Líderes

Em Portugal existe uma quase obsessão com o tema da liderança e do papel dos líderes.

é verdade que a escassez aumenta o valor mas, ainda assim, esta atitude tem algo de sebastianista: como se, por um passe de mágica, surgissem ou criássemos líderes e todos os nossos problemas desaparecessem. mas é claro que os líderes são importantes quer nas organizações quer nos países, sobretudo em momentos de crise ou de mudança. é também claro que capacidade de liderança e capacidade de administração são duas coisas diferentes.

vêm estas reflexões a propósito da minha participação na recepção, com lugar na flad, aos marshall memorial fellows americanos de visita ao nosso país. este programa foi fundado em 1982 com o objectivo de fornecer uma plataforma pela qual ‘líderes emergentes’ da europa e dos eua possam entender melhor as realidades, os desafios e oportunidades de cada lado do atlântico.

os participantes visitam cinco cidades durante um programa de 24 dias encontrando-se, formal e informalmente, com governantes, empresários, académicos e personalidades das vidas cultural e cívica.

fiquei extraordinariamente impressionado com os cinco participantes oriundos dos eua. não tanto com a curiosidade inteligente que revelaram sobre a história, a cultura e a economia portuguesas. o que me impressionou foi, apesar da relativa juventude, a sua trajectória de vida e a experiência acumulada no terreno.

um é autarca eleito em denver, outra é directora de comunicação de um congressista federal, outro trabalha com comunidades de imigrantes em seattle, outra gere projectos de organizações de base e outro está envolvido na revitalização da cidade de detroit. mais do que cursos e formação, que também os tinham, o que identifica e desenvolve o seu potencial de liderança é o sujar as mãos em projectos cívicos transformadores. não sei bem o que é um líder nem liderança; tão pouco sei como promovê-los. mas estou seguro que os reconheço quando os encontro.