O Marinho Pinto que calhou na rifa ao PSD

Podia ser um discurso típico de Marinho Pinto, mas no caso em apreço é de Rui Rio. Marinho, há pouco eleito eurodeputado, já admite concorrer às legislativas de Outubro de 2015 (para constituir um grupo parlamentar que «irá permitir soluções de governo ao PS»…) e, logo a seguir, às presidenciais de Janeiro de 2016. Agora,…

«Se as coisas no país evoluírem de uma tal forma que um dia seja absolutamente claro que há muita gente que desejava mesmo e deposita muita confiança em mim, e por um conjunto de circunstâncias quer que eu vá, se eu sentir que isso é um movimento grande, é evidente que dificilmente uma pessoa pode defraudar as pessoas e fugir» – diz, cândida e engasgadamente, Rui Rio. E ele próprio: quer ou não quer concorrer a Belém? E ao partido? Ainda não sabe? Está à espera de um ‘movimento grande’ que não se vislumbra para formar a sua vontade? Está a esmolar uma ‘vaga de fundo’ inexistente como pretexto para avançar?

Sejamos claros: admitir o cenário de se candidatar à Presidência parece ego a mais para tão limitado currículo político. Rui Rio não foi mais do que presidente de Câmara e não resiste à comparação com figuras que o PSD pode apoiar para Belém como Marcelo Rebelo de Sousa ou Durão Barroso, que têm outra craveira, outro estatuto e outra carreira política.

Tal como Marinho Pinto, Rui Rio é um praticante da oratória populista,  justicialista e com uns laivos antipartidos, politicamente correctos e eleitoralmente pagantes. Diz Rio: «Para mim, é claro que se não introduzimos reformas muito profundas no regime ele vai cada vez enfraquecendo mais». E acrescenta: «Há uma desconfiança da sociedade relativamente à política». Marinho não diria melhor. 

Que reformas muito profundas? Rio tem a particularidade de só fazer diagnósticos gerais, de raramente apresentar soluções. Quando o faz, é para propor que  não haja eleições nas autarquias com desequilíbrios financeiros e elas sejam geridas por comissões administrativas. Ou para sugerir que a abstenção e os votos brancos e nulos possam ‘eleger’ lugares vazios no Parlamento. Assustador, no mínimo.

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