Ora, manda a verdade que se diga que o difícil é desligar o seu nome deste processo judicial. Porque foram os seus amigos, pessoais e partidários, de Armando Vara aos Penedos, que foram apanhados em flagrante em crimes de corrupção e burla.
Porque foi no seu consulado à frente do Governo que se criou o clima político propício para se desenvolverem, sem entraves, estas negociatas ilícitas assentes no tráfico de influências.
E, sobretudo, porque fica por esclarecer a real amplitude e gravidade política do conteúdo das escutas, entretanto destruídas, das suas conversas com Vara.
Em 2009, o procurador de Aveiro e o juíz de instrução do caso Face Oculta decidiram extrair duas certidões visando incriminar, num outro processo, o então primeiro-ministro pela "prática de atentado contra o Estado de Direito".
Sabe-se que estaria em causa, nessas escutas, o controlo e manipulação de órgãos de comunicação social pelo Governo de Sócrates – visando a marginalização de órgãos e jornalistas ‘desafectos’, com esquemas como a compra da TVI pela PT, para calar as vozes incómodas dessa televisão. Nesses anos, no SOL sentimos bem na pele as pressões políticas e tentativas de asfixia financeira por parte do poder socrático.
Sabe-se, também, que o PGR e o presidente do STJ da altura, contrariando a investigação de Aveiro, consideraram que as escutas não justificavam a instrução de um processo criminal. Talvez por impreparação para lidarem com um caso tão inédito e complexo, ou por receio de que o país não tivesse condições para ver cair um 1.º-ministro às mãos da Justiça, ou por afinidade ideológica ou amiguismo (Pinto Monteiro e Noronha Nascimento fizeram questão, depois, de marcar presença no lançamento de um livro de Sócrates) – fosse lá pelo que fosse, o então chefe do Governo foi poupado a um processo melindroso.
Sócrates quer convencer-nos, agora, que nada tem a ver com o processo Face Oculta. E fala depreciativamente dos "pistoleiros do costume". Devem ser aqueles, seus conhecidos, que trocam robalos por sucata.