para a construção do gasoduto. Hoje para o gás natural, amanhã para o hidrogénio verde», escreveu o primeiro-ministro no Twitter.

A possibilidade está então em cima da mesa. Mas será boa para Portugal? «Faz todo o sentido e coloca Portugal numa posição privilegiada», começa por defender ao Nascer do SOL, Henrique Tomé, analista da XTB. E acrescenta que «é importante aqui destacar que Portugal é de longe o país mais prejudicado com o corte do fornecimento de gás russo à Europa, uma vez que grande parte do gás natural fornecido a Portugal é feito através do Norte de África, não obstante o próprio porto de Sines também tem sido um canal importante». 

O analista defende que, dentro do leque de oportunidades, esta será a decisão «mais vantajosa e sustentável quer seja a médio como a longo prazo» que, com o apoio da Alemanha não terá «entraves para a construção». E diz ainda que «dada a urgência da situação, o tempo de construção do gasoduto deverá ser encurtado».

Questionado sobre de que forma Portugal poderia ajuda neste afastamento da dependência russa, Henrique Tomé avança que o porto de Sines «pode ser utilizado como plataforma logística para o transporte e distribuição de GNL para o resto da Europa», lembrando que a estrutura «tem capacidade para tal e até então o potencial do porto não tem sido explorado ao máximo, parece que as atuais circunstâncias que a Europa atravessa, poderão impulsionar a importância do porto no panorama europeu». 

Mas, não obstante, «Portugal também recebe gás natural proveniente do Norte de África, no qual poderia ser utilizado para o resto da Europa, se se conseguirem estabelecer acordos que visem aumentar o fornecimento».

Recorde-se que já em abril o Nascer do SOL  apurou que o Governo já está a trabalhar na construção de uma solução de abastecimento de gás natural liquefeito (LNG) ao Norte da Europa, por forma a permitir uma alternativa de fornecimento de energia a países como a Alemanha ou a Polónia, dependentes do gás russo importado através do gasoduto Nord Stream.

O projeto, designado Frente Atlântica da Europa (mas que poderia chamar-se também ‘Miguel Torga’, por se basear na célebre frase do autor:«Os portugueses não transformam, transportam»),  foi apresentado pelo ministro da Economia, António Costa Silva, ao primeiro-ministro, António Costa, e este aprovou-o imediatamente, dando instruções para o antigo presidente da Partex e, portanto, especialista em mercado de matérias-primas energéticas, desenvolver todos os esforços para a sua implementação.

Nesse sentido, nessa altura existiu mesmo uma primeira reunião de trabalho para análise e discussão do projeto entre o ministro Costa Silva e os seus pares das Infraestruturas, Pedro Nuno Santos, e do Ambiente, Duarte Cordeiro, o secretário de Estado da Energia, João Galamba, e o presidente do Porto de Sines, José Luís Cacho.

A ideia de de Costa Silva passa pela construção de uma solução provisória até à construção de um  gasoduto entre Sines e o Norte da Europa, que terá de atravessar Espanha e a França. 

Aproveitando o porto de Sines e os investimentos previstos para o projeto de distribuição de hidrogénio para o resto da Europa, Portugal passará a assegurar o transhipping de gás natural liquefeito (LNG) dos grandes barcos oriundos de países produtores como EUA, Nigéria ou outros países produtores para barcos mais pequenos e de menor calado, que possam depois fazê-lo seguir para o Norte da Europa. Um dos problemas do abastecimento do Norte da Europa é a  limitação do Mar do Norte a barcos de grande calado e a saturação da navegação. O que não se aplica a barcos de menor menor dimensão e calado.

 Além disso, a proposta de Costa Silva passa também, numa segunda fase, pela aposta na ferrovia, com transporte do LNG em comboios noturnos, aproveitando a rede de velocidade alta espanhola com ligação à rede de TGV europeia através de França – faltando ligar Sines a Badajoz.