Ao comediante desconhecido

Rodrigo Marques é brasileiro, tem 23 anos, integra o grupo ‘Ideais de Comédia’, do Recife, e foi um dos finalistas do maior concurso de stand-up comedy da América Latina. Passou por cá de férias, com a mãe e a namorada, descobriu o nosso espectáculo e mandou um e-mail, com link para vídeos seus, a oferecer-se…

rui moreira é um jovem português, 29 anos, casado, trabalha a partir de casa com a mulher, tem um humor assumidamente intelectual e o maior cachet que recebeu rondou os 100 euros.

o espectáculo chama-se os altos e baixos desta vida, por mim e antónio raminhos, e esteve cinco noites seguidas no cinema são jorge, praticamente sem divulgação e acolhendo alguns convidados especiais, como os supracitados. ambos actuaram na mesma noite, o mesmo quarto de hora ao segundo, o mesmo calor vindo do público. ficam felizes por poder actuar, experimentar material novo, quase se ofendem por fazermos questão – é o mínimo – de lhes oferecer o jantar. segundo rui, que – como rodrigo – devora informação sobre comédia, cd’s de stand-up, sites estrangeiros, há já cerca de 150 comediantes em portugal. bem após o boom provocado pelo programa levanta-te e ri, eles andam aí. a esmagadora maioria não são (ainda) conhecidos, actuam por amor à camisola e devoção à sua arte. organizam-se em pequenos grupos de cúmplices, promovem-se nas redes sociais, procuram locais onde assumir a responsabilidade de estar sós perante as plateias.

admiro estes apaixonados, invejo-lhes a dedicação, desejo-lhes sorte. toda a sorte do mundo. espero que o país saiba merecer a ingenuidade destes puros românticos.

ii – uma via para os elefantes brancos

há um senhor novo à frente da liga de clubes de futebol. esqueci o nome dele. tinha um opositor cujo nome também não retive, apenas a informação de que este, vencido, tinha o apoio dos ‘três grandes’. claro que podia ter ido ao google (ou telefonado ao nuno rogeiro) mas pensei atempadamente no requintado sadismo que seria submeter um precioso neurónio à obrigação de se concentrar exclusivamente na posse dessa informação inútil. quando penso na liga de clubes, ou federação, ou no dirigismo em geral, o meu cérebro enche-se de senhores anafados, calvos, praticantes daquele meio abraço à mafioso onde os interlocutores se limitam a agarrar em simultâneo os antebraços um do outro como se estivessem indecisos entre um chocho ao parceiro ou o estrangulamento do dito cujo.

a renovada liga de clubes e coiso, com pompa e circunstância, quiçá inspirada pelo 4.º lugar da liga portuguesa num top mundial organizado de acordo com criteriosas estatísticas (a propósito, o escriba não é adepto de bondage mas o meu vizinho participa em duas sessões por ano – estatisticamente, isto significa que, a cada 365 dias, me visto de látex dos pés à cabeça, sou amarrado e uma senhora procede ao agrafamento dos meus mamilos), anunciou a solução para os problemas financeiros dos clubes nacionais: o alargamento da 1.ª divisão a mais duas equipazinhas. peregrinos, até ponderaram que – na presente época – não descesse ninguém. o que decerto faria maravilhas pela emoção de um olhanense-paços, o drama de um feirense-beira-mar, o suspense de um vitória-união.

vou já atalhar para a minha sugestão, ok? espécie de terceira via utópica apenas credível quando a todos e ao mesmo tempo, devidamente sincronizados, vos crescer um par de thratsos (não sabem o que é, perguntem ao rogeiro). 10 clubes, nada mais nada menos. uma liga verdadeiramente competitiva com 10 equipas dignas desse nome e 30 jornadas em três rondas: jogas em casa, jogas fora, jogas em campo neutro. neutro? onde? boa pergunta, cabeças de abóbora. no estádio do algarve, de leiria, de aveiro, quiçá no jamor, nesses elefantes brancos que por aí abundam e me custaram uma pipa de massa. repito, nesses elefantes brancos, em minúsculas.

iii – pérolas encontradas em conversas durante esta semana

não sei o que aborrece mais nesta coisa da maçonaria. se existirem sociedades secretas hoje em dia, em pleno século xxi, democracia e tal… se não me terem convidado para nenhuma.

curioso. costumava adorar o robert downey jr. mas agora de repente já só me parece um homem maniento, na crise da meia-idade, cheio de tiques e um mal disfarçado problema de hemorróidas.

a minha mãe esteve num evento onde o chef chakall cozinhava, metia música e era relações públicas. e? no meio daquela agitação toda, caiu-lhe o turbante e é careca!

ó mãe, porque é que este senhor (miguel sousa tavares) está sempre zangado?

lfb_77@hotmail.com