M80

Não sendo um género musical nem um conceito nocturno muito apreciado pelas pessoas em questão, a surpresa tornou-se ainda maior, quando no passado sábado nos fizemos à estrada, perto da meia-noite, para chegar a Évora e entrar na festa da M80, um clássico pop/rock para muita gente. Os amigos não nos esperavam, até porque tínhamos…

Numa discoteca situada perto da zona industrial, e com um formato de armazém, começámos a perceber o quão pouco estamos habituados a outros ambientes. Pessoas de todas as idades iam aparecendo e quase todas revelavam vontade de dançar e de se divertirem. De certa forma, era como se a ‘sociedade civil’ da cidade tivesse abandonado a Praça do Giraldo e caminhado em direcção à discoteca. Para mim, foi verdadeiramente surpreendente. Por volta da uma e pouco já a casa se apresentava muito bem composta, notando-se que algumas figuras de outros tempos procuravam imitar os seus ídolos dos anos 70/80 que iam aparecendo nos ecrãs gigantes do pavilhão-discoteca, enquanto a música saía das colunas volumosas.

Ali, pareceu-me, poucos estavam para ser vistos ou para verem, pelo menos até determinada hora… Todos procuravam dançar e divertir-se à sua maneira. Numa terra pequena é natural que alguns factos não passem despercebidos e se as várias famílias se agrupavam em determinados lugares, também havia quem pouco se importava por estar com companhias que não recebiam a simpatia dos mais conservadores.

Nós fomos rapidamente contagiados e ainda a festa não estava a meio e já dançávamos coisas que eu pensaria impensáveis nos dias de hoje. Mas essa é também uma das magias da noite, que passa por nos deixarmos levar pela boa disposição e que até pode ser recordar sons de outros tempos. Muita da música que por ali passou, andou há muitos anos pelo Rock Rendez Vous.

Alguns dos clássicos já não os ouvia desde que me divorciei da pop, mas reconheço que naquela noite souberam lindamente. Os Heróis do Mar, de que não gostava no seu tempo, tornaram-se, curiosamente, dos sons desses tempos que mais gosto. A idade também nos ajuda a não ligar muito às ideias feitas e a saborear o que nos apetece.

vitor.rainho@sol.pt