a preocupação com a preservação do consenso político em portugal não se confina ao banco de portugal. em belém, cavaco silva tem vincado, a cada intervenção, a importância que atribui a esse consenso. em bruxelas a tensão crescente entre governo e ps é seguida com atenção e até o fmi já identificou o risco político no último relatório de avaliação.
o psd, depois de esticar a corda apresentando em bruxelas o deo antes de o dar a conhecer ao principal partido da oposição, decidiu não levar o documento a votos na assembleia da república, soube o sol.o ps também se absterá de o fazer. «não faz sentido votar um documento que foi submetido a bruxelas antes de ser discutido em portugal. isso seria o quê? uma ratificação?» , responde em declaração ao sol.
socialistas forçados a definir um voto
o deo prevê que a devolução dos subsídios retirados a funcionários públicos e pensionistas vai ocorrer para lá do término do programa de intervenção da troika. o_ps, perante este documento, terá dificuldades em ficar-se pela «abstenção violenta» que criou divisões na bancada, aquando da votação do orçamento do estado para 2012.
mas os socialistas não se livrarão de ter de tomar posição. isto porque o be vai apresentar um projecto de resolução para forçar a votação do deo. ao sol , francisco louçã adiantou que o objectivo é «forçar os partidos da maioria e todos os outros a tomarem posição e discutir alternativas» .
anteontem, o número dois do psd, jorge moreira da silva, pôs mais lenha na fogueira. o deo enviado para bruxelas é só «uma base técnica e provisória» e o ps tem o dever de dar «contributos válidos» , estando o psd aberto a «aperfeiçoar o documento» .
a resposta do ps revela irritação: «estamos fartos de dar contributos para o que falta ao governo, que é uma uma estratégia de crescimento e emprego» , diz o líder parlamentar do ps ao sol. carlos zorrinho diz que o deo «só prolonga até 2016 uma estratégia errada» .
a ameaça de antónio josé seguro de rompimento do consenso político em torno do memorando fez soar as campainhas de alarme na troika. o apoio político e social quanto ao cumprimento do memorando de entendimento é visto fora de portas como o principal trunfo de portugal, não só em comparação com o que se passa na grécia, como face ao clima que político que se tem sentido em espanha, onde o psoe e os sindicatos partiram para a contestação na rua aos primeiros sinais de austeridade decretados pelo governo de mariano rajoy.
esse trunfo tem sido repetido em cada discurso que os governantes portugueses fazem fora de portas para ‘vender’ uma boa imagem do país. um exemplo: na recente deslocação que fez a washington, vítor gaspar baseou as suas intervenções num documento chamado ‘portugal: restaurar a credibilidade a confiança’, onde o amplo consenso político constava no topo da lista dos argumentos para os investidores poderem regressar ao país.
sofia.rainho@sol.pt e tania.ferreira@sol.pt*
com manuel a. magalhães