BE: uma fragmentada inutilidade política

Agora, foi Ana Drago a sair do Bloco de Esquerda, levando consigo a corrente Fórum Manifesto. Drago alega que «sai para poder agir», pois «dentro do BE esse espaço estava limitado», e propõe a «convergência à esquerda», sem excluir o PS e, em particular, com o Manifesto 3D de Daniel Oliveira e o partido Livre…

Acontece que ambos, Oliveira e Tavares, são dissidentes do Bloco. Tal como a agora ex-bloquista Ana Drago. Ou seja, todos eles não conseguiram convergir politicamente quando estavam dentro do BE. Decidiram, por isso, divergir e dissidir… para a seguir se esfalfarem no esforço de convergir. E vice-versa, supõe-se.

Tudo isto parece mais um desfile de egos pessoais do que uma clivagem de linhas políticas. Se nos lembrarmos que, antes destas dissidências, já saíra do Bloco o grupo MAS, antes Ruptura/FER, e que, no interior do BE, persistem a Tendência Socialismo, a Esquerda Alternativa ou a corrente Socialismo e UDP, é possível antever o enorme potencial de cisões, divergências e convergências que se perfilam no horizonte bloquista. Como diriam os clássicos, a esquizofrenia cisionista é a doença infantil do esquerdismo. 

João Semedo diz que «o caminho do Bloco não é ser uma sucursal do PS». De facto, o que parece cada vez mais é uma sucursal do PCP, em relação ao qual já mal se distinguem as propostas políticas. Como é o caso da ilusória reestruturação da dívida que ambos propõem, tipo ‘não pagamos’, e que faria de Portugal um misto de caloteiro chico-esperto e vigarista encartado aos olhos da comunidade internacional. 

Criado em 1999, numa lógica integradora de vários movimentos e grupos de esquerda, o Bloco andou até 2004 abaixo dos 3% em eleições. Atingiria o seu auge ao fim de dez anos, em 2009, com 9,8% (e 16 deputados) nas legislativas e 10,7% (e 3 eleitos) nas europeias. Caiu, entretanto, nestes cinco anos, para menos de 5% nas últimas europeias. E, quanto mais cai eleitoralmente, mais grupúsculos e dissidências aparecem. O Bloco tornou-se uma fragmentada inutilidade política. Tal como a pulverizada nuvem de figuras e movimentos, ora divergentes ora convergentes, que gravitam na sua órbita. 

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