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O dia-a-dia da semana visto por Marcelo Rebelo de Sousa.

quinta 10

ainda cavaco, moção e juros

reacções. ainda o discurso de posse do presidente. assis muito violento ontem, mais suave hoje. coabitação obriga. capoulas santos, josé lello e renato sampaio ainda zangados. para partido ouvir. sócrates com indirectas. para mostrar que reage. jerónimo e louçã críticos. quanto baste. passos moderadamente elogioso, macedo muito feliz. a satisfação sem colagem total. jardim certeiro. sobre diagnóstico e terapêutica. portas eufórico. a empatia nascida nos últimos anos é hoje permanente.

be. moção branda do bloco de esquerda, depois da mais incisiva de ontem. ocasião para mero exercício de estilo no parlamento. sem consequência…

espanha. baixa de rating pela moody’s. um pontapé de peso. a poder alimentar o nervoso dos mercados financeiros…

juros. nova subida. acrescidas preocupações…

psd-ps-cds. proposta de governo da inteligente deputada do cds, assunção cristas. ontem, em debate na sic notícias. a reter com atenção… pode muito bem ser a ideia de portas. e permitir decifrar um entendimento da proposta de cavaco silva para o amplo compromisso interpartidário de médio prazo?

zeinal bava. melhor ceo nas telecomunicações europeias. eleição promovida pela institutional investor magazine. prémio justo por uma carreira brilhante, que atingiu já o seu cume.

kadhafi. luísamado a enviar mensagem forte a tripoli. que o regime morreu. nato procura fórmula de intervenção. problema primeiro: as reticências de pequim e moscovo a cobertura da onu.

sexta 11

mais medidas, cimeira europeia e 11 de março

mais medidas. negociadas, em segredo, com comissão europeia e bce. vagas no estrutural. concretas nos impostos sobre pensões. omissas nos cortes de despesas públicas envolvendo extinções de estruturas. muito injustas no congelamento de pensões de sobrevivência.

tropismo autoritário. concertado com berlim e bruxelas, sócrates achou que a bondade das medidas e o fim de interesse nacional justificavam todos os meios – não informar presidente, nem parlamento, nem parceiros sociais. apenas o psd, necessário para viabilizar várias medidas, nomeadamente as para 2012 e 2013. como se fosse dono de portugal e só respondesse perante os poderosos e credores da europa… erro fatal: os fins não justificam os meios. em democracia, claro… e tratar assim portugueses, presidente, parlamento e psd é, objectivamente, apontar para a ruptura e as eleições. quem fez a cama em que se vai deitar foi o próprio sócrates…

cimeira europeia. sinais de acordo quanto ao pacto de competitividade, versão light, mas não reforço do fundo europeu para situações críticas. só aumento da disponibilização de mais 190 mil milhões dos 440 mil já existentes, podendo comprar dívida dos estados. um passo positivo. mas suficiente para travar os mercados? sabe a tardio e a muito pouco… deus queira que me engane e que os mercados o mostrem nas próximas semanas e meses.

fc porto. muito bom resultado, a vitória no terreno do cska. com muito apreciável exibição. como se esperava. e lá vai um…

benfica. bom resultado, na luz, frente ao psg. como se esperava. e lá vão dois…

sp. braga. excepcional resultado contra o liverpool. com grande primeira parte. a criar uma aberta quanto a missão quase impossível. mas a fé clubista nunca esmorece…

universidade. dia 21, homenagem da universidade a orlando ribeiro (pelos 100 anos do nascimento), jorge miranda e antónio lobo antunes. e dia 14 de julho, na nossa faculdade, homenagem mais afectiva a jorge miranda. na véspera da sua jubilação.

11 de março. foi há 36 anos. spínola a ser precipitadamente ingénuo. a resposta do mfa que se lhe opunha a ser rápida e eficaz. os sectores mais próximos de pcp e extrema-esquerda a galoparem com extinção da junta de salvação nacional e do conselho de estado, a criação do conselho da revolução, as nacionalizações e as expropriações, a extinção do pdc, o adiamento das eleições para a constituinte. por um triz, o próprio cds esteve para ser apanhado na onda. começava a fase mais radical da revolução, com novo governo provisório – o quarto – que duraria menos de seis meses. parece que foi na pré-história. mas não… só passaram 36 anos.

sábado 12 e domingo 13

manifs, passos e sócrates

manifs. regressado de fora – numa semana que acabou, para mim, como começara, com prova académica luso-espanhola –, vim a tempo de poder ver e analisar a manif de lisboa. impressões de quem esteve no rossio e percorreu, em sentido inverso ao dos protestantes, restauradores e avenida da liberdade: 80 mil, num juízo aproximado, 3/4 jovens e 1/4 não jovens, igualdade numérica entre mulheres e homens, tom geral apartidário com lemas desemprego e precariedade, vastas zonas anti-sócrates e anti-governo, presenças residuais de causas várias, carácter pacífico, cívico, tolerante – estalinista ao lado de liberal social – ambos isolados –, disponibilidade para mudar, propensão mais para esquerda do que direita, mas não partidarismo assumido e maior neutralidade ideológica do que na minha geração.

críticas anti-manifs. que eu ouvi nos últimos dias, nomeadamente de comentadores múltiplos: não é a geração mais sacrificada; os seus problemas não são só dela; sabe o que não quer mas não sabe o que quer; o que pode querer é impossível hoje e para o futuro; a sua manifestação é, pois, inconsequente e até passível de alguma crítica menorizante. o que eu penso: é verdade que todo o país está à rasca e que os que não podem manifestar-se são os mais à rasca de todos, como os idosos; mas ela tem problemas como geração – em sentido amplo, dos 16 aos 30 anos, ou seja, três gerações – que os mais velhos não tiveram na sua idade; e dispõe de uma energia de mudança que os mais à rasca não têm e de uma independência e capacidade de risco que os de 30 a 55 ou 60 anos também não têm; não sabe bem o que quer ou como lá chegar, e é mais ingénua do que os universitários de outros tempos e é menos ideológica, mas por culpa dos mais velhos e da alergia que criam com muito do seu comportamento cívico; o que querem é inviável, mas é viável melhor do que aquilo que têm; é desejável que sonhem mesmo o inviável porque foi isso que sucedeu com muitos mais velhos quando eram jovens. como encará-los? nem bajulá-los nem ignorá-los, até porque eles dizem alto o que muitos mais pensam baixo. e são muitos a pensar baixo…

passos coelho. por uma vez, esteve muito bem. parceiro para viabilizar oe e pec, a pensar no país, não é capacho que se usa e deita fora, sobretudo quando ainda se precisa dele… e ninguém é dono de portugal ou da democracia. guterres, ao contrário de sócrates, nunca faria nem fez nada de parecido comigo e o psd, em circunstâncias muito menos graves.

sócrates. reagiu amuado. puxando pelos galões da coragem de tomar medidas difíceis. e passos e o psd que as viabilizaram, corresponsabilizando-se por todas elas, sem terem a contrapartida de serem poder? que tal pensar no que vem pela frente de recessão, efeitos sociais e necessidade de base alargada para enfrentar os desafios de anos?…

clarificação interna. até agora, parecia lógico ir esperando pelos cenários da crise financeira – sem ou com fundos externos e como. agora, é visível que, em qualquer dos cenários, vai mesmo ser preciso o compromisso de médio prazo alargado – partidária, económica e socialmente. e sócrates, ao agir como agiu, com monopólio da verdade e do interesse nacional, desencadeou a clarificação político-eleitoral. terá tido a exacta noção do que fez? talvez não. mas está feito. e a clarificação vai ser mais rápida do que se esperava ou desejava…

segunda 14

fundo europeu e greve dos camionistas

fundo europeu. já anteontem me tinham dito, citando fontes estrangeiras. que sócrates fechara ‘acordo baseado em pedido informal’ de intervenção em portugal. se for verdade o que, hoje, surge na imprensa, eu, que não acreditei nas anteriores informações, acho ainda mais estranhamente grave a conduta do primeiro-ministro. será possível e corresponderá ao que fica no ar de ocultação a presidente, parlamento, parceiros sociais e portugueses? nem quero acreditar…

camionistas pararam. mais um problema neste pântano com um governo sem pedalada e sem credibilidade..

prémios. para arquitectos portugueses, por votação mundial. além do de arquitectura institucional para josé antónio barbosa e pedro guimarães, pelo edifício da vodafone no porto, o de interiores para a consexto, pela closet house em matosinhos e o de hotéis e restaurantes para diogo aguiar e teresa otto, pelo bar temporário da fac. arquitectura do porto.

celorico de basto. feira do livro em maio. com convidado de luxo, mário soares. este fim-de-semana, a viii festa internacional das camélias.

conjuntura. sócrates provocou a crise. e só aos poucos os analistas admitem que isso é mais pressionante a curto prazo do que o discurso de cavaco ou mesmo do que as manifs de ontem. o ps vai acordar e tentar inverter o ónus da prova. tarde. tivesse sócrates sido um pouco mais humilde. ou, pelo menos, mais precavido. agora, é remediar o já feito…

sócrates tentou hoje desculpar-se. mas não conseguiu. foi a bruxelas com um cheque sem cobertura do presidente e do parlamento. justifica essa falta de mandato nacional com o risco iminente de intervenção dos fundos, o que quer dizer que reconhece que a situação é muitíssimo mais grave do que tem andado a dizer. agora tem duas semanas para obter a cobertura para o cheque. se não, irá à próxima cimeira confessar que abusou da confiança dos credores e dos portugueses.

terça 15

american club, sócrates e netos

american club. em dia hipercheio de júris, aulas e reuniões, almoço no american club. não no tradicional sheraton, mas no real parque. muita gente. conjuntura em debate. após a minha palestra. por sinal, a sexta ou sétima desde os anos 70. questões mais picantes: euro, mercados, pec, eleições, cenários pós-eleitorais, presidente da república. marcado em janeiro, pagava para o adiar para o outono. mas as coisas são como são e quem poderia imaginar em janeiro o que se vive agora?

sócrates pode fazer mil entrevistas que dificilmente consegue dar o feito por não feito. ele já não é, há muito, solução para o problema. ele é o principal responsável pelo problema. e o próprio mário soares o entendeu e disse: «é tempo de desamparar a loja».

volunteerbook. rede social de voluntários. base – bolsa do voluntariado. grande promotora – a dinâmica isabel jonet. do banco alimentar contra a fome. adesão espectacular de jovens. sobretudo mulheres…

netos. lá estão no brasil. com muita chuva, escola diferente e coisas novas, boas e menos boas, para viverem. será que consigo dar um pulo a são paulo na páscoa? morro de saudades, mas compromissos académicos, cá, estão a dificultar.

quarta 16

quatro anos e meio

sol. arrancou há quatro anos e meio. e eu entrei logo no início. dizendo que era para o arranque. e por especial amizade a josé antónio lima. um ano mais tarde, achei que tinha cumprido a missão assumida e devia partir. lima insistiu e fiquei. e assim, sucessivamente, aos três e quatro anos. entretanto, o sol foi durando, criando um estilo e um lugar no panorama jornalístico nacional. resistiu aos ataques do governo e às movimentações mais subtis de accionistas, no fundo telecomandadas pelo executivo. depois, tornou-se luso-angolano ou angolano-lusitano e embaixador da lusofonia em angola, cabo verde e moçambique. além de portugal. esse seu actual e futuro protagonismo é muito importante. isto é, está em velocidade de cruzeiro e com iniciativas múltiplas a nascerem todos os dias.

blogue. entretanto, este blogue, que começou por ser uma piada, uma experiência de curtíssima duração, foi-se fazendo, crescendo, ganhando forma. atingiu o seu melhor tempo em 2009. mas aguentou 2010. até que o desejo de fechar um ciclo se tornou imparável. estava a cansar-me do blogue. após vários pré-avisos amigos, atingi a sensação de fim de ciclo na viragem do ano. já nem netos tinha em portugal para falar das suas aventuras e dos meus enlevos… há um mês, comuniquei ao meu velho amigo a partida. hoje, é o último dia do blogue.

agradecimentos. aos josés antónios, saraiva e lima, ao mário e à paula, e à sofia. e à carolina. a todos os que me convidaram, apoiaram, incentivaram, nestes anos de apontamentos diários. foi muito bom ter escrito no sol! e divertido! um abraço amigo e reconhecido. e ainda maior para todas e todos os que tiveram a paciência de acompanhar a minha vida – dia a dia – nestas páginas. agora, vou reganhar alguma privacidade de que prescindi durante anos. há um tempo para tudo. e o tempo para esta magnífica aventura terminou.