A história recente da democracia portuguesa mostra que não há um só líder da oposição (considerando PS e PSD) que se tenha perpetuado no cargo durante um ciclo de poder. Seguro ainda poderá ser o primeiro – isto, claro, se conseguir vencer António Costa e continuar em funções até ele próprio disputar nas urnas o cargo de primeiro-ministro com Passos Coelho.
Governo triturador
O facto é que tem sido fácil para quem está no poder triturar as lideranças que encontra na oposição. E mais difícil para quem tenta chegar ao poder fazer mossa na estrutura do Governo. Seguro acumula duas vitórias: nas autárquicas do ano passado e nas europeias. A vantagem sobre o PSD – que soma às medidas impopulares as crises da coligação com o CDS – não está a ser suficiente para convencer uma parte do PS, que clama por mudança interna. António Costa só ligou a máquina trituradora que estava nas mãos do Governo.
Cavaco Silva (1985-1995)
Mário Soares em Belém de olho no Largo do Rato
Só quando Cavaco decidiu que era tempo de preparar a sua candidatura a Belém, após 10 anos em S. Bento e duas maiorias absolutas, é que o PS sonhou regressar ao poder. Até lá, tentou acertar o passo na oposição e nos corredores do Rato.
Mário Soares era o Presidente da República e dificultava a vida aos líderes que lhe sucederam, como Vítor Constâncio. Soares ficou furioso com o diálogo deste com Cavaco no processo de revisão constitucional de 1987, que abriu portas às privatizações. O mesmo aconteceu com Jorge Sampaio, eleito em 1989 e que Soares considerava um "homem morto", quando António Guterres, em 1992, surgiu disponível (e com o apoio do fundador do PS) para enfrentar o então autarca de Lisboa.
Guterres foi então capaz de mobilizar a estrutura do PS para pôr fim ao ciclo do PSD. Foi eleito em 1995 e 1999, vindo a demitir-se quando já era primeiro-ministro (após a derrota do PS nas autárquicas de 2001).
D. Barroso (2002-2004)
Sampaio não cedeu e Sócrates construiu-se
Ferro Rodrigues não convencia e as críticas à oposição que fazia a Durão Barroso e a Paulo Portas subiam de tom. Apesar da divisão interna, o PS de Ferro conseguiu bater o PSD de Durão nas Europeias de 2004, em Junho. Em Belém, Sampaio ignorou a vantagem de 11% dos socialistas sobre os sociais-democratas e, quando Barroso avançou para a presidência da Comissão Europeia, em Julho, aceitou a solução do partido do governo: Santana Lopes como primeiro-ministro.
O então Presidente da República viria a recuar. Depois de o levar a S. Bento, Sampaio cansou-se dos sucessivos ‘casos’ de Santana e decidiu dissolver o Parlamento, no final do 2004. Ferro, enfraquecido pelo envolvimento no caso Casa Pia, nunca perdoaria Sampaio e demitiu-se do PS. A demissão não fez muita mossa no partido, onde José Sócrates, ex-ministro de Guterres, há muito que espreitava o seu momento: chegou à linha da frente pouco depois e foi eleito primeiro-ministro em 2005.
J. Sócrates (2005-2011)
Quatro líderes para derrotar o ‘animal feroz’
Foi difícil a engrenagem do PSD na oposição a José Sócrates. Marques Mendes foi o primeiro a tentar: perdeu para o PS as autárquicas de 2005, mas não pediu a demissão. Não obstante as críticas, Mendes passou no congresso não electivo de 2006 e viu aprovada a sua proposta de eleições directas.
A partir do Norte , Luís Filipe Menezes reuniu apoios e decidiu desafiar Mendes a convocar directas, reabrindo a corrida à liderança. Mendes aceitou e Menezes venceu, mas não convenceu. Ao fim de apenas um ano à frente do PSD, assumiu a responsabilidade por não ter conseguido unir o partido e desafiou os críticos a avançarem – e assim fizeram Ferreira Leite, Passos e Santana, tendo a ‘dama de ferro’ do PSD levado a melhor. Teve dois anos para preparar a sucessão a Sócrates, mas não evitou a reeleição do socialista em 2011. Sócrates arrancou para novo Executivo com o PSD a discutir nova liderança: Passos, Rangel ou Aguiar-Branco? Ganhou Passos.