Laura

Os da tua geração fazem uma viagem às suas memórias, os mais novos ficam a saber (quase) tudo sobre uma das atrizes mais marcantes do século passado.

Querida avó,

Espero que te encontres bem e cheia de alegria, como é teu apanágio.    
Hoje, gostaria de recordar contigo memórias sobre uma atriz notável de seu nome Laura Alves.   

Ela foi uma mulher incrível, cujo talento e paixão pelo teatro deixaram uma marca indelével na história artística de Portugal. É verdade que nunca a vi ao vivo e nunca entrei no saudoso Teatro Monumental (onde hoje é um Banco na Praça Duque do Saldanha, em Lisboa).

No entanto, recordo-me perfeitamente de a ver em entrevistas e a trabalhar na televisão.

Belíssima ideia a do nosso amigo Filipe La Féria em trazer para o palco do Teatro Politeama Laura, o Musical.

Os da tua geração fazem uma viagem às suas memórias, os mais novos ficam a saber (quase) tudo sobre uma das atrizes mais marcantes do século passado.

A sua caminhada como atriz começou cedo, quando ainda era uma criança. Aos três anos ela já recitava versos e aos cinco anos participava em peças numa Associação Recreativa. Era destemida e apaixonada pela arte. A sua carreira ganhou asas rapidamente. Julgo que Laura já nasceu atriz!

Representou no Politeama, Teatro Nacional e em muitos outros teatros, compartilhando o palco com nomes como Palmira Bastos, Amélia Rey Colaço e outros. O Teatro Monumental, idealizado pelo marido e empresário Vasco Morgado, para ela brilhar, foi “a sua casa”.

No cinema as suas interpretações em filmes são recordadas até hoje.

Laura Alves não era apenas uma atriz talentosa; era também uma mulher de sorriso inesquecível e coração generoso. Viveu intensamente, interpretando cerca de quatrocentos espetáculos ao longo de sua carreira, imagina. O seu legado transcende gerações. Mesmo os que nasceram após a sua morte já ouviram falar dela.

A paixão e a dedicação de Laura Alves ao teatro eram incomparáveis. Ela ensinou-nos que a arte pode tocar corações e unir pessoas.

Bjs

Querido neto,

Nunca me lembro de ter faltado a nenhuma peça do meu querido amigo Filipe La Féria.  

Nem sequer ao What Happened to Madalena Iglesias, a primeira peça que ele dirigiu, em 1989, na Casa da Comédia (que já não existe).

E também não faltei à que está agora em cena (no Politeama, como sempre) com o simples título Laura. Por muitas Lauras que tenham existido ou venham a existir no mundo do espetáculo, só uma há de ser sempre conhecida só pelo seu nome próprio: Laura Alves.

Laura Alves foi uma das maiores atrizes portuguesas: ela dançava, ela cantava, ela fazia teatro, ela fazia cinema (quem não se lembra dela, «ai a loiça, Sr. Anastácio, ai a loiça!», no Pai Tirano) – fazia tudo o que fosse preciso.

Mas a sua vida não foi nada fácil, sempre explorada pelo marido, Vasco Morgado. Os poucos anos de calma viveu-os com o seu segundo marido – o maestro Frederico Valério.

E teve um final terrível. Naquela altura ainda ninguém falava da doença de Alzheimer, mas foi isso decerto que ela teve. Lembro-me de ouvir dizer que ela estava demente, e era isso que a fazia ir todas as tardes ao Teatro Monumental, (então já em ruínas), pensando que ainda continuava ali a trabalhar, falando com colegas que não estavam lá, e apressando-se para estudar o texto que ia ali apresentar daí a minutos. Lembro-me muito bem de a ver por lá, pisando aquelas pedras todas, que era o que restava do Monumental, até o filho dar pela falta dela e a ir buscar. Era uma tristeza.

Tudo isso está muito bem apresentado nesta peça do La Féria que, como sempre, se documentou muito bem.

Não percam! Mas tratem de marcar os bilhetes com antecedência, que aquilo esgota num minuto.

Obrigado por levares a tua avó ao Teatro Politeama. Que bom foi recordar uma das maiores atrizes de todos os tempos.

Parabéns ao meu amigo Filipe e a toda a grande equipa.

Bjs