Jardim é o primeiro a saltar do barco

«Se for a uma casa de apostas e disser que esta direcção nacional do PSD ganha as eleições legislativas de 2015, eu acho que vai fazer ali uma aposta que, se der, vai receber muito dinheiro», pois são mínimas as probabilidades e as expectativas de isso acontecer. 

A frase, embora pareça, não é de João Semedo, cada dia mais isolado no radicalismo bloquista, nem de Jerónimo de Sousa que, no seu revivalismo comunista, até já volta a pedir a nacionalização da banca. A frase é, na verdade, de um histórico dirigente do PSD, Alberto João Jardim. Que acrescenta mesmo: «O partido que perdeu as eleições europeias [o PSD] devia estar a discutir que líder é que vai apresentar às legislativas». Com amigos destes, Passos Coelho bem pode sentar-se à mesa com inimigos. 

É certo que estas críticas de Jardim devem ser contextualizadas e relativizadas. Porque têm na sua base razões pessoais, circunstanciais e oportunistas – como, aliás, é recorrente nas voltas e reviravoltas do líder madeirense. Ou seja, Jardim faz voz grossa e tenta fragilizar o chefe do Governo no momento em que a Madeira se vê obrigada a negociar com Lisboa um novo empréstimo de 950 milhões de euros para fazer face a necessidades de tesouraria e tenta flexibilizar as duras condições do plano de resgate madeirense. Um comportamento que já lhe é habitual. E que poderá, também, estar relacionado com a sua intenção de se candidatar a novo mandato na região e querer distanciar-se, desde já, da austeridade e da impopularidade deste Governo PSD/CDS. Nada de novo, também aqui, no que respeita a Jardim. 

Mas é inquestionável que, tal como aconteceu aos Governos que cairam do poder por toda a Europa neste ciclo de austeridade, também em Portugal são escassas as hipóteses de o Psd (com ou sem CDS) vencer as legislativas de 2015. Ainda que o partido não tenha melhor cara para apresentar ao eleitorado do que Passos Coelho – que resistiu, com sangue frio e sentido de Estado, a todas as adversidades e crises internas nestes difíceis anos de troika.
O que Passos Coelho, pode, desde já, antecipar pela reacção de Jardim é o que o espera no final de 2015. O líder madeirense é, apenas, o primeiro a saltar já fora do barco. 

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