Após impasse de meses há Presidente no Afeganistão

A Comissão Eleitoral Independente declarou no domingo que o candidato Ashraf Ghani venceu as eleições presidenciais do Afeganistão. A primeira transição democrática da história do país concretizou-se após um longo impasse que terminou com um acordo entre Ghani e o outro candidato, Abdullah Abdullah.

Após impasse de meses há Presidente no Afeganistão

Esta eleição foi tudo menos pacífica. A segunda volta decorreu no dia 14 de Junho e Ashraf Ghani venceu com 56,4% dos votos, contudo Abdullah Abdullah acusou Ghani de fraude eleitoral, forçando assim a recontagem dos votos com supervisão da ONU.

Apesar de várias acusações e dos ataques entre as duas candidaturas o conflito acabou por ser sanado. Os candidatos assinaram, durante a manhã de domingo, um acordo para a formação de um Governo de união nacional.

 “É uma grande vitória para o povo afegão. Pela primeira vez, na nossa grande história, o poder foi transferido de um presidente eleito para outro graças ao voto da nação”, declarou o novo Presidente do país, esta segunda-feira.

Ghani foi ministro das finanças entre 2002 e 2004 e sucederá assim a Hamid Karzai. O antigo Presidente governava o país desde a intervenção militar ocidental, em 2001, contra os talibãs.

Abdullah será o chefe executivo, o equivalente ao cargo de primeiro-ministro. "O objectivo do Governo de unidade nacional é a paz. Estamos cansados ​​de sangue", afirmou Ghani.

Os últimos meses de tensão parecem ter ficado para trás. As rivalidades étnicas entre os tajiques do norte (apoiantes de Abdullah) e os pashtuns do sul (partidários de Ghani) já se começavam a intensificar. Foram estes antagonismos que levaram à guerra civil no país, em 1990, e que facilitaram a chegada ao poder dos talibãs, em 1996.

Tanto a ONU como os países ocidentais já elogiaram este acordo já que, até ao final do ano, o Governo terá que supervisionar a saída da maioria dos soldados da NATO presentes no país, mas também terá que estimular a economia de um dos países mais pobres do mundo. Hamid Karzai rejeitou-se a assinar este acordo de segurança com os EUA, algo que Ghani e Abdullah já se comprometeram a fazer.

 A NATO e os restantes países que participam na missão da ISAF pretendem retirar tropas, dos actuais 41 mil soldados para 12 mil.

Talibãs rejeitam pacto

 Os talibãs já vieram a público rejeitar este pacto de unidade nacional, acusando este de ser orquestrado pelos EUA. “ Os EUA têm que entender que esta terra pertence-nos e as decisões e os acordos têm que ser feitos pelos afegãos e não pelo secretário de Estado dos EUA ou pelos seus embaixadores”, disse o porta-voz talibã, Zabihullah Mujahid, em comunicado. “Prometemos continuar a nossa jihad até conseguirmos um governo islâmico puro”, concluiu o extremista.

Segundo a ONU, desde o início do ano já morreram mais de 2.300 civis devido ao conflito com os talibãs.

miguel.mancio@sol.pt