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O preenchido dia-a-dia de Marcelo Rebelo de Sousa.

quarta 12

leilão da dívida, recessão e catroga

leilão. portugal parou para ver o que dava. e suspirou de alívio, pelas 10h52. pelo menos, uma parte de portugal. a esquerda, sobretudo governo e ps, mais aquele centro-direita que pensa que sócrates não é solução duradoura – pelo contrário – mas não quer o ‘quanto pior melhor’ para acelerar a sua defenestração. como é o meu caso. a outra parte preferiria clarificação imediata, empurrada por impasse financeiro. para já, o governo ganhou umas semanas de aparente folga. apenas aparente. tem de continuar a demonstrar que executa o oe, tem de continuar a buscar novos credores, tem de mostrar, além de folga, fôlego novo. perante mercados de pé atrás. e tem de esperar que a ue mude de rumo. o que não é fácil nem rápido. eu apostaria numa remodelação orgânico-pessoal, mesmo mantendo teixeira dos santos. sócrates não a fará. restar-lhe-á ir tentando sobreviver aos testes sucessivos das emissões e das flutuações dos mercados.

banco de portugal. essa resistência tem um problema: como aponta o relatório do banco de portugal, o pib vai decrescer e o desemprego crescer, e o consumo privado cair. como inventar mais receitas e cortar mais despesas por forma a compensar essa recessão, esse é o busílis…

cavaco. em equilíbrio complexo entre mostrar que não está contra o governo e lembrar que, há muito, apontou a crise que o governo andou a negar anos a fio. equilíbrio misturado com o regresso a campanha cheia de força, de optimismo, de um toque de populismo contido, de discurso para o povo, a fazer recordar o cavaco dos anos 90. em grande forma, a sentir a vitória e a apelar ao voto dos indecisos que gostam de se juntar aos vencedores.

alegre. o oposto. a campanha a perder momento, atabalhoada, sem motivação, sem discurso pela positiva, reduzida ao ataque a cavaco e ao apelo a um ps hesitante.

nobre. a campanha anti-alegre. com o toque do soarismo. ou seja, misto de vingança de 2006 e intuição das debilidades de alegre.

catroga. boa entrevista na tvi 24. e o brilho no olhar de quem quer ser o ministro das finanças de passos coelho. só falta o convite formal.

doutoramento. jornada académica com sucesso. na minha faculdade. mais uma professora virada para o futuro: alexandra leitão. vai ouvir–se falar dela, em vários tablados, universitários e institucionais.

quinta 13

compasso de espera político

presidenciais. a oito dias do fim da campanha, a sensação é a de que, em rigor, a verdadeira campanha acabou quando a formal começou. as sondagens estão fixas, os candidatos estão vistos e revistos, os debates estão feitos, as entrevistas estão dadas. por isso, o caso hoje lançado pela visão chega fora de tempo para poder ter qualquer peso significativo numa ponta final de algo que já terminou. e as próprias trocas de palavras entre ps, alegre e cavaco já não são ouvidas. os portugueses já só querem votar e ultrapassar este compasso de espera político.

china terá comprado 1000 milhões de dívida pública nacional. antes e em paralelo com a emissão de ontem. a juro alto, superior a 4,75%. também comprou no leilão. e parece interessada em avanços conjuntos com portugal. podendo o bcp constituir um primeiro parceiro interessante. é o que diz a imprensa económica…

colocações privadas. além da compra da china, este ano, sabe-se agora que, já em dezembro, portugal vendeu dívida pública em operações privadas. mais de 1500 milhões de euros…

mais bilhetes do tesouro. a seis meses. para a semana. isto de viver dependurado do crédito é triste sina. obriga a andar, semana a semana, de chapéu na mão e pernas em relativo tremelique…

espanha e itália. também foram hoje buscar dinheiro aos mercados. ambas a juros mais altos do que no passado recente. espanha um pouco mais do que a itália. mas melhor do que se temia. no geral, saldo apreciável, apesar desse custo acrescido.

vítor caldeira. reeleito presidente do tribunal de contas da união europeia. merecidas felicitações.

sexta 14

beatificação, fitch e espuma eleitoral

joão paulo ii. beatificado. soube-se hoje. um passo importantíssimo para a sua futura canonização. e uma alegria para os católicos.

governo. lança foguetes, mantendo previsões económicas para 2011.

fitch diz o contrário: quebra de 1% no pib em 2011.

certificados do tesouro a serem sucesso no final do ano. mais de 200 milhões de euros subscritos por portugueses. a juro alto. que a inflação para 2011 pode atingir 2,7%.

sócrates. entrada em cena. com alegre. bem tarde, para não ter efeitos. o ps igual a si mesmo. tal como no apoio inicial. tardio. espuma eleitoral agitada nas elaboradas indirectas a cavaco. no essencial, tudo definido.

passos coelho. o mesmo que sócrates. com uma diferença. entrou tarde, mas a sintonia com cavaco, que nunca foi grande ao longo da vida política de ambos, é cada vez mais patente. cuidadoso na intervenção. não comprometendo o presidente-candidato.

exames. muito boas notas a direito administrativo i. provas entregues, orais são poucas. a turma, que vinha com fama do 1.º ano, é, na verdade, singular…

angola. comecei a preparar mais duas arguições. agora de mestrado. em luanda. já no começo de fevereiro. o tempo urge.

jorge miranda. capa do sol na edição africana. justamente. depois da homenagem do tribunal constitucional em luanda. na recente estada, que fez sucesso jurídico e cívico.

jantar. ontem. de celebração. do doutoramento de dezembro. em ciência política. na universidade católica. a nova doutora, janete cravino, feliz. já vai sendo rara esta tradição de outros tempos, reunindo júri e pares.

candidatura de sócrates. óbvia. ao ps. com congresso depois da posse do presidente da república. uma maneira de tentar dar sensação de refrescamento de legitimidade a seguir à reeleição de cavaco. só que sem voto de todos os portugueses.

remodelação. mas será boa ocasião para a remodelação governamental.

cabo verde. um mês e meio depois, novo pulo a cabo verde, à cidade da praia. até segunda à noite.

timóteo. chegada tardia à praia. e ao hotel trópico – duas horas e 20 da manhã, já de sábado. não havendo iogurtes para comer, alguém, que fora buscar amigos e fornecedores, convida-me a ir ver a sua grande superfície, que apoia em produtos alimentares, hotelaria, restauração e embaixadas. chama-se timóteo, é o homem-forte do sector em cabo verde, um dos seus clientes mais sofisticados e gastadores é a embaixada da china. tem unidade modelar, que visitei com ele e amigos, cumula simpatia com eficiência. e terminei a noite a trazer e a comer iogurtes. passava das 3 da madrugada…

sábado 15 e domingo 16

cabo verde, paicv e mpd

desafios. estratégicos colocados a cabo verde. o meu irmão antónio falou em mesa sobre a economia. mira amaral, noutra relativa a energia. eu, em terceira mesa dedicada a temas jurídico-políticos. quase 300 participantes e debates das 10 às quase 15 horas. iniciativa do mpd, pelo gabinete de estudos. muito entusiasmo e boa cobertura mediática.

entrevista. depois de almoço no pescador – onde apareceu lura, para muitos a cesária évora da jovem geração –, entrevista ao jornal afecto ao paicv, que questionara a presença portuguesa em seminário do mpd. com bom humor, já havia comentado de manhã que mais se não tratava do que de respeitar a igualdade, antes do começo da campanha eleitoral: freitas do amaral viera, três semanas atrás lançar livro e apoiar objectivamente o primeiro-ministro do paicv, de novo candidato. de todo o modo, e tal como na intervenção da manhã, nunca me pronunciei acerca da situação política cabo-verdiana.

eleições parlamentares, em cabo verde, a 6 de fevereiro. com empate técnico nas sondagens. depois de meses de esmagamento do paicv de josé maria neves ao mpd de carlos veiga. e recuperação sensível deste último. no fim do ano, serão as presidenciais. para já, no geral, civismo e serenidade.

passeata. ao fim da tarde. na recém–remodelada rua 5 de julho. com animação, espectáculos do grupo mão na roda (impressionantes nas danças de portadores de deficiência em cadeiras de rodas), escanhoamento no barbeiro orlando monteiro, grande simpatia popular, jantar no aviz e idas rápidas – já noite fora – ao quintas da música, ouvir o notável albertino, e ao k.

lisboa. de lisboa, notícias de ‘tiros’ de campanha a cavaco e maria – à casa de verão deles, à reforma dela. sensação, à distância, de fogo tardio de barragem, excessivo e, por isso, a meu ver, contraproducente…

segunda 17

tvi-rtp, aula e ministra

tvi-rtp. magnífica colaboração tvi-rtp para permitir minha intervenção de ontem. com isabel silva costa – filha do inesquecível colega de lides na imprensa escrita – a ser excepcional na liderança do processo.

aula no instituto piaget. que também tem curso de direito – só a universidade estadual ainda o não criou –,sobre tema jurídico-constitucional. depois da aula, duas horas de perguntas. 400 estudantes em ambiente único de interesse e de participação.

embaixadora. está de partida para genebra. fez um lugar essencial nas relações óptimas entre os governos de lisboa e da praia, nos últimos quatro anos. muito conhecedora, muito empenhada, muito simpática, muito divertida. e, claro, inteligente e determinada. amada pelo paicv. talvez menos pelo mpd. mas respeitada e bem tratada por todos os lados. para registo, nome: graça trocado.

ministra. jantar com ex-aluna e ex-monitora minha, cristina fontes. ministra da defesa e da reforma do estado, depois de ter estado na justiça e na administração interna. amiga de longos anos (desde 1976-77, era uec e depois pcp). uma cabeça e elemento do núcleo duro do paicv no governo, há muitos anos. conversa interessantíssima. e sinal da morabeza local – além do ecumenismo das minhas amizades. depois das interrogações do partido do poder, a preocupação de uma das figuras marcantes do governo de acentuar laços e mostrar boa anfitrionia.

terça 18

sporting e sondagens

sporting. o esperado desde sempre. a ocasião para rogério alves? dias ferreira tem palavra importante a dizer.

evocações. martha de la cal. decana da imprensa estrangeira em portugal. josé manuel burnay. da geração fundadora do ppd. saudade da vivacidade de uma e da bondade de outro.

correia de campos. alegre não é alternativa e cavaco vai ser eleito à primeira volta porque é a estabilidade em tempo de crise. um socialista atento, que já percebeu o filme.

psp. corpo de intervenção com levantamento do rancho. um sinal para o governo e o país.

sindicatos. ‘manif’ que redunda em confrontação. mau para governo, ps e alegre. bom para lopes e para cavaco…

sondagens. tudo somado, cavaco reeleito com 53% a 55%, alegre pelos 30% ou um pouco mais, nobre em terceiro – pelos 6% a 9% – e lopes nos 5% a 7%. isto, contando só com votos válidamente expressos. valores de mais de 60% para cavaco e de 15% ou 16% para alegre é que não batem certo…