O jorro da inspiração pode brotar do repuxo humilde de uma linha de jornal. Já assim sucedeu a Tolstoi, que viu nascer Anna Karenina na notícia do ferroviário suicídio de outra qualquer desgraçada.
No Irão enforcam-se pessoas em espetáculo público por serem homossexuais. Apedrejam-se mulheres até à morte por suposto adultério; as mulheres violadas são, no mínimo, chicoteadas por se terem deixado violar.
Pouca gente tem coragem para ser feliz; há sempre muito mais interessados em morrer por uma qualquer causa do que em viver por ela.
Não podemos escolher de quem nascemos, e há seres ditos humanos que levam a vida inteirinha a vingar-se dos progenitores, sem serem sequer capazes de raciocinar que a maior vingança é a felicidade.
O Museu da Língua Portuguesa não era apenas mais um museu, nem era apenas um Museu de São Paulo, ou do Brasil.
Uma excelente autarca contou-me há anos que as mulheres do seu partido ficavam chocadas quando ela dizia que gostava do exercício do poder; é suposto que, mais ainda do que os homens, as mulheres exibam ares de vítima martirizada quando assumem algum cargo, pelo menos no setor público.
Os grandes espíritos raramente são compreendidos no seu tempo – tragédia cronológica sem solução aparente, que apenas tem feito lucrar os pseudo-exegetas posteriores, arvorados em donos das verdades difíceis que o tempo entretanto fez o favor de tornar correntes.
Paris continua a ser uma festa. Calhou-me ainda por cima estar lá no primeiro sábado de outubro, o da Noite Branca, celebração anual da música e das artes – por sinal com direção artística de José Manuel Gonçalves, um programador português que há dois anos, em entrevista ao Le Monde, definia arte como “uma utopia…
No chamativo sítio da internet da nova Prémio Nobel da Literatura, escrito nesse esperanto dos tempos modernos que é o inglês, encontrei uma frase da própria que, por contraste, me fez pensar imediatamente em si.
Milan Kundera descreveu o mundo como «o planeta da inexperiência» em que a vida humana é um permanente esboço sem hipótese de retificação.
Nenhum sentimento tem as costas tão aladas como o ciúme: as asas fuliginosas deste anjo negro justificam qualquer ignomínia. Há dias, o Correio da Manhã trazia o seguinte título: Polícia ciumento esfaqueia ex-namorada. Como quem diz: o polícia, coitado, até era muito boa pessoa; o malandro do ciúme, esse demónio dos apaixonados, é que o…
A ser verdade, a história contada ao jornal Observador por uma das protagonistas involuntárias dos cartazes do PS é grave: configura abuso de poder sobre uma trabalhadora em situação precária.
Só uma personalidade extremamente narcísica e alheada da realidade poderá afirmar: “Somos o que escolhemos ser”. As nossas escolhas são cercadas por circunstâncias e acasos diversos, a começar pelo país onde nascemos, família, educação, encontros, oportunidades. A própria ideia de liberdade depende de um mínimo de conhecimentos e informação; a jovem e valente Malala teve…
Na energia filosófica da Páscoa – tempo de morte e ressurreição – inclui-se uma mensagem muitas vezes esquecida: se vos sentardes numa mesa com 12 amigos dilectos, podereis estar certos de que pelo menos um vos irá negar, e outro claramente trair.
Nos últimos anos, o Governo lançou, aliás com grande êxito, o programa não oficial ‘Adeus-ó-vai-te-embora’, versão pacifista do programa salazarista para as ex-colónias ‘Adeus-até-ao-meu-regresso’.
Num liceu central de Lisboa, como certamente acontecerá em muitos outros lugares, alunos do 11.º ano estiveram dois meses sem aulas de Matemática, antes e depois do Natal.