Conchita e o direito a ser pirosa

A vitória de Conchita Wurst no Festival da Eurovisão provocou um terramoto na Europa. Como é possível que um ser que ninguém consegue definir – entre drag queen e travesti – tenha ganho um festival ‘tipo caseiro e familiar’? Os nacionalistas russos e os seus seguidores consideraram a vitória de Conchita o fim do mundo…

Do outro lado da barricada estão algumas organizações gay que consideram a vitória do representante austríaco um sinal muito positivo para a igualdade e diversidade dos géneros, bem como uma conquista do direito à liberdade.

Os russos chegam mesmo a dizer que quem defende a entrada na União Europeia deve saber que os espera uma mulher com barba; as organizações gay acreditam que se deve aproveitar este acontecimento para dar ‘gás’ aos partidos que se identificam com os Wurst. Tudo isto me parece um disparate total. De um lado, quase se defende que Conchita deve acabar na fogueira desta inquisição ortodoxa russa; do outro, que deve ser considerada a nova Joana D’Arc dos homossexuais e afins.

Mas isto faz algum sentido? Estamos a falar de um homem que se veste de mulher e que tem o profundo mau gosto de usar barba. Mas faz mal a alguém por isso? Claro que não. Está verdadeiramente enquadrado com o Festival em questão: é de uma piroseira atroz. Claro que os russos não perdem uma oportunidade de mostrar toda a sua homofobia, já que não aceitam, pelo menos os políticos mais mediáticos, que as pessoas possam fazer o que bem entendem da sua sexualidade.

Também não deixa de ser curioso que um país tido como um dos mais conservadores, onde não faltam fundamentalistas dos costumes, tenha sido precisamente aquele que apresentou uma transexual a concurso duas vezes, ganhando numa delas. Falamos de Israel, que vive permanentemente em guerra e onde não se acredita que Dana, a tal vencedora, tenha provocado uma mossa nos seus camaradas militares ou  tão pouco que o país atravesse uma crise de valores. Resumindo: Conchita é brega, mas deixem as pessoas serem o que muito bem entenderem.

vitor.rainho@sol.pt