Recuos na grande Lisboa já na próxima semana

Casos continuam a aumentar na área metropolitana de Lisboa a um ritmo superior ao resto do país. Cascais e Sintra devem voltar a fechar às 22h30. Lisboa arrisca voltar a ter restrições de horários ao fim de semana.

Os primeiros recuos na nova fase do desconfinamento devem ser anunciados já esta semana pelo Governo. A avaliação semanal está marcada para o conselho de ministros desta quinta-feira. A área metropolitana de Lisboa é a que está a suscitar maior preocupação, já que os diagnósticos continuam a aumentar a um ritmo superior ao resto do país. Nos últimos sete dias, os casos na região de Lisboa aumentaram 53%, enquanto que o Norte, a única região comparável em termos de população, regista agora uma ligeira estabilização. Lisboa está com uma incidência cumulativa a 14 dias de 151 casos por 100 mil habitantes, pelo que são agora mais os concelhos da grande Lisboa acima do patamar dos 120 casos por 100 mil habitantes – dados que a DGS só vai divulgar na sexta-feira.

Na grande Lisboa e além da capital, que no último fim de semana passou a barreira dos 240 casos por 100 mil habitantes, na avaliação da semana passada apenas os concelhos de Sintra e Cascais estavam já acima do patamar dos 120 casos por 100 mil habitantes, com tendência a continuar a aumentar. À segunda semana acima deste patamar, arriscam esta semana ser os primeiros casos de recuo nesta nova etapa do desconfinamento na grande Lisboa, regressando aos horários de fecho às 22h30 depois de apenas uma semana com restaurantes e salas de espetáculos abertas até à meia-noite. Já a capital, que não avançou no desconfinamento, como na avaliação da semana passada ainda não estava neste no patamar dos 240 casos por 100 mil habitantes, poderá escapar ao recuo esta semana, mas a situação vai ainda ser analisada em conselho de ministros. A regra anunciada pelo Governo é que só à segunda semana com mais de 240 casos por 100 mil habitantes se daria um passo atrás maior no desconfinamento, voltando a haver restrições de horários ao fim fecho às 15h30 ao fim de semana e feriados. Em entrevista à RTP, o secretário de Estado dos Assuntos Parlamentares e coordenador da resposta à covid-19 na região de Lisboa, confirmou que a capital já está acima dessa linha vermelha, mas que ainda não será esta semana a decisão de recuo. Na avaliação da semana passada, que teve por base a análise de casos reportados entre 26 de maio e 8 de junho, Lisboa já estava no entanto com uma incidência cumulativa a 14 dias de 222 casos por 100 mil habitantes, muito próximo desse patamar, que de resto foi ultrapassado ainda no fim de semana, algo que será avaliado em conselho de ministros.

Sendo a opção manter a estratégia, Lisboa não recua ainda na próxima semana, mas está em risco de andar para trás na semana seguinte, visto que ainda não parece haver uma tendência de descida no número de novos casos. Carlos Antunes, investigador da Faculdade de Ciências da Universidade de Lisboa, antecipou ao i na semana passada que, iniciando-se a descida, Lisboa poderia demorar três semanas a regressar ao patamar dos 120 casos por 100 mil habitantes, mas os últimos dias voltaram a trazer aumentos de diagnósticos e em todas as faixas etárias, incluindo na população mais velha.

CRESCIMENTO DA VARIANTE INDIANA POR REVELAR O aumento de transmissibilidade associado à variante delta, com transmissão comunitária já confirmada em Portugal e segundo o Instituto Nacional de Saúde Dr. Ricardo Jorge “mais evidente” em Lisboa é agora um dos principais motivos de alerta na monitorização da epidemia na Europa e nos EUA. No Reino Unido, representa já 90% dos casos e a Organização Mundial de Saúde já alertou que poderá tornar-se dominante. Em maio, numa amostra de casos analisada pelo Instituto Nacional de Saúde Dr. Ricardo Jorge, representou 4,8% dos casos, mas na altura não havia indícios de transmissão comunitária. O INSA está a repetir a amostragem de junho e até ao momento não facultou novos dados, que deverão mostrar até que ponto existe um aumento desta variante, mas tudo sugere que será significativo.

A agência de saúde pública do Reino Unido afirmou esta semana que duas doses da vacina da Pfizer ou da AstraZeneca são bastante eficazes na prevenção de hospitalizações, 94% e 92%. Parecem no entanto ser menos eficazes na proteção de doença sintomática e infeção do que eram em relação à variante inglesa, que se tornou dominante no mundo, o que pode dificultar a chamada imunidade de grupo – é preciso haver mais pessoas vacinadas para haver menos hipóteses de maiores cadeias de transmissão. Inglaterra é o balão de ensaio do que pode ser ter esta variante dominante. Neste momento, é o país com mais novos casos de média semanal por milhão de habitantes na Europa e tem havido também um aumento das hospitalizações, embora não se compare com o pico da epidemia em janeiro.

O Reino Unido já anunciou que vai reduzir o intervalo entre as doses da vacina da AstraZeneca de 12 para oito semanas, garantindo que dois terços dos adultos terão o esquema vacinal completo a 19 de julho. Em Portugal, a meta de ter 70% da população adulta vacinada, que tem sido apontada pela task-force para agosto, refere-se à primeira toma. Neste momento, segundo dados reportados por Portugal ao Centro Europeu de Controlo e Prevenção de Doenças, 50,9% dos portugueses com mais de 18 anos já têm a primeira dose da vacina mas apenas 28,9% têm já o esquema vacinal completo.