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O preenchido dia-a-dia de Marcelo Rebelo de Sousa.

quinta 18

luxemburgo, república e comunidade portuguesa

luxemburgo. dia de viagem, via porto, para o luxemburgo e de cumprimento de compromisso adiado, semanas atrás, por causa da reunião do conselho de estado. na viagem, momentos mais picarescos: o cãozinho em saco alojado aos pés do pintor meu vizinho de lugar, e que tanto se agitou e o preocupou, assim dando à viagem um toque de solidariedade para com o maior amigo do homem, que não é vulgar neste tipo de deslocações aéreas; a obrigação de permanecer no avião, esperando uma hora, entre a chegada e a partida do porto, o que não é habitual.

embaixador. mal aterrado no luxemburgo, cumprimentos ao embaixador, josé manuel de pessanha viegas. que conhecera, em lisboa, anos atrás, em exposição de pintura de artista ucraniano, era ele, na altura, nosso embaixador em kiev. está perto do limite de idade, é muito simpático e revela bom entrosamento em país no qual os quase 100 mil portugueses representam cerca de um quinto de toda a população e um terço dos luxemburgueses.

colaboradores activos. carlos correia, conselheiro social e director do instituto camões (onde faz omeletas com pouquíssimos ovos), e rui correia, primeiro secretário, também inexcedível no seu apoio. conhecia já o primeiro e o segundo (agora ufano pai), que foi meu aluno, em direito.

república no século xxi. tema da conferência com debate, no instituto camões. duas centenas de portugueses, alguns luxemburgueses e a representante diplomática cabo-verdiana. nos portugueses, dois grupos: dirigentes das associações locais e quadros nas instituições europeias. muitas perguntas e um teor dominantemente mais à esquerda do que à direita. tópicos essenciais: lições da nossa história, os séculos xix e xx, os últimos 36 anos. a europa, a crise actual e os desafios até 2013. muitas preocupações, num ambiente caloroso e resistente (que ficou até ao fim, das 18h30m até às 21h).

iniciativa da associação dos amigos do 25 de abril, presidida por manuel bento e tendo como medianeira no convite agripina lopes. e apoiada pela embaixada, através do instituto camões, que cedeu as instalações.

jantar oferecido pelos embaixadores na residência. de novo, presentes, entre muitos mais, manuel cunha rodrigues, juiz e presidente de secção no tribunal de justiça, vítor cabral, presidente do tribunal de contas europeu, e maria eugénia ribeiro, juíza do tribunal de primeira instância (minha aluna nos anos 70). todos simpaticíssimos. e ainda essa figura notável do padre belmiro campos, de grande influência na nossa comunidade.

três razões. cunha rodrigues, em grande forma, contou que amigo seu – o ex-governante luxemburguês que, nos anos 60, estudou quem deveria seguir-se aos italianos e espanhóis na imigração aceite – lhe teria dito que, sendo a escolha entre portugueses, magrebinos e europeus do leste, as razões decisivas teriam sido três: os portugueses eram trabalhadores, católicos e teimosos. como os luxemburgueses. opção de amplos efeitos no futuro…

sérvulo correia. de lisboa, ainda ecos da reiterada homenagem da faculdade de direito a sérvulo correia. um livro de centena de artigos e mais de duas centenas de participantes na cerimónia. além de entrega dos prémios aos melhores alunos de cadeiras de ciências jurídico-políticas. um muito qualificado investigador, professor e advogado, que bem merece mais este reconhecimento na sua escola de sempre.

sexta 19

cimeira da nato e luso-luxemburgueses

cimeira da nato. primeiro dia. sucesso organizativo total. protestos banais. novo conceito estratégico, pondo fim à ‘guerra fria’ com a rússia, abrindo para novos riscos, escolhendo parcerias. escudo antimíssil euro-americano, com componente europeia continental, complexa e mais cara do que parece, isto é, do que os 200 milhões de euros. acordo entre alemanha e frança e apaziguamento da turquia. resultado a 100%.

contactos bilaterais importantes. entre governantes. incluindo os portugueses e os líderes presentes em lisboa. bons para outros efeitos não-nato.

euforias precipitadas, pró–china e pró-índia. mas também um pouco excessivas, na visão atlantista pura que ignore o que se passa na ásia.

media luso-luxemburgueses. entrevista na rádio latina, a maior de língua portuguesa no luxemburgo. uma hora intensa. interessante. depois, almoço-entrevista com mais representantes de órgãos de informação com peso na nossa comunidade. num restaurante da moda, propriedade de portuguesa, o lux. e onde o pessoal, português, logo falou – como toda a gente – do 4-0 à espanha. e um, de seu nome marco, mandou abraço portista para júlio magalhães.

aula para estudantes e professores portugueses. com discussão final. duas horas divertidas e variadas. confirmando a impressão de permanente contacto com tudo o que se passa em portugal. além de um clima pessoal óptimo. boa coordenadora do ensino do português. curiosidade: fiquei a saber que, no luxemburgo, a média no ensino básico e secundário é de um professor por 12 alunos. que inveja…

alunos e professores. os primeiros, competentes e disponíveis. os segundos, jovens e, na maioria esmagadora, mulheres. querendo e pedindo mais livros portugueses.

comunidade portuguesa a aumentar, novamente, com a presente crise. exemplo: a funcionária de quartos do hotel onde fiquei, de tomar, ex-dona de restauração que faliu. veio ganhar uns dinheiros para reequilibrar a vida. devem ser quase 10 mil a engrossar a nossa presença no luxemburgo. não tencionam ficar. mas ficarão? no geral, onde quer que se vá, encontra-se uma portuguesa e um português, com quem comentar o que se vive agora em portugal. bem informados e curiosos. uma comunidade que não perde laços e não é obrigada a integrar-se onde vive, para além do que seja bom para as duas partes interessadas.

contacto. o maior jornal português. entrevista muito desenvolvida. a terminar a estada luxemburguesa. sempre apoiada pelos convidantes. e com solicitude absoluta do nosso embaixador.

sábado 20

rússia e afeganistão

cimeira. e renovado sucesso. após longa preparação, um duplo acordo nato-afeganistão, de saída em 2014 e de parceria antes e a seguir. com a consagração de karzai, tido por perdido dois anos atrás. e parceria forte com a rússia, com colaboração militar, de equipamentos e de trânsito de tropas da nato pelo território russo. e medvedev a atestar a abertura a ocidente, em posição diversa da de putin.

eua-ue. tudo no melhor dos mundos. a ue já é outra e sarkozy não é chirac. acordo total. menos na substância do proteccionismo económico. mas isso ficou para exame ulterior.

manifestações. insignificantes, as primeiras. pacífica e muito pequena, a de hoje. com os mais velhos a lembrarem os tempos da ‘guerra fria’. quando os russos eram soviéticos e atacavam os capitalistas – não faziam escudo antimíssil em parceria com eles…

teixeira dos santos manda sinais para os salários dos privados. tipo abrir caminho… a questão é a de saber se é mais ouvido do que foi por sócrates e o resto do governo durante 2009 e 2010…

domingo 21 e segunda 22

abrunhosa, petição e cuidados paliativos

abrunhosa. ontem à noite. coliseu cheio. plateia, muito jovem. bancadas, os jovens de 1993-94. camarotes, mistura dessa geração com mais jovens e mais velhos, em magotes. gente de pé, lá em cima de tudo. comité caviar, com bom som, embora, por vezes, demasiado forte. ele, em notável forma física e óptima voz – melhorando ao longo do espectáculo –, ritmo magnífico, alternando êxitos de sempre com outros mais recentes e interpretações a solo, mais intimistas. reacções curiosas: aplausos às críticas à ‘sociedade sem classe’ e ao clientelismo tentacular, maior retracção quanto à nato. adesão comedida ao «talvez f….», que, em 1994, criava histeria. dir-se-ia que o público, esmagadoramente de esquerda e de esquerda não alinhada (be, ala esquerda do ps ou, aqui e ali, pcp), se sentia mais à vontade para bater na direita do que se sente a bater neste ps-governo, apesar de farto dele.

recordação. durante as duas horas e quarenta e cinco, não pude deixar de recordar o concerto no parque palmela, no final de agosto de 1994. e este abrunhosa não envelheceu nem um mês… que inveja! mesmo descontando o que o aprecio, a resistência ao tempo é surpreendente.

petição pública. sobre o desperdício alimentar. já assinei. mais de 54 mil signatários. chamada de atenção para desbloquear resistências legais ou administrativas a iniciativas que devem ser locais. de proximidade. como aquela que nasceu de antónio costa pereira e já está em marcha em oeiras.

cuidados paliativos. mais de 30 mil portugueses na página do facebook que apela ao direito aos cuidados paliativos – http://www.causes.com/causes/536957?recruiter id=139927373. em dois meses…

manuel antunes. excepcional. no plano inclinado. que vi pelas 3 da manhã, na sic notícias. medina carreira e mário crespo muito bem a suscitarem as pistas de reflexão.

olivença. câmara recupera ideia de mercado mensal de artesanato e outros produtos de portugal. parabéns ao activismo sensato de carlos luna. para estreitar laços lusos naquela terra que já foi portugal.

odivelas. lançamento de loja municipal de marmelada branca de odivelas, produto tradicional do velho mosteiro. com grande êxito turístico. permaneceu até hoje em termos quase artesanais. um exemplo: a eficiente faruque.

terça 23

tensões sociais, braga e freitas

preocupações sociais. em debate, em véspera de greve geral. vi, esta madrugada, a desoras, o prós e contras. com os líderes sindicais e a assistência bastante críticos. custa a interiorizar, a todos nós, que vamos, como sociedade, conhecer uma baixa do nível de vida intensa e com alargamento dramático da mancha de pobreza para além dos 20%! e a situação pode durar muito tempo a inverter. mas não há, infelizmente, alternativa à austeridade pesadíssima que por aí vem.

irlanda. as coisas não estão a correr bem. oposição quer eleições e não aceita o pacote do fundo europeu e fmi. o 1.º-ministro anuncia dissolução do parlamento para janeiro, após oe aprovado. só por acaso não vai dar má reacção dos mercados e sobrar para nós…

sp. braga. genial! matheus perfeito. wenger e arsenal humilhados. e pensar que não fui ao estádio, embora por razão de amizade e académica poderosa…

freitas do amaral. e a razão ponderosa foi o lançamento do livro de homenagem a freitas do amaral. no grémio literário. uma multidão. augusto athayde elogiou. freitas agradeceu, em tom emocionado. bonita jornada universitária.

tensões e presidenciais. a crise financeira, o debate orçamental, as especulações sobre remodelação e eleições e a cimeira da nato ofuscam presidenciais. isso está a enervar os candidatos que se consideram injustiçados. e que, chocados com as sondagens muito negativas, têm a tentação clássica: culpar os mensageiros dessas más notícias.quarta 24

greve geral, grécia e livro

greve geral. grande adesão, como se esperava. funcionários públicos despejaram a sua bílis. bolsas e juros continuam complicados. austeridade é inevitável. com esta ou muitas greves.

longe de 1982. mas esta greve ficou muito aquém das duas greves gerais de 1982. essas é que foram esmagadoras…

grécia. avisos europeu e do fmi sobre a forma insuficiente como está a cumprir as suas obrigações. e ainda lhe falta receber muito dinheiro de apoios condicionados a programa de austeridade…

lançamento. de livro de irmão antónio, sobre gestão financeira. depois da minha aula (cheia de alunos). e antes de cerimónia de entrega de cédulas a licenciados de medicina. irmão feliz. no dia do nascimento da neta margarida. em dia de greve, a família trabalhou.

felicidade. na distribuição das cédulas pela ordem, entreguei prémio machado macedo aos melhores alunos de medicina de lisboa. momento raro de felicidade: eu, hipocondríaco, rodeado de mais de 500 médicos; poder recitar com eles o juramento de hipócrates. pequena consolação por não ter tirado medicina.