Este ano é, de facto, um ano muito peculiar (devo dizer difícil?) para o Benfica. Porquê? Por uma razão muito simples: o Benfica não está a reconstruir apenas uma equipa ou um plantel – está a reconstruir todo um projecto, desde a “basezinha” até ao topo. É que o projecto idealizado pelo Presidente Luís Filipe Vieira assentava na continuidade, na manutenção da chamada “espinha dorsal” da equipa e do génio táctico e criatividade técnica de Jorge Jesus e uma estabilidade financeira que dava uma imagem de segurança e poderio face aos demais clubes. Esta estratégia venceu nos relvados, venceu campeonatos, venceu adversidades várias…só está a ser vencida pela dura realidade dos factos exógenos ao fenómeno desportivo em sentido próprio. É que a execução do projecto de Vieira estava dependente dos fundos e das condições contratuais disponibilizados pelo BES – Ricardo Salgado assumia-se como o principal aliado do Presidente do Benfica. Como alguns já escreveram, o BES era o braço-armado financeiro do Benfica.
Evidentemente que, face a este contexto, o Benfica não terá capacidade para construir um plantel tão equilibrado como nos dois últimos anos, limitando-se a assegurar o cerne indispensável para construir uma equipa minimamente competitiva. E mesmo quanto ao onze inicial, o “pulmão” e o “coração” da equipa sairá nos próximos dias para que a SAD possa assegurar um encaixe financeiro para cumprir as suas obrigações. O que é muitíssimo grave é persistir o rumor de que o Benfica não dispõe de verbas financeiras suficientes para pagar os salários aos seus jogadores – e ao seu treinador. Será que Jorge Jesus se irá manter no cargo de treinador do Benfica até final da época – ou as repercussões do caso BES nas contas encarnadas ditarão o afastamento do treinador? Não será que Jorge Jesus, ele próprio, já se precaveu quanto ao cenário de incumprimento de realização dos seus créditos salariais pelo Benfica , aventando o cenário da sua saída se saíssem mais jogadores?
Face a esta conjuntura, só se vislumbra uma saída para o Benfica: (re)negociar com o Novo Banco o pagamento de obrigações que se estão prestes a vencer; procurar novos parceiros financeiros estratégicos, diversificando os seus financiadores para não ficar excessivamente exposto às contingências de um só grupo; apostar numa política desportiva mais integrada, com uma aposta mais forte na formação, não temendo arriscar no talento dos jogadores portugueses. Este é um caminho possível e, para o Autor destas linhas, ideal – mas implica, para a sua execução correcta, tempo. Muito tempo. E, portanto, vamos começar a temporada com um Benfica ainda a reestruturar-se internamente.
Note-se que não criticamos o Presidente: já tivemos a oportunidade de elogiar a sua capacidade de liderança, de persistência e a sua visão ganhadora para o Benfica. E não se pode responsabilizar Vieira pelos desaires da família Espírito Santo. E reiteramos os nossos elogios. Agora, a verdade é que o projecto idealizado por Luís Filipe Vieira morreu com o BES. Um adepto em Aveiro, em pleno jogo da Supertaça, é que resumiu com notável perspicácia o drama actual do Benfica: “somos o S.L.B = Somos Lixados pelo BES”. Pois…