TAP cai, mas venda da ANA está garantida

Pelo menos o segundo candidato à ANA mantém a proposta, apesar do fim da privatização da TAP. O PS não desarma e reclama a suspensão também dessa privatização.

fracassada a venda da tap ao grupo de germán efromovich, a preocupação máxima do governo é, agora, assegurar que tudo corre bem na venda da ana, prometida para a próxima quinta-feira. este processo é determinante para portugal manter a boa imagem junto da troika e dos mercados e, também, para assegurar o cumprimento das metas de endividamento traçadas para este ano.

a determinação do executivo em levar o negócio da ana a bom porto foi ontem evidenciada pela secretária de estado do tesouro. apesar da decisão de adiar a venda da tap «para momento oportuno, dentro do período do programa de ajuda a portugal» (meio de 2014), maria luís albuquerque assegurou, ontem após o conselho de ministros (cm), que se mantém o calendário da decisão de venda da ana.

um sinal positivo para o sucesso desta operação já foi dado por um dos mais fortes candidatos à compra da gestora aeroportuária, os alemães da fraport e o fundo australiano ifm. «o nosso interesse na ana é independente do desfecho do processo de privatização da tap», afirmou ontem ao sol fonte deste grupo. o consórcio apresentou «a melhor proposta estratégica e financeira, sem colocar condições, respeitando o caderno de encargos», reforçou a mesma fonte, depois do chumbo da venda da tap ao grupo synergy, dono da aviana – alegando a falta de «adequadas garantias bancárias», sobretudo no que respeita à assunção do passivo da empresa.

os franceses da vinci, um dos maiores accionistas da lusoponte e que terá apresentado a proposta financeira mais alta – no valor de 3 mil milhões de euros, recentemente reforçada em 500 milhões de euros – também estão firmes na corrida, sabe o sol. ontem, depois de ter sido conhecida a decisão sobre a tap, este consórcio preferiu não fazer comentários quanto ao processo. o silêncio é, aliás, nota dominante nos dois outros consórcios na corrida.

certo é que as quatro propostas vinculativas foram apresentadas no final da semana passada e, nesta fase, já não há margem para negociar os termos das ofertas. isto apesar de vários candidatos terem defendido que a decisão sobre a tap poderia influenciar o preço. «a única coisa que pode ocorrer agora são clarificações às propostas», esclareceu a secretária de estado do tesouro. o preço, por outras palavras, não pode ser alterado.

ps quer travar ana, cds aliviado
o anúncio do falhanço da venda da tap apanhou o meio político desprevenido. os socialistas, por exemplo, fizeram contestação crescente à condução do processo e, apurou o sol, tinha na manga uma comissão de inquérito parlamentar de forma a pedir escrutínio total da privatização.

ontem, logo que foi anunciada a decisão, carlos zorrinho resolveu dar os «parabéns» ao governo pela decisão, reclamando os louros pelo recuo. mas hoje mesmo, quando maria luís albuquerque e sérgio monteiro forem ao parlamento explicar o que aconteceu, os socialistas vão exigir ao governo decisão idêntica no que respeita à ana.

«a comissão de fiscalização só agora foi constituída, a autoridade da concorrência não foi ouvida, houve candidatos que ficaram de fora e voltaram ao concurso. e há mais problemas, o processo não foi transparente», justifica fonte socialista ao sol. mas aqui, a existência de quatro candidatos aumenta o escrutínio público da privatização.

a luta dos socialistas contra as privatizações será tão ou mais dura no processo seguinte. «próxima batalha: rtp», escreveu joão ribeiro, porta-voz do ps, na sua página no facebook.

já entre os centristas, a decisão de ontem sobre a tap provocou um significativo alívio. entre os dirigentes do cds havia quem pedisse outro empenhamento na demonstração de transparência. como nuno melo, número dois do partido, que dizia ao sol na quarta-feira que «tratando-se de um sector estratégico fundamental do estado, não deve deixar quaisquer dúvidas, deve ser à prova de bala».

segundo fontes envolvidas na decisão, a não privatização chegou já fechada à reunião de ontem do conselho de ministros, baseada nos pareceres oficiais que a davam como «demasiado arriscada para o estado». a discussão foi mais intensa sobre as consequências – quer quanto ao futuro da tap, quer quanto à evolução dos processos de privatização.

efromovich contraria governo mas admite voltar à carga
quem não se mostra convencido com o «não» do governo é o empresário german efromovich, candidato único à compra da tap. se maria luís albuquerque foi clara ao basear a decisão na ausência de garantias de crédito, o empresário garante que não era isso que estava combinado.

«as garantias existem e deveriam ser apresentadas no fechamento, ou seja no dia 27, nunca na aprovação, pois nem se sabia se seria aprovado ou não», declarou ontem ao sol. a interpretação do executivo é outra: efromovich teria que apresentar essas garantias ainda antes da decisão do governo.

quanto ao futuro, a única certeza é que tudo começa do zero. o governo assume que terá ainda de avaliar um novo calendário, dependente agora das condições do mercado. admite, porém, que o modelo de privatização deve ser outro – passando talvez pela libertação do negócio no brasil, o mais penalizador para a empresa.

quanto a efromovich, cuja proposta estratégica para a tap foi ontem valorizada pelo governo, deixa tudo em aberto: «o futuro a deus pertence».

ana.serafim@sol.pt e tania.ferreira@sol.pt

* com david dinis e helena pereira