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O preenchido dia-a-dia de Marcelo Rebelo de Sousa.

quinta 20

fim de campanha, últimas sondagens e família

campanha no fim. com dramatizações de todos os lados. cavaco, surpreendente, populista e eficaz. nobre, o mais dramático, a falar de telefonemas anónimos e ameaças de morte. alegre, a agarrar-se aos temas anti–cavaco: do espectro da subida de juros se houver 2.ª volta à permuta da casa no algarve. lopes, tom menor. coelho e defensor, mais apagados ainda. tudo muito gasto e os eleitores fartos desta não-campanha…

sondagens. cavaco eleito à 1.ª volta. entre 53% e 57%, insisto eu. apesar de sondagens mais altas. alegre, a cair, entre 22% e 25%. acho de menos. e nobre, a subir para os 10%. mesmo sem soares a aparecer. lopes entre 5% e 9%. os demais, nos 1% a 3%, cada. comentei, no jornal nacional, da tvi. uns minutos breves. aproveitando a gravação do programa de joão paulo sacadura.

livraria ideal. assim se chama esse programa da tvi 24. em cuja 100.ª edição participei. como o nome indica, destinado a apelar à leitura e a divulgar sobretudo livros, livraria ideal tem um convidado semanal. os últimos tinham sido vitorino de almeida e rui ramos. gostei do estilo natural do autor do programa e da conversa que, em cerca de 20 minutos, conjugou o pessoal com a apresentação explicada de várias obras que eu havia escolhido. por uma vez, tive mais tempo para falar sobre cada uma delas…

família agitada a nossa. depois da partida do filho, da nora e dos netos para o brasil – matéria que tenho omitido para atenuar a penosidade da distância e do tempo de afastamento –, agora foram os anos de miguel, filho do irmão antónio, o nascimento de sebastião, filho da sobrinha e afilhada mafalda e a pneumonia de margarida, filha do já citado sobrinho miguel. tudo no ramo do mesmo irmão antónio. uma semana agitada. numa família agitada…

fitch. a fitch acaba de baixar o rating ao estado e à banca grega. quem dizia que o fmi era receita milagrosa e instantânea?

sexta 21

gulbenkian, qatar e tap

dudamel. em cima dos derradeiros comícios de campanha, na gulbenkian, a filarmónica de los angeles tocava bernstein e beethoven – a sétima. tocava e encantava. com o já carismático gustavo dudamel. outro país, infelizmente muito distante daquele que é e vai ser o nosso por uns anos.

qatar-airways. parece que quer 40% da tap. e problemas arrastados por décadas vão, porventura, conhecer soluções devido ao aperto financeiro que vivemos. para ficarem os dedos, os anéis vão partindo. os que faltam. é assim a economia: os que não fizeram por ela a tempo terão de ir buscar parcerias para hoje e amanhã. onde elas forem possíveis e rápidas.

biblioteca. jantar por mim oferecido ao pessoal da biblioteca da faculdade. no grémio literário. para agradecer mais de quatro anos de amigo convívio. para a semana, é designado o novo professor bibliotecário. e foi tocante o calor de todos, a começar na incansável e competente bibliotecária ana maria martinho. e é, em especial desde há dois anos, um milagre como aquele pessoal faz omeletas sem ovos. é metade ou menos do que era, não há dinheiro para entradas, tem de recorrer a estudantes em tarefas menos complexas, conhece horário alargado de funcionamento, as salas de leitura – com a crise e a falta de meios para os alunos comprarem ou mesmo fotocopiarem manuais básicos – vivem em sobrelotação constante, os docentes mal podem concentrar-se, o encerramento da biblioteca nacional adensa a pressão. e, mesmo assim, o milagre quotidiano de existir é uma realidade…

pontos. mais uma directa e um dia cheio a corrigir. panorama menos bom do que o do 2.º ano em administrativo. mas é uma turma enorme, da noite, e o 1.º semestre do 1.º ano, em direito, tem que se lhe diga. ainda assim, mais de 50% de dispensas de orais. e a turma do 2.º ano é anormalmente boa. vinha com notas de 18 do 1.º ano e dadas, entre outros colegas, por jorge miranda. ora, um 18 em direito, no ano inicial, é, tradicionalmente, uma impossibilidade… jurídica.

sábado 22

dia de reflexão, porto, muito frio e cavaco

dia de reflexão. que razão tem miguel esteves cardoso no seu artigo no público… que artificial este dia de ‘faz de conta’. mas, ao mesmo tempo, que refrigério, depois do que vimos e ouvimos… noutros tempos, em que andava nessas aventuras político-eleitorais, era o paraíso por um dia. durante o qual se revia a família e os amigos, se dormia e se sonhava com vitórias para todos… e, nos primórdios das eleições, para nós, laranjinhas, era a sensação de alívio de quem é, por 24 horas, poupado às pancadas levadas semana após semana. eu era presidente da distrital de lisboa, em 1975-76, nas eleições para a constituinte e para a primeira assembleia da república. boicotes e problemas logísticos eram mato. sensação de tolerados pelos ‘donos do regime’ imperava. e lisboa metropolitana era visceralmente de esquerda. só cavaco conseguiu mudá-la, muitos anos mais tarde. nem sá carneiro. aí, o dia de reflexão soava a música celestial para disfarçar o nosso handicap eleitoral. nesse dia, fingia-se que se era tão forte como o ps e que se tinha a mesma máquina que o pcp…

porto. vim até ao porto, de caminho para celorico de basto. onde voto. um frio de rachar. tal como em lisboa. ao subir a boavista, depois da missa vespertina, na igreja do foco, com o vento de frente, senti-me no norte da europa. e pensei como é injusto que o nosso clima se assemelhe aos seus, enquanto a nossa economia se distancia das suas. é a vida, como se diz que dizia antónio guterres…

reflexões. agora que é quase meia–noite, uma curta reflexão. por que é que vou votar cavaco amanhã. por inércia? por ter votado há cinco anos? é cómodo, mas não chega como razão. por ser cavaquista, política ou pessoalmente? menos ainda. nunca o fui. mesmo se me recordo com simpatia do jovem membro do gabinete de estudos, que vi colar cartazes em 1974 e 1975 e com quem fiz sessões de esclarecimento difíceis nos tempos mais ingratos. por ter os mesmos gostos ou os mesmos amigos? outra razão que não colhe minimamente. porque concordei com tudo desta campanha eleitoral? também não. resumindo, porque tem uma experiência, um perfil muito sintonizado como o português médio, um primeiro mandato não isento de erros, mas genericamente sensato e positivo, um conhecimento da realidade económico-financeira e internacional – mesmo se o usa com parcimónia – que são essenciais em épocas como esta. e, além de somar, em termos absolutos, estas características, tem pela frente um challenger em tudo inadequado para o cargo neste momento. em plena crise grave, experimentalismos em belém são indesejáveis! o resto é matéria de esperança: que consiga afastar a maldição que fez dos segundos mandatos presidenciais verdadeiros tormentos para os próprios e os outros, que se não deslumbre com a ideia de não mais ter de ser julgado pelos portugueses, que saiba ouvir bem e agir melhor. sendo para mim, às vezes, complicado perceber uma personalidade tão diferente, da qual nunca fui íntimo, retenho, não obstante, uma ideia que me anima neste instante pré-voto: é o político português em democracia que mais alto chegou vindo de muito baixo num país muito estratificado. todos os demais presidentes e primeiros-ministros – mesmo eanes – estudaram em liceus, vieram pelo menos da classe média. ele é, nessa medida, o que melhor retrata a maioria daqueles que deve representar – as portuguesas e os portugueses.

domingo 23

celorico de basto e reeleição

celorico de basto. lá votei em fermil. na sede da freguesia de molares. e reencontrei o ex-presidente albertino e o presidente joaquim. e comi um cabrito assado e um leite–creme de muito nível. e rapei o friozinho da praxe. e revi a biblioteca, para onde vieram, anteontem, mais umas centenas de livros. pena não haver nenhum pólo da minha faculdade perto, para passar cá a vida…

minho. tema de agenda que o eurodeputado josé manuel fernandes mandou fazer para o ano de 2011. com geografia, história, dados quantitativos, datas significativas e por aí adiante… uma magnífica iniciativa.

cavaco ii. e porque o que tem de ser tem muita força, cavaco ganhou à primeira. com uma abstenção elevada, que o penalizou em círculos onde é muito forte, mas onde as condições atmosféricas foram mais desfavoráveis. e ganhou em todos os círculos nacionais, o que não acontecera em 2006. pena, no dia eleitoral, os problemas com o sistema informático do mai. quanto aos restantes candidatos, alegre afundou-se nos resultados, nobre subiu substancialmente, lopes esteve no previsto, coelho surpreendeu, em particular na madeira, e defensor ocupou o último lugar e destoou da cortesia que deve assinalar a reacção ao voto popular.

notas soltas. cavaco cansado, mas legitimamente feliz nos discursos. bem, na tónica da juventude e do futuro, cuidadoso ao não abrir jogo quanto ao segundo mandato – tema para discurso de posse –, igual a si próprio na frontalidade relativamente aos ataques na campanha – ainda que excessivo no pedido aos jornalistas para a denúncia de encomendas, introduzido na segunda fala, e que só ouvi mais tarde –, verdadeiro na análise da sintonia com o português médio. alegre, triste mas com classe. nobre, eufórico. lopes, como sempre, certíssimo. coelho, feliz, a pensar nas regionais. sócrates, apertado mas hábil. passos, muito bem. portas, menos bem do que o costume. jerónimo, discreto mas eficiente. louçã, em baixo. sem falar, soares provavelmente muito feliz. a pensar que cá se fazem, cá se pagam? o pior vai ser alguma ressaca partidária…

tvi. numa noite habitualmente esmagadora para a rtp, aguentou bem. e ganhou dia e prime-time. um mês de janeiro de luxo. como se não via desde 2007. nível geral dos canais abertos, bom. subida do cabo, nesta noite eleitoral.

segunda 24 e terça 25

mário soares, rui pereira e desemprego

mário soares. tem razão no que diz hoje no dn. de sócrates, de alegre e de cavaco, no segundo discurso. mas sai mal no retrato. a vingança come-se gelada e sem sinal de júbilo pelo desastre alheio. este seu texto aparece cedo demais e contente demais…

rui pereira. à espera de inquérito. mas, para já, foi ele um dos grandes perdedores no dia eleitoral. o seu mai falhou! e o lugar está muito tremido…

citibank. economista-chefe insiste na ideia de portugal ir para o fmi. regressa a agitação para o governo.

indemnizações por despedimento. só 20 dias por ano de trabalho. projecto vai avançando no debate social. mas falta o fim do caminho.

desemprego. economia mundial cresce, mas emprego não. esse é mesmo um dos problemas do pós-crise bancária por todo o lado…

josé penedos. sampaio e vitorino foram abonar em tribunal. no processo face oculta. sampaio explicou a diferença entre prendas e prendas…

quarta 26

obama, ps e submarinos

obama. fez o discurso do estado da nação. começou bem. acabou mal. melhor: educação. pior: omissão sobre próximo-oriente. reacção do tea party bateu ortodoxos republicanos.

ps. sócrates reeleito em março. congresso em abril. empurrar com a barriga para a frente até novembro.

submarinos. em tribunal. cândida contente. expectativa apreciável. tema de futuras legislativas evidente.

portas. coligação pré-eleitoral – sugestão sem proposta. importante: preveniu passos que preço em 2012 é maior que em 2002.

carlos silvino. entrevista a desdizer tudo. em que acreditar? em anos de declarações ou nestas? e porquê?

eduardo barroso. jantar de anos na adega da tia alice. com alguns dos maiores amigos. mário soares e maria barroso encabeçando a família. gente de vários clubes e de 4 candidaturas. como amigo há 60 anos e meio, acho que eduardo merece essa abrangência.