BES soma incerteza ao Orçamento do Estado

INE tem até ao final do ano para calcular efeito do resgate nas contas públicas. Dores de cabeça de Maria Luís Albuquerque aumentam de forma drástica na rentrée e poderá haver surpresas no final do ano.

BES soma incerteza ao Orçamento do Estado

A solução adoptada para capitalizar o Novo Banco que surgiu das cinzas do BES traz incerteza acrescida à gestão orçamental deste ano – que já tem múltiplos ‘buracos’ potenciais a partir de Setembro, sobretudo nas empresas públicas. Segundo as indicações dadas esta semana pela ministra Maria Luís Albuquerque, a operação não entra nos cálculos da meta de 4% de défice este ano, mas haverá um «efeito estatístico» que só será conhecido no final do ano, indicou ao SOL o Instituto Nacional de Estatística (INE).

Em entrevista à SIC esta semana, a ministra das Finanças garantiu que «para efeitos das nossas metas, do nosso compromisso dos 4%, isto [intervenção no BES] não conta, não é preciso fazer nada». A agência de rating Fitch considera também que a operação terá «efeitos orçamentais limitados».

Embora a ministra já tenha indicações da Comissão Europeia de que a recapitalização não terá efeitos no défice, solicitou esta semana que o INEapurasse a natureza da operação e os efeitos nas contas públicas. Só que é de uma complexidade tal que nem o organismo oficial está em condições de dar uma resposta taxativa, para já.

«Não está disponível informação estruturada suficiente que permita ao INE pronunciar-se sobre o registo estatístico desta operação», admitiu ao SOL fonte oficial do organismo.

A incerteza vai manter-se nos próximos meses. Como a operação ocorreu em Agosto, no terceiro trimestre, «o prazo final de análise e decisão do seu registo estatístico é o final do mês de Dezembro», quando o organismo publicar as contas nacionais por sector institucional referente àquele período, explicou a mesma fonte.

Riscos no horizonte

No limite, o Governo poderá optar por uma solução que já marcou a execução orçamental de anos anteriores: haver um défice com BES e outro sem BES, tal como já houve um défice com e sem injecção de capital no Banif em 2013. Parte da complexidade da análise da operação reside no facto de a contabilidade europeia estar em mudança. A partir de Setembro, todos os países europeus passarão a ter novas regras e o perímetro orçamental vai ser alargado.

A CP, a Parpública, a Sagestamo, a Estamo, os Hospitais EPE e as entidades reguladoras vão passar a contar para o défice, e muitas destas entidades são deficitárias. O INE já avisou que pode haver efeitos negativos no défice deste ano e a Comissão Europeia sublinhou que não haverá qualquer flexibilização de metas devido a esta mudança.

O desequilíbrio das empresas públicas soma-se a outros riscos orçamentais até ao final do ano, já identificados por organismos independentes como o Conselho das Finanças Públicas ou a Unidade Técnica de Apoio Orçamental. Entre eles estão os desvios resultantes do chumbo do Tribunal Constitucional aos cortes salariais, os riscos nos encargos com as Parcerias Público-Privadas ou as duvidosas poupanças em medidas como o Programa Aproximar, que vai descentralizar serviços públicos.

O Estado começou o ano com uma almofada financeira superior a 900 milhões de euros (reserva orçamental e dotação provisional no Orçamento do Estado) mas já gastou 85 milhões no primeiro semestre.