‘Não sou ministro dos generais reformados’

José Pedro Aguiar-Branco rejeita críticas recentes, insiste que fecho dos Estaleiros foi a melhor saída e explica ‘novela’ sobre novo bispo das Forças Armadas.

O Governo já fechou os Estaleiros Navais de Viana do Castelo (ENVC), mas a Comissão Europeia ainda não encerrou o processo por ajudas indevidas do Estado. Ainda há o risco de ter devolver verbas?

Em primeiro lugar, devo dizer que o que o Governo está a fazer vai ser bom para Viana do Castelo. Não estamos a fazer nada à margem do conhecimento da Direcção-Geral da Concorrência. Haveria risco se Portugal estivesse a fazer na clandestinidade, o que não é o caso.

Desde que tomou posse, cancelou uma série de encomendas de navios da Marinha aos ENVC. A Marinha não precisa desses navios, como os Patrulha Oceânicos?

Entre 2005 e 2011, com um Portugal moderno e pujante e com o Eng.º Sócrates a dizer que estávamos na primeira linha da modernidade, não se fez nenhum dos navios. Entretanto, Portugal está na pré-bancarrota e achar-se-ia natural que se investisse em navios? Vamos preparar uma revisão da Lei de Programação Militar (LPM) que seja exequível e realista.

Vão encomendá-los à Martifer ou ao Arsenal do Alfeite?

O Estado, como cliente, irá fazer as suas encomendas onde seja possível assegurar a melhor qualidade, competência e o melhor preço.

E o contrato para a construção de dois navios asfalteiros para a Venezuela vai passar também para a Martifer?

Estamos a trabalhar para a cessão da posição contratual para quem a PDVSA [empresa venezuelana] autorizar. Desejavelmente gostaríamos que fossem feitos em Portugal e em Viana do Castelo.

Como se sente o ministro da Defesa quando as associações militares ameaçam fazer uma revolução e generais na reforma, como Garcia Leandro, acusam-no de nada saber de Defesa?

Não tenho dúvida nenhuma que as Forças Armadas sabem bem o seu papel constitucional e a sua subordinação ao poder político que é legitimado nas urnas. As Forças Armadas falam pela voz dos chefes militares, que representam 34 mil homens e mulheres. As associações representam os seus associados, que são quatro mil. Depois existem tenentes-generais reformados. Até há uma expressão nas Forças Armadas que diz que os generais no activo são muito reservados e na reserva são muito activos. O ministro não é ministro nem das corporações nem dos tenentes-generais reformados. O ministro faz o que é fundamental para que haja maior equilíbrio e capacidade operacional.

O Bispo das Forças Armadas foi anunciado em Outubro e só em Fevereiro pode tomar posse. A Santa Sé não foi desconsiderada pelo Governo?

Não. Desde o primeiro momento que foi informada que a situação, tal como estava, obrigava à ponderação de uma forma de integração que não era fácil ou evidente.

O problema foi a regulamentação da Concordata, em 2009?

Tinha que ver com o capelão-mor, o ordinariato castrense, a situação de aposentado em que está o bispo. A conjugação desses factores todos não permitiu uma solução automática. Já foi autorizado pelo Ministério das Finanças a equiparação do bispo a major-general. Por ser aposentado, a sua situação tinha que ter autorização das finanças. Há pormenores de natureza legal que não tinham sido 100% apreendidos pela Nunciatura.

Actualmente só existem capelães católicos?

Os capelães fazem parte da orgânica das Forças Armadas e são pagos pela Forças Armadas, uma vez que são equiparados a postos militares. A capelania-mor agrega os vários capelães, que actualmente são só católicos, embora os evangélicos estejam a fazer esse caminho.

helena.pereira@sol.pt e margarida.davim@sol.pt